sexta-feira, 12 de julho de 2019

Nome nordestino e ilha esquecida por todos, prazer meu nome é ILHA DO RAIMUNDO.

Revista da Semana 1940 - enseada da ilha apresentando a pequena praia.



Uma bela noite estava em casa, olhando o Google Maps, buscando uma ideia para uma nova publicação, quando eu olhei para o litoral da Penha e vi duas ilhas, uma do lado da outra, mas a maior em destaque me chamou a atenção pelo nome: Raimundo, ta aí, uma coisa boa para pesquisar e apresentar ao público amante do Rio. Busquei algumas fontes em livros, jornais antigos e tive a colaboração do membro do IGHBI Cleydson Garcia, grande pesquisador da região.




O Rio como cidade nasceria oficialmente em 1565, porém a região habitada por portugueses e os primeiros cariocas se concentrava na região do Castelo e adjacências, o que conhecemos hoje como subúrbio carioca era ocupado, em seu começo, por tribos indígenas e aos poucos por jesuítas e é nesse momento que a história da ilha começa,

Essas fontes ligando a história da ilha aos jesuítas não são confirmadas em sua totalidade, porém vale ressaltar para efeito de possibilidade de ter sido ou não. Alguns dizem, e isso faz parte até de uma lenda que circula em volta da ilha, que os primeiros habitantes da ilha foram os jesuítas que ali construíram um convento e permaneceram ali até o Marques de Pombal baixar uma lei e expulsar todos os Brasil. Como não era possível carregar toda sua riqueza, o grupo enterrou uma grande quantidade de outro e joias preciosas na ilha, esse lance de enterrar riquezas era coisa de jesuíta mesmo, ou esquecemos de uma história parecida no morro do castelo?


Isso faz parte da lenda que sempre rondou a ilha, porém as fontes mais fidedignas e comprovadas é que ainda no século XVIII a ilha era conhecida como “Ilha Cardozo”, porém em 1760, ela foi vendida para o militar Alferes Raimundo Ferreira da Silva, seu posto era equivalente a um oficial, um tenente para ser mais exato, e ela pertencia a região da freguesia de Irajá
Revista da Marinha- 1990





O Sr. Raimundo possuía uma casa de vivenda coberta de telhas, senzalas, bananais, algumas árvores de fruto e quatro escravos de serviço. Lidava com a propriedade como se fosse um sítio insular no meio desta grande baía. Raimundo falecera um pouco antes de 1800, e sua viúva vende a propriedade para terceiros. (Cleydson Garcia) 



A Ilha do Raimundo tem 230 metros de diâmetro e possui uma elevação de terra de 20 metros de altura. A sua praia, tinha uma estreita faixa de areia branca e de bom calado para embarcações.
Essa história da ilha sempre atraiu curiosos e pessoas em busca da riqueza escondida. Nos anos 40, um grupo liderado pelo Coronel Albano Davi e os civis Francisco Lamyn e Júlio da Costa e Silva, que levantaram uma empresa com o único objeto de achar um grande tesouro que deixariam eles bilionários.



Fotos de trabalhadores abrindo buracos na ilha- anos 50.


Em 1943, o grupo já havia investido cerca de 1 milhão de cruzeiros, tendo encontrado apenas algumas moedas antigas de prata e cobre e poucos objetos sem muito valor. Passado o tempo, o assunto veio a tona novamente, porém o Tesouro da Ilha do Raimundo continua desafiando a imaginação de muitos.( Jaime Morais)

Nos anos 50, a procura do tesouro de intensificou ,moradores da ilha reclamavam aos montes pelos buracos abertos por aventureiros que desejavam o ouro e as pedras preciosa, tanto que o governo federal teve que intervir várias vezes e proibir a exploração.

A lenda sempre atraiu oportunistas e supostos herdeiros que alegavam ser donos de toda a ilha. Na reportagem do "A Noite " de 1939 vemos essa simpática senhora de nome Florença de Guimarães foi até a redação do jornal para contar sua história e buscar seus direitos como dona legítima da ilha. Anos mais tarde no "Diário Carioca" de 1953, um senhor de nome bem complicado , o senhor Chrystophoro Xavier entrou com uma ação na justiça reivindicando a ilha como uma herança dada por parentes, obviamente nenhum dos casos foi para frente.

A ilha acabou se tornando um enorme problema para o governo federal que decidiu vender a ilha e se livrar da dor de cabeça. Segundo o jornal "O Fluminense" de 1965, a União realizou um leilão em que a ilha foi arrematada por 20 milhões de Cruzeiros. 

A ilha também era usada para esportes aquáticos como linha de largada e chegada para barcos, lanchas e campeonatos de canoagem.

Foto de 1950 vemos o pescador na ilha segurando um peixe que infelizmente foi extinto na Baía de Guanabara. o Mero



Foto do Periódico "A Manhã" de 1946.


Anos 50 - A fauna e a flora da nossa baía se apresentava linda e bela

A Careta de 1943, mostrando um poema sobre o tal tesouro escondido .

A Noite de 1953- Outras informações sobre a ilha.

O governo deveria planejar um tour pela Baía de Guanabara, transformar o local num gigante polo turístico , algo de divertimento para a população e turistas, iria com certeza trazer investimentos para despoluir nossa sagrada Baía. Ilhas como essa conta a nossa história e deveria ser cuidadas e bem tratadas. Infelizmente desconhecemos nossa história, isso provoca a falta de cuidado com nossos bairros.




Essa reportagem é de um jornal de 1870, relatando a venda da Ilha de Santa Rosa, que fica ao lado da Ilha do Raimundo . Uma reportagem do mesmo ano relatou um achado de escravos fugitivos na ilha, que foram recapturados e castigados devidamente. 



16 comentários:

  1. Parabéns Paulo pela postagem. Excelente. O que estranho é que outras pessoas viram esta postagem mas não existe nenhum comentário. Fazer o que? Se fosse alguma fofoca sem graça haveriam muitos comentários.

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    1. Já dizia a minha vó "se não for falar o que preste, fica de boca fechada!"

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  2. De que bairro da ilha do Governador podemos avistar a ilha do Raimundo?

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  3. Muito bom!Morei na Penha por 20 anos e nunca ouvi falar dessa ilha!

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  4. Sempre ouvi falár sobre a Ilha do Raimundo que teria um tesouro enterrado pelos piratas. E também sobre outra pequena ilha perto chamada de Pedra do Anel ,ouviu falar? Um morador desta ilha era freguês da padaria do meu pai lá na Penha.

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  5. Quem passou por essa região em 1565(?) foi o francês Jean de Lery que veio com Villegagnon e deixou um livro.

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  6. Muito boa a reportagem. O RiotRio história para dar e vender.

    Ricardo Galeno

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  7. Nossa, nunca ouvi falar. Obrigada pelas informações.

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Seria legal se fossem organizados passeios pela zona norte, a exemplo do que ocorrem na zona central da cidade, para contagem das histórias dos pontos históricos que ainda restam, como a igreja e cemitério de Irajá, a própria ilha relatada, na UFRJ também tem algumas marcações da época das antigas ilhas, temos também a fazendinha de olaria, a igreja da penha, identificação da localização dos casarios antigos dos proprietários das terras que deram origem ao bairro... O que seria interessante também seria a formação de um grupo de estudos permanente e aberto, com reuniões periódicas, pra organizar, integrar, orientar e estimular os participantes... Vejo muitas ações de interesse na área, isoladas, a partir da iniciativa de pesquisadores, mas sem continuidade, parece que chega uma hora que cansam e param... O que é uma lástima para valorização da zona norte por seus próprios moradores, que em boa monta, carecem não só de qualidade de vida, mas também de consciência de sua própria história local.

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  10. Obrigado por essa pesquisa histórica do nosso Rio de Janeiro. Matéria muito bem feita com capricho e profissionalismo.

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  11. Deixe me apresentar.sou proprietária da ilha do Raimundo.meu a comprou em um leilão.tenho inclusive a escritura.tudo que se relata na sua reportagem e um pingo de tudo que existe de mapas..pecas e outros coisas extraídas de lá.caso queira mais informações favor me contactar.

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  12. Que matéria sensacional!?Como podemos incentivar mais matérias como essa?

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  13. Esqueceu de mencionar a terceira ilha que se chama ilha do cambambe, bem próxima

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  14. Pesquisei sobre isso hoje! Achei seu site. Muito legal. Obrigado por compartilhar.

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