UM PROBLEMA CHAMADO CORDOVIL.
O bairro de Cordovil
tornou-se um grande problema para a municipalidade e para o Estado. Nos anos
90, a cidade Alta era uma comunidade considerada tranquila, sem muitos
problemas ou tensões devido a invasões, tinha seus problemas, mas no geral era
tranquila. Seus moradores gostavam do clima e conviviam bem com os problemas.
De 2016 para cá, a comunidade vem sofrendo com invasões e
problemas com tiroteios e troca de facções. O bairro, consequentemente, sofre
com inúmeros assaltos e falta de uma estrutura descente de vida. Mas esses
problemas sociais, o bairro carrega desde seu nascimento.
https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2018/07/5554485-moradores-relatam-intenso-tiroteio-na-cidade-alta.html
Antes
fazenda, o bairro foi loteado para que pessoas de classe médias baixas pudessem
comprar seus terrenos e ali, construíssem seus bens e populariza-se a nova
região. Porém, como boa arte do subúrbio, o local foi loteado, terrenos
vendidos e sem a menor estrutura física para comportar os moradores. Problemas
de falta de água, luz, transportes e segurança sempre foram uma constante no
bairro
1926- reportagem mostrando os problemas gerais do bairro . |
Para entender esse processo convido a todos voltarmos no
tempo, na formação do novo centro da cidade, a grande reforma promovida por
Pereira Passos.
No livro “Evolução Urbana” Mauricio de Abreu ele mostra
todos os processos de evolução urbana da cidade, mostrando inúmeros fatores que
proporcionaram as obras de melhorias do centro e o afastamento dos pobres para
a Zona Rural carioca. O governo carioca sempre esteve ao lado das elites, e o
desejo das mesmas sempre foram estar próximos ao centro nervoso e econômico da
cidade, o que poderíamos pensar que, uma massa pobre e trabalhadores
incomodaria e impossibilitaria a existência de ambos no mesmo loca.
O modelo americano não foi implantado na cidade, modelo esse
que seguia regras bem rígidas, regras essas que os ricos são levados para as periferias
e a massa trabalhadora fica perto dos centros econômicos, possibilitando assim
a economia de passagens e moradias, e os mais ricos ficariam longe das
confusões e de contato constante com os operários. Já na cidade maravilhosa,
isso foi bem diferente, no nosso caso o núcleo da cidade é o local mais
importante da mesma, ela é uma região mais valorizada, e as periferias
apresentavam uma escassez de recursos e lugares descentes para as elites,
devido a isso, um trabalho em conjunto entre Pereira Passos e as elites,
promoveram um êxodo em direção a lugares como Cordovil, Brás de Pina, Ramos,
entre outros.
"Depois do
Golpe de 1889 o Rio de Janeiro vai experimentar uma grande evolução urbana,
locais até então consideradas zonas rurais vão aos poucos sendo incorporada a
cidade, sendo iniciado um processo de urbanização que vai trazer muitas pessoas
para regiões inóspitas. Quando falamos de bairros como Cordovil, Brás de Pina
entre outros, devemos atribuir seu surgimento principalmente aos trens, pois a necessidade
de lotear esses terrenos era urgente, pois o processo urbano da cidade
influenciado pelo capitalismo viu que o pobre não deveria ter lugar no centro e
nos bairros emergentes, que para a cidade evoluir, era necessário realizar uma obra de urbanização onde o pobre fosse afastado do lugar
de trabalho, já que com a nova visão de cidade, o custo de vida do centro seria
muito maior. A estrutura do espaço das novas cidades tem muito a ver com os
conflitos entre classes, a luta pelo domínio territorial, elitizar uma zona em
detrimento a outra, e como o governo recém-posto no poder apoiava os planos das
elites, foi o ambiente perfeito para a separação social definitiva.( Paulo, 2016).
“A estrutura espacial de uma cidade capitalista não pode ser
não pode ser dissociada das práticas sociais e dos conflitos existentes entre
as classes urbanas. Com efeito, a luta de classes também se reflete na luta
pelo domínio do espaço, marcando a forma de ocupação de solo urbano. Por outro
lado, a recíproca é verdadeira: nas classes capitalistas, a forma de
organização do espaço tende a organizar e assegurar a concentração de renda e
de poder na mão de poucos, realimentando os conflitos de classes”
(ABREU,2013,p.15).
Esse novo patrão de cidade divide o terreno em núcleo e as
periferias, onde esse núcleo concentra as funções centrais (econômica,
administrativa, financeira, políticas e culturais) e a periferia concentrando
as famílias de classe média baixa. Foi nessa conjuntura que a família Cordovil
viu a oportunidade de ganhar um dinheiro vendendo em definitivo suas terras
para Visconde de Moraes (1848-1931).
O velho visconde promove a venda de terrenos e o local foi
crescendo, as pessoas eram atraídas pela calmaria do lugar, um morro com um
pequeno lago, uma praia próxima e um grande rio que fornecia peixe a vontade
para os primeiros moradores. Mas o que os moradores não esperavam era o
completo abandono do poder público.
Água, luz, segurança e estradas, nada disso o bairro possuía
e, segundo os antigos, isso demorou muito a chegar, inclusive isso é constatado
nas reportagens dos jornais de época. As primeiras reportagens eram bem comuns
ver assaltos, pessoas invadindo casas e suicídios na linha do trem. Logo depois
vemos o problema que persistiu no bairro durante 20 anos (no mínimo).
A grande reclamação dos moradores era a falta d’água. Mas
isso não fazia o menor sentido pois o reservatório da Penha, inaugurado em 1914
estava numa distância pequena e seria o suficiente para abastecer o pequeno
povoado. Sendo que fiz uma pesquisa para descobrir o porquê da falta de água
com um reservatório tão perto e descobri que em 1920, devido a um erro humano,
houve muita pressão na tubulação que levava água até o bairro e a mesma
estourou, o concerto, pasmem os senhores, levou vinte anos para ser concertado,
nesse período, pouquíssima água chegava até o local, sendo necessário o uso das
famosas bicas públicas para o abastecimento de água.
Apensar de alguns periódicos mostrarem alguns melhoramentos
no bairro, os antigos sempre falam que o bairro, apesar de lindo, sofria de
carência de tudo e sua população se sentia cada vez mais abandonada. Alguns
relatos de visita de políticos, melhorias aconteceram mais não foi o suficiente
para tornar um bairro mais agradável.
O bairro hoje, nada mais é que o resultado do processo
histórico, algo que se arrasta lá do passado, que vem piorando a cada mês que
se passa. Os moradores e esse historiador que vos escreve, espera que o bairro
consiga, em algum dia, ser o tão sonhado bairro para sua população
trabalhadora.
1918- decreto municipal oficializando as ruas de Cordovil, isso iria trazer melhorias para o bairro.
Com a falta de água, foi necessário a inauguração de bicas públicas. Essa ficava onde hoje está a escada da estação de trem .
Foto doada pelo Tiago Bandeira, fundador da página Memória do Subúrbio Carioca e Jornais Antigos
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