quinta-feira, 19 de novembro de 2020

 

QUILOMBO DA PENHA: UMA HISTÓRIA ESQUECIDA.

 






Dia 20 de novembro estamos comemorando o dia da Consciência Negra. Não apenas possamos lembrar-nos do Zumbi dos Palmares, mas devemos lembrar-nos de tantos outros que lutaram para salvar a vida de seres humanos escravizados.

Podemos associar esse importante dia na história suburbana? Claro que sim! 

A negritude suburbana está presente em cada esquina, em cada rua e vivenciamos a construção de nossa cultura baseada na africanidade ancestral. O samba, a capoeira, as comidas são vestígios dessa cultura que foi implantada na nossa região.

Ainda conhecida como zona rural, o velho arraial da Penha teve um homem que lutou contra o racismo e a escravidão, desafiando os poderosos e a própria igreja, adquiriu terras e “recriou” um quilombo que tinha sido destruído em 1835, o Padre Ricardo tem profunda reação com esse quilombo e veremos essa história agora.

Engana-se quem pensa que a História do Quilombo da Penha se inicia apenas com o Padre Ricardo a partir de 1879. Segundo um registro feito, um juiz de Paz chamado João Marco  de Souza foi afastado do processo acusado de prevaricação , pois retardou o processo de acusação de negros que estavam fazendo arruaça no morro  do vai e vem , perto da região do morro da Penha, a ordem foi dada em 1835 mas devido problemas de ordem administrativa não foi executada, porém o quilombo foi destruído apenas em 1836.





A que consta o local ficou vazio até a entrada do Padre Ricardo na Basílica da Penha, ele congregou na paróquia entre 1879 a 1907 e foi sem dúvidas o padre mais importante da Igreja. Foi ele que revolucionou a festa da Penha, mandou abrir a rua dos Romeiros e foi um pedido dele a estação da Penha de trens, um homem que marcou a história da Penha. Mas seu feito mais importante foi com certeza a recriação do Quilombo da Penha.

Ricardo era um homem de princípios abolicionista e republicano, não concordava com o estio de governo monárquico, mas possuía boa relação com a família real, tanto que foi ele que recepcionou a comitiva da princesa Isabel quando a própria foi visitar a basílica. Segundo o Jornal do Brasil de 1928, ele também era empresário e dono de uma pequena fábrica de tijolos.

O padre percebeu que inúmeros negros passavam pelas terras da basílica e se escondiam no terreno, foi quando ele teve a ideia de criar um espaço para que essas pessoas pudessem se esconder, ao mesmo tempo foi tocando seu projeto , abrindo ruas aos arredores e solicitando melhorias para a região .

Na parte de trás do morro da penha, onde hoje está o parque proletário e parte da Vila Cruzeiro, existia uma velha chácara que o padre fez questão de comprar e transformar o local em residência para os escravos fugidos , ali ele fornecia água fresca, comida a vontade e deixava eles livres para cultuar sua ancestralidade. Após a abertura de algumas ruas, o padre colocou uma cruz em um determinado loca, a fim de abençoar e os moradores começaram a chamar a localidade  de “Vila Cruz” , mais tarde ganharia outro nome : Vila Cruzeiro! Inclusive a cruz sem encontra no mesmo lugar ( ou se encontrava), está na rua Sargento Ricardo Filho( informação tirada da página Vila Cruzeiro).Essa mesma Via Cruzeiro que já teve nome de Campo da Ordem e Progresso , que ganhou esse nome graças a um morador da localidade: Sr. Sebastião Benedito.

Para se chegar ao quilombo era só seguir pela Avenida Braz de Pina até em frente ao portal da Penha, ou subia a rua Nossa Senhora da Penha, ou entrava pela rua onde hoje está o Corpo de Bombeiros.

Os negros vivam em paz no loca, tanto que na festa da Penha, era comum ver eles no meio do povo, dançando e vendendo produtos de diversas origens. Muitos deles se juntavam aos pés do portal para dançar uma música que só eles sabiam, uma dança sensual e escandalosa para os padrões da época, dança essa que mais tarde daria origem ao samba, o famoso Jongo. A festa da Penha, por um breve período, foi democrática, onde brancos e negros dividiam o mesmo espaço e negros poderiam exercer a liberdade de falar, dançar e de viver!






Esse grande homem faleceu com 81 anos, segundo informações obtidas pelo que escreve, a igreja mal tem informações sobre o Padre e a única homenagem a esse grande homem foi o nome dado a uma travessa na Penha, um local pequeno e esquecido, ele merecia o nome em uma Rua né!

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