QUILOMBO DA PENHA: UMA HISTÓRIA ESQUECIDA.
Dia 20 de novembro estamos comemorando o dia da Consciência
Negra. Não apenas possamos lembrar-nos do Zumbi dos Palmares, mas devemos lembrar-nos
de tantos outros que lutaram para salvar a vida de seres humanos escravizados.
Podemos associar esse importante dia na história suburbana?
Claro que sim!
A negritude suburbana está presente em cada esquina, em cada
rua e vivenciamos a construção de nossa cultura baseada na africanidade
ancestral. O samba, a capoeira, as comidas são vestígios dessa cultura que foi
implantada na nossa região.
Ainda conhecida como zona rural, o
velho arraial da Penha teve um homem que lutou contra o racismo e a escravidão,
desafiando os poderosos e a própria igreja, adquiriu terras e “recriou” um
quilombo que tinha sido destruído em 1835, o Padre Ricardo tem profunda reação
com esse quilombo e veremos essa história agora.
Engana-se quem pensa que a
História do Quilombo da Penha se inicia apenas com o Padre Ricardo a partir de
1879. Segundo um registro feito, um juiz de Paz chamado João Marco de Souza foi afastado do processo acusado de
prevaricação , pois retardou o processo de acusação de negros que estavam
fazendo arruaça no morro do vai e vem ,
perto da região do morro da Penha, a ordem foi dada em 1835 mas devido
problemas de ordem administrativa não foi executada, porém o quilombo foi destruído
apenas em 1836.
A que consta o local ficou vazio
até a entrada do Padre Ricardo na Basílica da Penha, ele congregou na paróquia
entre 1879 a 1907 e foi sem dúvidas o padre mais importante da Igreja. Foi ele
que revolucionou a festa da Penha, mandou abrir a rua dos Romeiros e foi um pedido
dele a estação da Penha de trens, um homem que marcou a história da Penha. Mas
seu feito mais importante foi com certeza a recriação do Quilombo da Penha.
Ricardo era um homem de princípios
abolicionista e republicano, não concordava com o estio de governo monárquico,
mas possuía boa relação com a família real, tanto que foi ele que recepcionou a
comitiva da princesa Isabel quando a própria foi visitar a basílica. Segundo o
Jornal do Brasil de 1928, ele também era empresário e dono de uma pequena
fábrica de tijolos.
O padre percebeu que inúmeros negros
passavam pelas terras da basílica e se escondiam no terreno, foi quando ele
teve a ideia de criar um espaço para que essas pessoas pudessem se esconder, ao
mesmo tempo foi tocando seu projeto , abrindo ruas aos arredores e solicitando
melhorias para a região .
Na parte de trás do morro da
penha, onde hoje está o parque proletário e parte da Vila Cruzeiro, existia uma
velha chácara que o padre fez questão de comprar e transformar o local em
residência para os escravos fugidos , ali ele fornecia água fresca, comida a
vontade e deixava eles livres para cultuar sua ancestralidade. Após a abertura
de algumas ruas, o padre colocou uma cruz em um determinado loca, a fim de
abençoar e os moradores começaram a chamar a localidade de “Vila Cruz” , mais tarde ganharia outro
nome : Vila Cruzeiro! Inclusive a cruz sem encontra no mesmo lugar ( ou se
encontrava), está na rua Sargento Ricardo Filho( informação tirada da página
Vila Cruzeiro).Essa mesma Via Cruzeiro que já teve nome de Campo da Ordem e Progresso
, que ganhou esse nome graças a um morador da localidade: Sr. Sebastião
Benedito.
Para se chegar ao quilombo era só
seguir pela Avenida Braz de Pina até em frente ao portal da Penha, ou subia a
rua Nossa Senhora da Penha, ou entrava pela rua onde hoje está o Corpo de
Bombeiros.
Os negros vivam em paz no loca,
tanto que na festa da Penha, era comum ver eles no meio do povo, dançando e
vendendo produtos de diversas origens. Muitos deles se juntavam aos pés do
portal para dançar uma música que só eles sabiam, uma dança sensual e escandalosa
para os padrões da época, dança essa que mais tarde daria origem ao samba, o
famoso Jongo. A festa da Penha, por um breve período, foi democrática, onde
brancos e negros dividiam o mesmo espaço e negros poderiam exercer a liberdade
de falar, dançar e de viver!
Esse grande homem faleceu com 81
anos, segundo informações obtidas pelo que escreve, a igreja mal tem
informações sobre o Padre e a única homenagem a esse grande homem foi o nome
dado a uma travessa na Penha, um local pequeno e esquecido, ele merecia o nome
em uma Rua né!
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