IRAJÁ EM
1956- O SANTO NO MEIO DO INFERNO
Vocês já se
perguntaram como era o bairro onde você mora em um determinado ano ou época?
Entender o bairro atualmente é olha para trás e entender todos os problemas mal
resolvidos do passado.
Antes de
entrar e comentar sobre esse ano para ser esquecido pelo bairro, ler um pouco
como foi o início do bairro que até os anos 60, era considerado ainda um pedaço
do campo no meio da cidade grande.
De uma forma
bem resumida, o bairro pertencia a Freguesia de Irajá. Considerada a maior
Sesmaria do velho rio, as terras englobava boa parte do atual
subúrbio da Leopoldina até bairros da zona oeste. As terras foram concedidas a
seu pioneiro, Antônio de França e criou o Engenho de Nossa Senhora da Ajuda. As
atividades predominantes do velho engenho eram criação de gado, lavouras e
cana-de açúcar.
Com o
progresso e a expansão para o interior da antiga zona rural da cidade, as
terras da freguesia se tornavam bairro e deixavam de ser chácaras e fazendas.
De freguesia rural, Irajá se transformou uma freguesia suburbana devido a sua
proximidade do centro da cidade. Com a chegada dos trens e bondes, que serviram
o novo bairro, a expansão foi rápida, tanto é que em 1920, ao lado da freguesia
de Inhaúma, 1\4 da população moravam nessas áreas.
È importante
entender que o processo de expansão da cidade favoreceu a classe média alta e
os poderosos, já que seguimos o modelo francês de cidade, onde ricos, poderosos
e classes altas ficavam mais perto do centro e trabalhadores entre outros, eram
sistematicamente afastados para as periferias e zonas mais afastadas. O modelo
americano é considerado mais justo, se assim posso dizer, pois os ricos foram
em direção as periferias e a classe trabalhadora ficou próxima ao centro
econômico.
Mas falar de
subúrbio é falar de altos e baixos. A criação dos bairros passou por tantas
fases, em sua grande maioria com problemas sociais e estruturais graves que
quase nunca são solucionados.
Os anos 50
representou um momento grave do bairro, várias reportagens do bairro mostravam
os problemas latentes e que assolavam a localidade. Ainda considerado como zona
rural, Irajá enfrentava enormes dificuldades e será isso que iremos ver a
partir de agora. O texto foi escrito em cima de reportagens do jornal A NOITE
do anos de 1956, onde peguei 4 reportagens para mostrar as dificuldade
encontradas naquele ano.
A IGREJA E O
CEMITÉRIO
O que seria
pior para o bairro, “macumbeiros” ou assaltantes? Ambos eram problemas que
assolavam seus moradores. O jornal destacou o abandono da igreja da velha
freguesia e isso foi objeto de análise das reportagens.
O templo de
Irajá, que já tivera dias melhores e tinha sido até ponto turístico estava
vivendo um momento delicado. Muitos artistas visitavam o monumento para admirar
tudo que ali estava.
A mais de 14
anos, a igreja está sob o comando do padre Luiz Garrido, que lutava sozinho
para manter o local. Vivendo apenas de doação, as ricas famílias e pessoas com condições
não ajudava em nada a irmandade. Precisando de obras de manutenção, o padre e a
irmandade estavam desesperados sem saber o que fazer, campanhas aconteciam mais
não sensibilizavam os poderosos do Irajá e isso fazia com o que não apenas a
igreja, o cemitério sofresse com problemas sérios.
O problema
financeiro era grave, mais o pior disso tudo era a profanação de um lugar
religioso. Os “macumbeiros” e “feiticeiros” que cercam o Irajá não respeitam nem a morada
final. Ali, mesmo durante o dia, fazem seus trabalhos deixando um verdadeiro
rastro de sujeita por todo lado. A praça de frente a igreja virou um cemitério
de animais sacrificados, é galinha, porco, cabra, etc., Representações de
satanás espalhados por todos os lados, até o cruzeiro foi tomado. Se ficassem
nessa esfera, dava ainda para dar um jeito, porém os praticantes dessa religião
invadiam terrenos alheios e o cemitério
e li vaziam festival de danças e luxurias.
PROBLEMAS
COM A LUZ E A ÁGUA
Ao soltar da
estação de trem, os leitores percebem o problema logo de cara, a alguns passos
mais a frente: A falta de luz! O trecho entre as ruas Monsenhor Felix e
Automóvel Clube, as casas são bem arrumadas, lojas magníficas e calçamento com
bom nível, mas quando chegamos às ruas arteriais que encontramos os problemas. È
mato, valas e buracos para todos os lados. Na estrada do Fundão, onde
encontramos ainda grandes propriedades produtoras, moradores morrem de sede e
no escuro, pois nem água e luz chegam ali e um detalhe chama bastante atenção.
Na rua passa a canos que levam água para os bairros ao lado e instalações elétricas
passam bem perto também, ou seja, não há motivo nenhum para faltar esses dois
bens. A água é um problema muito sério. São três quilômetros de estradas e nada
de água e luz, a única coisa que ilumina as ruas são lampiões de querosene que
os próprios moradores colocavam.
EM DIA DE
FEIRA...
A antiga
feira de Irajá ficava na rua da estação, conhecida por vender frutas e
leguminosas fresquinhas, de uns anos para cá, também ficou conhecida como “feira
dos ladrões”. Umas chuvas de malandros frequentam o local, fixando-se no bar Progresso
de Irajá. Fantasiados para manter um padrão social local para não levantar
suspeitas, parecem uma quadrilha de tão organizados , escolhem suas vitimas e
assaltam , correndo pela linha do trem, o policiamento local ( quando há) não
consegue alcançar Cavalos criados a solta no bairro são usados para os assaltos
em dia de semana. Em bandos, entram na Automóvel clube e fazem uma limpa quem
passa por ali , jogando os cavalos para cima dos carros, onde o motorista é
obrigado a parar para não atropelar o pobre cavalo , mas acaba sendo roubado.
O TREM
Após voltas
por Irajá, convidamos o nosso leitor a fazer uma viagem até o centro do Rio com
a velha Maria Fumaça. À entrada da estação não informa os horários dos trens,
está mal conservada e suja e não oferece o conforto necessário para uma boa viagem.
A única coisa que vimos no guichê foi horários escritos “trens para cima e
trens para baixo”, para uma pessoa com pouco conhecimento, como adivinhar para
onde está indo? Descobrimos que o último trem passa ali as 23:22 ,se perder
esse, só as 04 hrs da manhã.
CONCLUSÃO
Mesmo cercado
por macumbeiros, ladrões e com sérios problemas estruturais, o bairro é um dos
mais prósperos do subúrbio do Rio D’Ouro. Se resolver todos esses problemas,
Irajá será um dos melhores bairros para se viver.
BIBLIOGRAFIA
1-LIVRETO
RIO BAIRROS – 2 EDIÇÃO – ROBSON LEITE – PRODUÇÃO AUTONOMA
2-DIÁLOGOS
SUBURBANOS- 1 EDIÇÃO- JOAQUIM JUSTINO, RAFAEL MATTOSO E TERESA GHILHON- EDITORA
MÓRULA
3-EVOLUÇÃO
URBANA DO RIO DE JANEIRO – 4 EDIÇÃO – MAURICIO DE A ABREU –INSTITUTO PEREIRA
PASSOS
4- FREGUESIAS
DO RIO ANTIGO- 1 EDIÇÃO – NORONHA SANTOS – O CRUZEIRO
5- JORNAL A
NOITE
6- JORNAL
DIARIO CARIOCA
7- JORNAL DO
BRASIL
Resgatar a história local sempre foi um trabalho super importante. Quando se trata do bairro de Irajá fica melhor ainda. Parabéns pela excelente postagem!
ResponderExcluirExcelente matéria! Quando puder, faz uma sobre o bairro COLÉGIO
ResponderExcluirPARABÉNS PAULO pela pesquisa!! Irajá merece toda atenção. Apesar do esquecimento histórico e a falta de investimento, ainda é um lugar bom de se viver... até porquê, o RJ como um todo não passa por bons momentos!!
ResponderExcluirEu li certa vez que tanto a igreja como o cemitério estão lá desde às sesmarias, tendo inclusive um sepultamento que remonta a época em que era área rural, de seu antigo proprietário... Li num trecho de reportagem há alguns anos... Acredito que há muita história ainda sobre o local que vem se perdendo, conforme os anos se passam e os moradores mais antigos falecem... O que torna ainda mais importante o trabalho realizado no blog, parabéns.
ResponderExcluirEspetacular show 👏👏👏
ResponderExcluirNasci ali na Rua Calmom Cabral em 1948,meu pai nasceu ali em 1919.Vivi ali até 1991, nunca fui assaltado, roubado ou vitima de qualquer ato desses. Talvez porque irajá não tinha morros.
ResponderExcluirEnfim minha familia, uma boa parte ainda mora por lá, e os antepassados foram sepultados em jazigos que existem no cemiterio de lá..Estou fora a trabalho. Voltarei pra lá se Deus assim o permitir.
mais uma vez a estrada de ferro rio d/ouro em evidencia atraves da foto de uma de suas composições,parabens pelo blog
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