O
Bairro estilo americano chamado Bráz de Pina.
O subúrbio carioca é renegado pela
história, conhecemos bastante sobre Copacabana, Centro e São Cristóvão, mais
por que deixar de fora todo o mecanismo que sustentava essa cidade antiga? Por
que esquecer a história da zona rural da cidade?
A nossa cidade se resumia a uma
pequena porção de aglomerados de casas que chegava no máximo até São Cristóvão
( isso até o fim do Império) os bairros que hoje está a zona norte
e oeste não passavam de gigantes fazendas e chácaras que abasteciam a cidade
urbana com todos os tipos de produtos. Mas por que renegar essa história? Será
que a zona rural não teve importância nenhuma, ou preferimos contar apenas a
história dos poderosos e ricos?
“... as cidades são virtualmente, se não de
fato, simples dependentes delas. (zona rural)...”
(Sérgio Buarque
de Holanda, Raízes do Brasil, pag.73)
Sim, de fato, nossas cidades eram
totalmente dependentes da produção de sua zona rural, a aceleração de seu
crescimento veio apenas no pós- república, antes disso, sua sobrevivência
dependia apenas do que a chácaras produziam.
Essas fazendas e chácaras pertenciam a
grandes homens que na colônia e no império dominaram o cenário político e econômico
de nossa cidade, famílias que influenciaram e que até hoje deixa raízes bem
profundas em nossa sociedade.
Hoje vou contar um pouco sobre o
comerciante BRÀZ DE PINA, homem de sucesso e principal responsável pela
construção do cais dos Mineiros, vamos viajar um pouco num Brasil colonial e
numa época que o subúrbio não passava de
campos verdes, praias desertas e plantações de café e cana até chegarmos nos
tempos atuais e notar o que de mais importante existe em Bráz de Pina.
Bráz de Pina: O homem
Mas por que um homem iria merecer uma
homenagem tão importante, um bairro com seu nome? Qual foi sua contribuição
para a história carioca?
Visconde de Bráz de Pina, filho de
Manoel da Silva Pina e Gracia Rodrigues. Casou-se com Luiza Bernarda Caetana do
Rego, uma das suas primeiras propriedades foi uma fábrica para queimar gordura
de baleia em Búzios fundada em 1749(Jornal À Pátria 1860).
O comércio de óleo de baleia, em
tempos de colônia e império, era extremamente lucrativo e a família Pina viu
ali uma oportunidade de crescimento e começou a expandir os negócios. Além da
fábrica de queima de gordura, adquiriu terras na zona rural da cidade, uma
fazenda que ficava as margens da Baía de Guanabara, local que se limitava a uma
estrada de ligação com Irajá (Quitungo), a fazenda dos Cordovil e os
territórios da Penha.
Bráz de Pina comercializada tudo que
poderia usar da baleia, mais principalmente seu óleo, pois era usado para
iluminar toda a cidade do Rio. Mas transformar para o produto era necessário
levar a carcaça até búzios (em alguns casos) para que lá fosse feito toda a
produção necessária para venda, mas um homem como Bráz de Pina não poderia
perder tanto dinheiro assim, então ele teve ideia de construir um Cais mais
perto e no local de venda de seus produtos. Foi então que ele investiu e
construiu o antigo Cais dos Mineiros, sim caros leitores, Bráz de Pina mandou
construir o cais dos mineiros. O
interessante é saber que antes, a região do cais era chamada Praia de Bráz de
Pina.
Segundo a revista Marítima do Brasil,
Bráz de Pina obteve a primeira concessão para a industrialização de pesca de
Baleia na Baía de Guanabara, sendo que sua primeira armação ficava na praia de
Bráz de Pina, onde seria construído o Cais dos Mineiros.
Pouco ainda se tem sobre o homem,
sabemos apenas que o contrato de comércio acabou em 1765 e que esse mesmo foi
arrebatado por um homem chamado Pedro Quintela que assumiu inclusive sua
fazenda na zona rural. Não se tem uma data precisa da morte de Bráz de Pina,
existiram descendentes até o início do século XX, inclusive um desses foi
velado dentro da capela de Lobo Junior, em sua chácara, onde hoje é o parque
Ary Barroso.
As Terras e suas características -
Ontem!
Para imaginar como era Bráz de Pina,
vou escrever uma série de reportagens de jornais da época que nos mostra as
características dessa terra fértil banhada pelo mar. Essa mesma terra que antes
era habitada pelos índios Tamoios.
“... Aviso: Quem quiser comprar um sítio,
vizinho ao mar, em terras de Braz de Pina, freguesia de Irajá, toda cercada por
espinhos, com casa de telha, plantação de
mandioca, de capim, mata fechada , água para beber...” (Gazeta do Rio
1815)
“...Quem quiser comprar um sítio com casas de
telha, plantação de café, pasto para animais, com um rio dentro da propriedade(
provavelmente o Arapogi), procurar no portinho, junto a propriedade de Bráz de
Pina o dono Fernando Luiz Barreto...”
(Diário do Rio, 12 de novembro de 1837).
Bráz de Pina, como podemos observar,
tinha características de fazendas do interior do país, não era a toa que aqui
era a zona rural da cidade, tinha plantações, gado, um rio que passava no meio
da propriedade e que era provavelmente usado para abastecer de água o local,
claro que não podemos esquecer-nos de citar os milhares de escravos que
trabalhavam ali, como se é registrado nas reportagens da “Gazeta suburbana” de 1880
e o mais interessante: era a beira mar.
A famosa praia da Moreninha, que os
mais antigos sempre se lembram dela com saudade e que também banhava o bairro, ela começava em
Cordovil e só terminava na Penha, na altura do que hoje é a faculdade Castelo
Branco, onde um pedaço dela era de propriedade particular do famoso Lobo
Junior.
As terras já passaram pelas mãos do
fazendeiro José Maria Esteves, que nos anos de 1860 ofereceu um pedaço das
terras para a construção do matadouro da cidade, dos mesmos maldes que do
matadouro da Penha, a beira do mar e perto do porto. José Maria tem registro de
sua existência no Almanak Administrativo mercantil e industrial do Rio de Janeiro.
Outro assunto importante a ser
abordado seria um dos mistérios que cercam os conjuntos da Guaporé.
Conjunto esse construído nos anos 60
para recepcionar as pessoas que foram arrancadas de suas casas de favelas da
zona sul, o local da construção desses conjuntos abrigava um convento jesuíta,
onde ali existia tuneis que ligava o convento a outras áreas como o arraial da
Penha e a igreja de Irajá, existia também a capela de Nossa Senhora da
Conceição , segundo fontes esses túneis foram inundados pelas chuvas, mais
existem até os dias atuais. Antes da inundação desses tuneis, os colonizadores
da região usavam eles para guardar os vinhos para consumo.
A divisa entre as terras de Bráz de
Pina e os Cordovis era o Rio Irajá e as fazendas eram cortadas também por uma
estrada que as ligava á freguesia do Irajá, estrada essa que existe até hoje e
serve como divisa ainda para os dois bairros: a estrada do Quitungo que
terminava a beira- mar (pressupõe-se que ela seguia onde hoje é a Avenida
SHULTZ WENK).
Onde hoje é a Rua Antenor Navarro, que
recebeu esse nome em 1933, no seu final existia um casarão de José Felipe Gama,
onde existia um pequeno porto e um armazém e esse local era chamado de Porto do
Gama (atualmente é uma ponte no rio Irajá que a população chama de “ponte do
gama”) esse armazém pertencia as terras do engenho de cordovil.
O engenho de Bráz de Pina ao longo do
tempo teve vários donos, como por exemplo, o espanhol filantropo Manuel
Cavanelas e o bispo Castelo Branco de Inhaúma.
O século das transformações: Bráz de
Pina se torna um bairro
O progresso chegou junto com ele à
destruição em massa das belezas de nossa zona rural. Durante esse processo,
grandes belezas naturais e físicas foram apagadas da existência. Mas o Brasil
estava em crescimento, o Rio Precisava se enquadrar no novo sistema de vida,
deveria se enquadrar ao capitalismo, e o primeiro sinal desse progresso foi o
trem.
Inaugurada em 1886, a estação no seu
início era feita de madeira e ficava em frente a rua santo Antônio , hoje rua
Oricá na antiga Vila Guanabara e hoje serve a Supervia. O trem foi um dos
responsáveis de ocupação em massa do que viria a ser o subúrbio, pois era de
interesse do novo governo republicano tirara classe mais baixa do centro
econômico e da onde seria a moradia da burguesia e habitar essas regiões ainda
em crescimento e sem estrutura nenhuma. Essa massa da população iria usar o
trem como principal meio de transporte para chegar ao centro econômico. Então,
entre os anos de 1914 e 1918, foi o intensificado esse processo de “imigração”
do centro para o subúrbio.
Devido a esse grande êxodo em direção
a zona rural, que uma companhia resolveu aumentar seu poderia econômico e
vender casas, na verdade construir um novo bairro ao estilo Neo-colonial, com
casa iguais, sem muros e com todas as ruas arborizadas , a intenção da
companhia era criar uma cidade estilo inglês , uma “cidade jardim”, quando as
obras ficaram prontas, apelidaram o novo bairro de “ princesinha do subúrbio”.
Essa companhia se chamava Kosmos do
proprietário Guilherme Guinle, o mesmo da família Guinle, família tão influente
no Brasil no começo do século. Essa companhia adquiriu terras nos anos 20 e
agilizou a construção desse novo bairro, a Vila Guanabara. Muitos consideram a
CIA uma grande empresa e que graças a ela, bairros como Bráz de Pina (Vila
Guanabara) e Vila Kosmos conseguiram se desenvolver mais rápido e assim povoar
a localidade.
Abrindo uma obs:
Guilherme Guinle, fundador do Banco
Boavista e Companhia Kosmos. A Construtora nasceu no RJ em 1882 e sua família
operava o Porto de Santos e o Copacabana Palace. Devoto de Santa Cecília mandou
construir a Igreja idêntica à original na Suíça, além do Hospital Gafree
Guinle. Participou do Governo Vargas na construção da Companhia Siderúrgica
Nacional ,inclusive sendo Presidente da CSN. Sua coleção de moedas e medalhas
da Época das Cruzadas e europeias, além de barras de ouro do Brasil Colonial
faz parte do acervo do Museu Histórico Nacional. Fez história como empresário e
benemérito nacional.
Quando ela comprou as terras, a
fazenda estava repartida em vários lotes e seus donos pertenciam da família dos
Gamas, Enes e Lobos (Lobo Junior).
A Cia investiu pesado na construção,
contratou todo seu corpo técnico da Europa, eles ficaram encarregados dos
projetos e execução da obra, todos os novos quarteirões foram projetados para
abrigar bosques de eucalipto, ornamentando as ruas com ipês, sapucaias e
flamboyants.
O bairro era tão lindo, perfeito que o
periódico “ A Noite” comparou Bráz de Pina ao Leblon e Ipanema.
No ano de 1929, era inaugurada em
estilo renascentista romana, a igreja de Santa Cecília, mais isso é um assunto
para o nosso próximo tópico sobre o bairro, vamos lá?
Os Pontos turísticos e por que não
Históricos!
Escola São Paulo
Prédio construído no final dos anos
30, início dos 40, não tem muitos registros sobre o colégio, requer uma
pesquisa mais aprofundada, porém achei duas coisas bem interessantes
pesquisando nos jornais antigos.
“Jornal dos Sports”, Quinta Feira,
28/06/1979: por ordem do órgão responsável pela educação a escola é fechada,
pois apresentava péssimo estado de conservação e estrutura.
Periódico “A Democracia” 17/03/1981-
Atrasos nas obras de recuperação obrigou a transferência de vários alunos para
outras unidades.
Colégio Nossa
Senhora das Dores
Colégio pertence a igreja católica,
tradicional da região , foi fundado em 1953 e sempre participou de desfiles
pela comunidade. A ideia de colocar um colégio desse porte no bairro foi do
Cardeal Leme.
Casarão de Bráz
de Pina (ou casa mal assombrada)
Segundo dizem foi construído durante
os anos 1920, por um alemão que morava nas Laranjeiras e, apaixonado pelos ares
suburbanos e quase rurais, resolveu construir uma residência na parte alta do
novo Bairro-Jardim.
Já as fontes oficiais apontam com
primeiro proprietário o Senhor Ruy Campista, grande fazendeiro e exportador de
café da antiga república do café com leite. Alguns anos depois, a casa foi
vendida para Othon Silva e Souza, dono do colégio Pedro I(depois Máximus e agora
CEI), que al adquirir o imóvel tornou o local referência social, com grandes
festas frequentadas pela elite carioca e sempre noticiada nos veículos
responsáveis pelas fofocas. Nas décadas de 50 e 60, era constante o casarão
aparecer nos jornais.
No meio dos anos 60, o senhor Othon vendeu
a casa para Mario Lessa, grande empresário. Realizou obras na casa, aonde veio
mudar janelas e as telhas, modificando um pouco o estilo inglês da construção.
Ele mandou construir um elevador no meio da casa para sua esposa Noemia, que
sofria do coração, porém, a obra não foi finalizada pois ela veio a falecer .
O atual dono é um senhor chamado Nildo
que comprou a casa para ele e a família, mais com a crescente onda de violência
ele acabou desistindo e colocando a casa a venda.
Cine teatro Bráz
de Pina
Inaugurado em 30/11/1937 o cine Teatro
Brás de Pina tinha capacidade para 1100 lugares em 1937 e 800 lugares em 1945,
era propriedade de: Cinemas Lux S.A., e encerrou as atividades em janeiro de
1967. Após o fechamento funcionou no local um supermercado e atualmente uma
Igreja Evangélica. Fonte: livro Palácios e poeiras, fotos: arquivo pessoal.
Tupy de Bráz de
Pina
A escola de samba tradicional do
bairro foi fundada no dia 25 de março de 1948, recebeu esse nome para
homenagear os primeiros habitantes do bairro, com cores azul e branco em
homenagem a sua escola madrinha, a Portela. Antes da Marquês da Sapucaí, as
escolas de samba desfilavam sua beleza exuberante na praça onze e não foi diferente com a tupi
que estreou na série 2 em 1956.
A escola surgiu de um bloco
carnavalesco e um time de futebol e nos seus primeiros anos desfilou apenas
pelo bairro.
Como escola madrinha, a Portela teve
atuação importante nos primeiros anos, ajudando com tudo que poderá ajudar a
pequena escola, tanto que um dos “cabeças”da Portela, Elton Medeiros foi um dos
fundadores do Tupy e ele sempre estava participando na escola de Bráz de Pina e
levando alguns artistas de renome do samba para a velha quadra. Outra figura
figura importante da escola foi o Zé Keti, que fez muito pela escola.
Sua antiga quadra ficava em frente ao
Paque Ary Barroso, em baixo do viaduto da Penha, onde hoje apenas encontramos
um muro com lembrança que ali teve uma quadra. Segundo alguns periódicos
existiu uma quadra ou a sede administrativa na Rua Gaiba 133.
A escola de samba sempre participava
de desfiles pelos bairros, festas dentro do Olaria F.C, na “princesinha do
subúrbio”, a praia de Ramos, pelas ruas do bairro, a escola sempre esteve
presente na vida e no cotidiano das pessoas.
Além da Praça Onze, o Tupy desfilou na
Rio Branco, intendente Magalhães e Marquês da Sapucaí .
A escola teve suas atividades
encerradas em 1997 voltando apenas em 2015, teve essa interrupção em sua
história devido ao grande problema da cidade: a violência. NA época, a quadra
ficava entre duas favelas, a Guaporé e o Morro da caixa d’ÁGUA, duas
comunidades de facções rivais, em época de festividades na quadra, o povo da
Guaporé não podia frequentar a quadra, então os anos foram se passando e a
escola perdendo força até fechar de vez em 1997.
Igreja Santa
Cecília e Brazão do Bairro
Brasão de Brás de Pina com
representação da Igreja Matriz da Paróquia de Santa Cecilia, foi construída
pela Cia imobiliária Kosmos, que implantou o loteamento da Vila Guanabara,.
A Igreja de Santa Cecilia foi
inaugurada em 08 de dezembro de 1929, tendo sido fundada na véspera a Paroquia
de Santa Cecilia de Brás de Pina.Os lampiões a óleo de baleia, representam a
luz que iluminava o Rio de Janeiro e era abastecida pelo industrial, fazendeiro
e senhor de terras Antônio Brás de Pina, que havia construído uma igreja para
N. S. da Conceição, que foi Benta em procissão em 12.11.1742 registro do livro
Memórias Históricas do Monsenhor Pizarro, tomo III, pagina 13. Localizada atrás
do Engenho de Braz de Pina, junto o Porto de Braz de Pina, junto o Rio Irajá,
na elevação do loteamento de 22.12.1932, da Vila Guanabara, PA-2048.
Cinema Santa
Cecília
Funcionou de 1937 a 1967 na Rua
Itabira 87 (depois 123). Começou com 800 lugares e, na década de 60 chegou a
ter 1363 lugares. A empresa exibidora era a Domingos Vassalo Caruso (até 1951)
e depois a Cinemas Unidos S.A.