terça-feira, 30 de novembro de 2021

   A HISTÓRIA MAGNÍFICA DO BONSUCESSO:

SALVEM O CLUBE SUBURBANO!



Até onde vai a identificação de um clube com o bairro? Sabemos que os clubes de bairros tiveram uma importância na formação da cultura do local que não podemos medir. Esses pequenos e médios clubes levam em seus tijolos, histórias, lendas, vitórias e lutas dos suburbanos , preservam através de fotos e reportagens , momentos que marcaram os moradores dos bairros, muitos ainda conhecidos na época como arrabaldes.

Antigos moradores guardam nas lembranças os bailes, campanhas de vacinação e jogos de todos os esportes que participaram ou assistiram nesses clubes. Inúmeros clubes infelizmente acabaram e com eles morreram muitas histórias que poderiam ser contadas e os que ainda sobrevivem ( ou tentam sobreviver) lutam a cada dia pela permanência dos associados e da estrutura construída com o suor e a mensalidade dos contribuintes.

Olaria, Madureira e Bonsucesso  representam o melhor do futebol suburbano. Poderia citar outros tantos clubes amadores que infelizmente sucumbiram ao tempo, mas minha intensão é exaltar um pouco da belíssima história de um dos clubes mais tradicionais do futebol carioca.

A meu ver, o futebol carioca possuí dez  clubes tradicionais que merecem todo o destaque no cenário carioca:  Flamengo , Vasco, Fluminense, Botafogo ,Bangu, São Cristovão, Olaria, Bonsucesso, Madureira, Campo Grande, com menção honrosa a Portuguesa e ao Canto do Rio. Esses clubes ajudaram a escrever a história do futebol carioca com maior destaque, mais jamais podemos esquecer aqueles pequenos clubes de bairro e de futebol que tanto contribuíram para o cenário suburbano.

Vamos viajar ao passado e conhecer um pouco da maravilhosa história do Bonsucesso que hoje está sendo maltratado por diretorias que não conseguiram reerguer o clube que até 2017 disputava a primeira divisão e hoje está mergulhado numa crise e amargando a quarta divisão.

 O começo ...





Para a torcida rubro-anil

Palmas eu peço

Na Leopoldina em cada esquina

Quem domina é o Bonsucesso

Lá surgiu um jogador sensacional

Surgiu Leônidas, o maioral!

 

Quando a turma joga em casa

A linha arrasa

Que baile... Que troça!

A torcida grita em coro

Não há choro

A vitória hoje é nossa

 

 Quando a turma joga em casa

A linha arrasa

Que baile... Que troça!

A torcida grita em coro

Não há choro

A vitória hoje é nossa

 

 Não poderia começar de outra forma , o hino do clube traduz bem a linda história dessa massa suburbana. Em 1913 , um grupo de rapazes decidiu criar um time de futebol, nesse período , diversos times amadores estavam sendo criados por toda a cidade , cada bairro tinha um ou dois clubes que praticavam esse novo esporte . No dia 12 de outubro de 1913 ,na residência do senhor Alamiro Leitão , um grupo de rapazes moradores da região de Bonsucesso , se reuniram e decidiram criar uma nova agremiação e todos eles decidiram que o primeiro presidente desse novo clube seria entregue ao sr. Francisco da Silva Leitão, pai do Alamiro.

O Clube rapidamente cresceu e não demorou muito para ganhar títulos de relevância. Diversos amistosos e jogos foram realizados com vitórias maiúsculas do time , demostrando que o time poderia alçar voos mais altos. Em 1918 , filiou-se Liga Suburbana e logo conquistou a segunda divisão da liga e em 1919, conquistou a primeira divisão da liga, e o time que marcou a história foi :

Mingote

Alamiro- Sinhô

Mathias-Bacharel –D.Julia

Flavio-Caballero-Doca-Martins-Basilio

O que mais marcava o clube , além dos jogadores , eram a diretoria que tirava do próprio bolso para o clube sobreviver e crescer, existe três notáveis que podemos destacar como os grandes homens da época: Ernesto Carneiro ,Coronel Araujo e o grande homem do bairro, o médico Teixeira de Castro.


Percebendo que a liga metropolitana ficou pequena para eles, em 1920, filia-se a Liga Metropolitana de Desportos Terrestres. O time a cada ano crescia assustadoramente e muito podemos atribuir também para o quadro de sócios, em suas grandes maiorias comerciantes do bairro que ajudava a sustentar o crescimento do time. Conquistou diversos títulos ao longo dos anos de 1922,1923 e 1924.

Em 1926 se filia a Associação Metropolitana de Esportes Athéticos (AMEA).Ingressando na segunda divisão da associação , logo mostrou força quando foi tri-campeão consecutivo: 1926,1927 e 1928. Quando surge a oportunidade de disputar pela primeira vez a divisão de elite carioca. Como campeão de 1928 , o Bonsucesso ganhou  o direito de disputar um play-off contra o último colocado do campeonato da primeira divisão , que foi o Vila Isabel, o vencedor participaria da primeira divisão de 1929, o time da grande Tijuca se recusou a jogar esse jogo , a comissão da Amea rebaixou o clube e promoveu o time do Bonsucesso , que disputou a primeira divisão desse ano e ficou em sétimo lugar. O jogo entre Bonsucesso x Vila Isabel foi marcado para o dia 15 de março , porém o Vila não compareceu e aconteceu o W.O.

E esse ano de 29 foi bom hein, o time de Volei do clube foi campeão da segunda divisão carioca, e iria disputar o campeonato da primeira divisão em 1930. A sede do time suburbano, a prática de esporte estava intensa. No local se pratica Futebol, Tiro, Atletismo , Racktball e Tênis , e ainda espaço para a prática de escoteirismo . Para quem tem curiosidade, a primeira sede do Bonsucesso ficava na rua Estrada do Norte ( Hoje Teixeira de Castro) 38,perto da estação de Bonsucesso e local conhecido pelos “sarais dançantes”.






Esse foi o time que disputou pela primeira vez o campeonato carioca :

MEDONHO

BADÚ-ARUBINHA

NICO- ERNESTO –CHININHA

CHINA-GRADINHA-EURICO

CAROLA-HEITOR-CLAUDIO-BIDA




Os primeiros dirigentes

Como já descrito no texto, o primeiro presidente do Clube foi Francisco da Silva Leitão ,cuja a residência foi cedida para a criação do clube , com toda a estrutura com campos e alojamentos.  Podemos destacar tantos outros pelos primeiros anos, mas marcaram a história do clube nomes como : Ernesto Carneiro ,Teixeira de Castro( que também foi médico do clube), Coronel José João de Araujo( que foi presidente de honra) e Manoel Lago.


                                  PRESIDENTE DO TIME EM 1930

Ao passar dos anos , outros foram entrando e acrescentando suas contribuições : Cesarito Cesar( ?),Caballero, Arceu Macedo, Manoel Vieira, José Jacinto ,Jair Guerra. Destacando o Teixeira de Castro , considerado o maior dirigente do clube de todos os tempos,  Castro esteve presente desde os primeiros anos de clube e só saiu por que infelizmente veio a falecer. Apesar de sua grande fortuna, sempre ajudou o clube e os jogadores, até usando do próprio bolso.

 


DIRETORIA DO BONSUCESSO EM 1930


MOMENTOS HISTÓRICOS

Um clube é feito de grandes momentos, acontecimentos que marcam para sempre a história do clube.  A segunda foto do quadro acima, mostra a primeira formação do time do Bonsucesso pós-fundação em 1913, uma foto magnífica que mostra os primeiros jogadores ( garotos) moradores do bairro , ergueram esse clube . Na foto acima vemos :

CANDIDO,ALAMIRO E QUIMQUIM,                           

BENÍCIO , GIOVANNI E JUREMA,

BOTELHO , PARAFUSO, QUINCAS, PEDRO E ANTONIO.


Em 1955, o Rubro- Anil fez uma excursão até a Bolívia , a sua primeira na história , e alguns dos jogadores famosos fizeram questão de ir ver a delegação na descida do aeroporto do Rio , Urubatão que foi jogar no Santos, Gilberto foi para o Fluminense, Valdir para a Ponte Preta e o grande Manga goleiro dos Santos. A campanha do Bonsucesso foi considerada boa :

Alianza Lima 1 x 1 Bonsucesso

Bonsucesso 3 x 0 Seleção Cocha Bomba

São José 2x1 Bonsucesso

Aliança 3 x 2 Bonsucesso




 Apresentando a todos o quadro do Bonsucesso , campeão da 2 divisão em 1921:

VIANA

ALMIRO- D.JULIA

MATIAS-EURICO E CATRAIA

FLÁVIO- MANOEL- CABALLERO-DOCA-RUBENS E ALBERICO .

A segunda foto mostra o time de Bonsucesso campeão de vôlei da segundona carioca, o mais interessante que os mesmo jogadores que praticavam o vôlei , boa tarde deles faziam parte do quadro de futebol. Os heróis do vôlei : DURVAL- FRANCISCO DE SOUSA,GRADIM,JORGE, FRANCISCO,Loló,FONTOURA E CLÁUDIO .



E se eu disse que o Bonsucesso já ganhou de um campeão da Liberadores? Claro que o Palmeiras ainda nem sonhava em ganhar algo tão importante e na verdade ainda se chamava Palestra Itália, mas em 1932, os dois times jogaram um amistoso em pleno Parque Antártica e o placar foi 3x1 para os suburbanos cariocas. Na foto vemos os jogadores-da esquerda para a direita, em pé: Vareta, Eurico, Leônidas( circulado e com a camisa do time-foto rara),Rapadura, Loló, Oto, Prego ,Marreco e Miro. Ajoelhados : Heitor, Catita,Cozinheiro , Durval, Claudio e Gradim( em destaque com circulo).

 








quarta-feira, 3 de novembro de 2021

 A EPIDEMIA DE GRIPE ESPANHOLA- 

RIO DE JANEIRO EM CALAMIDADE !

Essa não foi nossa primeira pandemia que enfrentamos! Nó século passado passamos pela epidemia de Varíola e Gripe Espanhola que ceifou milhares de vidas cariocas. Hoje vou mostrar a todos uma exposição de fotos publicadas pela revista FON FON, que mostra como essa epidemia foi desesperadora para a cidade. 

Existe relatos que os mortos do subúrbio eram levados empilhados em carroças puxadas á bois , existe fotos dos cemitérios do Caju , onde trabalhadores abriam várias valas e jogavam os corpos dentro.

Vamos conhecer um pouco da história dessa epidemia no Brasil antes de apresentar as fotos :

O trecho a seguir foi tirado do site: http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=815&sid

"No Brasil, a epidemia chegou em setembro de 1918: o navio inglês "Demerara", vindo de Lisboa, desembarca doentes em Recife, Salvador e Rio de Janeiro (então capital federal). No mesmo mês, marinheiros que prestaram serviço militar em Dakar, na costa atlântica da África, desembarcaram doentes no porto de Recife. Em pouco mais de duas semanas, surgiram casos de gripe em outras cidades do Nordeste e em São Paulo.


Tinha-se medo de sair à rua. Em São Paulo, especialmente, quem tinha condições deixou a cidade, refugiando-se no interior, onde a gripe não tinha aparecido. Diante do desconhecimento de medidas terapêuticas para evitar o contágio ou curar os doentes, as autoridades aconselhavam apenas que se evitasse as aglomerações.
As autoridades brasileiras ouviram com descaso as notícias vindas de Portugal sobre os sofrimentos provocados pela pandemia de gripe na Europa. Acreditava-se que o oceano impediria a chegada do mal ao país. Mas, essa aposta se revelou rapidamente um engano.

Nos jornais multiplicavam-se receitas: cartas enviadas por leitores recomendavam pitadas de tabaco e queima de alfazema ou incenso para evitar o contágio e desinfetar o ar. Com o avanço da pandemia, sal de quinino, remédio usado no tratamento da malária e muito popular na época, passou a ser distribuído à população, mesmo sem qualquer comprovação científica de sua eficiência contra o vírus da gripe.



Imagine a avenida Rio Branco ou a avenida Paulista sem congestionamentos ou pessoas caminhando pelas calçadas. Pense nos jogos de futebol. Mas, ao invés de estádios cheios, imagine os jogadores exibindo suas habilidades em campo para arquibancadas vazias. Pois, durante a pandemia de 1918, as cidades ficaram exatamente assim: bancos, repartições públicas, teatros, bares e tantos outros estabelecimentos fecharam as portas ou por falta de funcionários ou por falta de clientes.

Pedro Nava, historiador que presenciou os acontecimentos no Rio de Janeiro em 1918,  escreve que “aterrava a velocidade do contágio e o número de pessoas que estavam sendo acometidas. Nenhuma de nossas calamidades chegara aos pés da moléstia reinante: o terrível não era o número de casualidades - mas não haver quem fabricasse caixões, quem os levasse ao cemitério, quem abrisse covas e enterrasse os mortos. O espantoso já não era a quantidade de doentes, mas o fato de estarem quase todos doentes, a impossibilidade de ajudar, tratar, transportar comida, vender gêneros, aviar receitas, exercer, em suma, os misteres indispensáveis à vida coletiva”.

Durante a pandemia de 1918, Carlos Chagas assumiu a direção do Instituto Oswaldo Cruz, reestruturando sua organização administrativa e de pesquisa. A convite do então presidente da república, Venceslau Brás, Chagas liderou ainda a campanha para combater a gripe espanhola, implementando cinco hospitais emergenciais e 27 postos de atendimento à população em diferentes pontos do Rio de Janeiro.

Estima-se que entre outubro e dezembro de 1918, período oficialmente reconhecido como pandêmico, 65% da população adoeceu. Só no Rio de Janeiro, foram registradas 14.348 mortes.  Em São Paulo, outras 2.000 pessoas morreram."


FOTOS DA REPORTAGEM 

O que iremos ver fotos do ano de 1918, apresentando alguns aspectos do cotidiano da cidade no ano da epidemia .



A PRIMEIRA FOTO VENDO O DR CARLOS CHAGAS CONVERSANDO COM O PRESIDENTE WENCESLAU BRAZ SOBRE UMA MARCHA DE MILHARES DE PESSOAS EM DIREÇÃO AO POSTO DE SAÚDE DO MEYER - UM DOS POUCOS QUE EXISTIAM- . FOI REGISTRADA CENTENAS DE PESSOAS NAS FILAS PROCURANDO UMA SOLUÇÃO. 


Primeira foto de cima ,lado esquerdo: Edifício da Escola Rodrigues Alves situado no bairro do Catete, ali estava presente a Senhora Wenceslau Braz e família , onde praticavam uma boa ação : Fazia doação de mantimento aos mais pobres.

Segunda foto de cima, lado direito: a multidão de pobres esperando uma ajuda da primeira dama, o momento vivido era desesperador. 

Terceira e quarta  foto, parte de baixo : Senhora Braz socorrendo pessoalmente os mis necessitados , uma mesa cheia de mantimentos , uma comitiva ajudando e a distribuição pestes a começar .



Foto 1:Reparem bem essa foto :Caros Chagas e Oswaldo Cruz juntando forças para vencer a epidemia.

Foto 2: Escola Deodoro na Glória foi transformado em Posto de Assistência médica devido a falta de locais como esse pela cidade.

Foto 3 :A cozinha do colégio , no meio do "improviso" , preparando comida para os pacientes.

Foto 4 e 5: Como sempre a linha de frente se chama enfermagem. 



Foto 1: Mais um edifício transformado em posto de atendimento- como sempre o "jeitinho brasileiro" atuando : Escola Benjamin Constant , na praça 11. 

Foto 2: Grupo de enfermeiros se preparando para assumir o plantão .

Foto 3 e 4: fotos de como eram as enfermaria improvisadas as pressas: camas quase uma por cima das outras, mesas e cadeiras usadas para colocar material usado pela enfermagem.



O  retrato do desespero : Estamos vendo fotos do posto do Méier , a população desesperada atrás de medicação , o presidente Braz junto com os médicos Chagas e Oswaldo Cruz fizeram uma visita ao local e constataram o grande problema enfrentado pela população carioca Os mais pobres queriam apenas remédios e mantimentos.



Distribuição de caldo no quartel do Regimento de Cavalaria na Rua Frei Caneca.



Foto 1 e 2:Reparem bem nessas duas primeiras fotos: olha como era o quartel do Corpo de Bombeiros da Praça da República: uma construção rústica e aparentemente bem velha, mas esse local foi escolhido para guardar milhares de galinhas para venda , afim de ajudar as pessoas mais pobres. O outro local escolhido para venda foi a praia da Formosa ( fotos 3,4 e 5), onde a estação e instalações dos trens foram usados. E mais uma vez, milhares de pessoas esperavam ansiosos pelas galinhas .



 Hoje abandonada, o hospital Pro-Matre já foi de suma importância para a cidade. As duas fotos de cima vemos as instalações do local pronto para receber os pacientes .

Fotos de baixo: Mais um colégio transformado em posto médico : Escola Paroquial São José , no Engenho de Dentro .



A imagens dos cemitérios ,os mortos sem dignidade são simplesmente jogados numa vala 
rasa. Moradores da zona da Leopoldina reivindicavam um cemitério na região a tempo , daí nasceu a ideia de fazer um cemitério na Penha . Para enterrar seus mortos, ou ele se dirigiam a Irajá ou Inhaúma, o que em 1918 era uma verdadeira Guerra. Mas reparem na foto 4: Olha como os corpos eram transportados , num caminhão , exposto e sem nenhum cuidados 

Foto 1 e 2 : Movimentação intensa no Inhaúma e foto 3: uma grande vala e uns 10 corpos mais ou menos jogados sem qualquer cuidado.



Distribuição de esmolas nas escadas da Igreja da Candelária.




quinta-feira, 23 de setembro de 2021

 

UM VIADUTO E SUA HISTÓRIA: O MAIOR DA AMÉRICA DO SUL NA CAPITAL SUBURBANA!



 

O governo gosta muito de construir viaduto em anos. O sonho da construção do viaduto durou vinte e oito anos para acontecer. Assim como o Ana Nery, já pesquisado por esse blog, a construção de Madureira levou anos para ser concluído , com episódios de desvio de verba, expulsão de pessoas e comerciantes , desabamento no meio das obras, todos os elementos de uma obra “ com selo Brasil de qualidade”.

A história da construção desse viaduto que liga a grande Irajá a região de Jacarepaguá foi cercada por brigas, oportunidades de votos  e problemas pós construção, porém , sua trajetória como local de cultura e identificação com o bairro transcende gerações de moradores.

A minha primeira lembrança desse viaduto é quando meu pai trabalhava na antiga Telerj, na Barra da Tijuca. Saíamos de Vicente de Carvalho em direção a Cascadura e lá pegávamos o 755 Cascadura X Barra. Ele passava pelo viaduto, caracterizado pelos seus vendedores e pelo trânsito parado!

Nos anos 2000, cheguei a ir algumas vezes ao famoso baile charme do viaduto de Madureira, um verdadeiro patrimônio do bairro e da cidade, que desde 1993, traz alegria , cultura e mostra um pouco da cultura negra-suburbana! Mas a história é muito mais complexa que essa!

A ideia da construção do viaduto nasce em 1948  devido a uma reclamação constante do povo de Madureira. Antes disso, houve a eletrificação da estrada de ferro em 1932, com o número de trens por dia aumentou consideravelmente, o trânsito e a travessia pela cancela que existia ali ficou demorada e perigosa, para acessar a estrada Marechal Rangel – hoje Edgard Romero- era uma verdadeira luta e os acidentes ,constantemente relatados nos jornais de época. Infelizmente as obras iriam se iniciar oito anos depois em 1956, mas trouxe com ela muito problemas e brigas. È importante ressaltar que uma obra se iniciou em 1948, mas ela foi abandonada no mesmo ano , deixando um esqueleto incompleto largado para trás , esse mesmo esqueleto seria reaproveitado para as obras posteriores.

Como descrevi acima, as obras se iniciaram em 1956, porém já em 1954, o material para a construção do viaduto já estava lá pronto para uso e assim surgiu o primeiro problema: o roubo de materiais! Como deixaram boa parte do que seria usado para se iniciar e as obras demoraram a acontecer, uma parte desses objetos foi furtada, o que provocaria o aumento dos custos da obra, orçada em Cr$ 80 milhões de Cruzeiros até o presente momento. Fora esse problema, outro enfrentado foi o sumiço de Cr$ 5 milhões de Cruzeiros que do nada desapareceu dos cofres da obra. Uma investigação foi aberta, mas nada aconteceu.

Outro motivo de atrasos das obras foi a atuação direta do vereador Salomão. Apontado como o principal responsável por ter conseguindo a construção do viaduto, ele é apontado como benfeitor e malfeitor dentro de uma mesma esfera de sociedade. Salomão brigou com toda a câmara dos vereadores, brigou com o prefeito Edgard devido a mudança do traçado , brigou com deputados que pregavam a não construção do viaduto , chegou a organizar protestos com a população para não deixar parar as obras , uma pessoa bem atuante.


Mas Paulo, onde ele foi malfeitor?                                                                                         

Então, no início das obras, perto da onde seria construído o viaduto existia um grande comércio e casas de populares e , segundo reportagens de época, o poder público com presença dele , expulsou todos os moradores da região , sem negociar qualquer tipo de indenização . Outra acusação enfrentado pelo político foi  o desvio de verbas e materiais de construção, beneficiando amigos e familiares, essa denúncia foi feita por diversos jornais, mais acabou caindo no esquecimento completo .



Vinte seis anos depois ( POIS JÁ EM 1928 SE TEVE UMA TENTATIVA DE CONSTRUÇÃO), entre idas e vindas, finalmente o viaduto seria inaugurado no dia 22 de Setembro 1958. Na época foi considerado o maior viaduto da América do Sul feito com concreto , passou por várias administrações de prefeitos como Negrão de Lima e Adolfo de Almeida Aguiar. O viaduto começa na rua Padre Manso , atravessando por um elevado os leitos da Central do Brasil e Linha auxiliar, as ruas Carolina Machado e Carvalho Souza e termina na estrada Marechal Rangel ( atual Edgard Romero) na confluência com a rua Conselheiro Galvão . As obras foram um plano executado pelo Departamento de Estradas e Rodagens da Prefeitura e sua estrutura é formada por:

4 RAMPAS LATERAIS DE 1400 METROS

ÁREA PROJETADA 16.300 METROS QUADRADOS

AREA LIVRE DE 21.OOO METROS QUADRADOS PARA INSTAÇÃO DE PLAYGRAUND E JARDINS

E TEVE UM CUSTO TOTAL  DE cr$ 37.697.240,00, isso sem contar as outras verbas cedidas e desviadas.

Mas como tudo no  Brasil não é 100% confiável, menos de 15 anos de obra finalizada , o local já apresentava ferrugem das estruturas, rachaduras gigantescas nas laterais e vigas e diversos buracos nas calçadas e no asfalto , o que dificultava em muito a passagem .

Ainda em tempo e falando da obra, outro motivo de atraso foi as fortes chuvas que caíram na cidade em 1956.Parte da estrutura de pé desabou , ferindo operários e trazendo atrasos consideráveis para as obras .


O local também foi muito usado pela torcida do Botafogo ( anos 90) para saída de caravanas das torcidas organizadas em direção aos jogos, também já foi usado como local de moradia para diversas pessoas em condição de falta de moradia e também desfile, passarela do samba! Durante alguns carnavais, a Império Serrano desfilou pelo viaduto, mostrando todo sua alegria.

Hoje o viaduto está de pé, mostrando toda sua magnitude, já passou por diversas obras, tem uma estação do BRT, embaixo dele um intenso comércio informal, e o encontro de várias tribos da sociedade, convivendo de forma democrática nesse espaço, esse é o Viaduto Negrão e Lima, esse é o VIADUTO DE MADUREIRA!

 






 

 


domingo, 12 de setembro de 2021

 GALERIA DO PASSADO : BAIRROS EM FOTOS

CAJU PARTE 2!

Contando um pouco sobre o bairro , a origem do nome vem de antigas fazendas e chácaras da região que eram produtores de cajueiros . O primeiro habitantes ( sem contar os índios) do bairro foi o rico português José Gouveia Freire, mas suas terras foram compradas pela família real , para que o príncipe D. João pudesse tomar uns dos seus três banho que tomou em vida, já que as águas do caju eram consideradas medicinais.

A região era muito frequentada pela família real , até pela proximidade da Quinta da Boa Vista, relatos que D.Pedro I e II sempre eram vistos na região .

em 1839, o provedor da Santa Casa, o senhor José Clemente Pereira, instalou na Praia do Caju , o primeiro cemitério para indigentes da cidade. 

Como esse novo projeto deu muito certo , onde atingi mais de 100 visitas no texto do blog, hoje resolvi publicar a parte dois de fotos e reportagens sobre o maravilhoso bairro do Caju , que nos dias atuais infelizmente encontra-se abandonado pelo poder público e pela historiografia carioca que não olha para a importância desse e de outros bairros do subúrbio carioca. Vamos visitar o Caju em sete fotos, vamos lá? 


1- 1969 : JORNAL DO BRASIL - AVENIDA BRASIL E A FÁBRICA ABANDONADA 

O que hoje é um prédio caindo as pedaços e abandonados ao lado do cemitério do Caju, já foi uma grande fábrica e depósito de material de construção. O prédio contava com 2 elevadores , água forte , telefone e uma estrutura firme para aguentar toneladas de equipamentos .


2- 1969 CORREIO DA MANHÃ- O TRÃNSITO CAÓTICO E ETERNO 


Pressa , para que? A Avenida Brasil sempre teve esse problema e quando chega no Caju , ai que complica de vez, temos a subida da Ponte, já tivemos o acesso ao Gasômetro , a chegada a Rodoviária , muita coisa para uma parte que a pista perde tamanho. Quem nunca ficou parado nessa curva na altura do Caju? 


3- ANOS 60 - PONTA DO CAJU 



Toda vez que olho essa foto me vem um sentimento de perda, de como seriamos mais felizes com a Baía de Guanabara limpa e com nossas praias ainda ativa. A ponta do Caju talvez seja o local mais histórico do bairro , pois ali acontecia de tudo: Banho de fantasia , culto a Iemanjá, campeonato carioca de Remo , entre outras festividades e casos policiais .


4- 1940 JORNAL CARIOCA - CAJU E SUAS ÁGUAS 



A reportagem usa um termo pesado , mas que talvez traduza bem o sofrimento do povo com a falta do poder público. A cidade do Rio cresceu sem um planejamento, simplesmente saiu invadindo morros, mangues , pântanos e antigas chácaras, e a ausência do poder público foi apenas o início do processo que levaria a favelização e a poluição dos rios e da Baía de Guanabara. A ponta do Caju ficou conhecida como a "Veneza pobre", pois a "aldeia " e as casas invadiam o mar como vemos nas fotos.


5-1922 REVISTA FON FON - PRESIDENTE NO CAJU!


Epitácio Pessoas estava sendo apresentado aos novos planos e estaleiros construídos no Caju. È difícil imaginar alguma autoridade desse calibre nos dias atuais no local?


6-1923 PRAIA DO RETIRO SAUDOSO 


Essa praia abrigava o HOSPITAL SÃO SEBASTIÃO!
"Até 2017, ele abrigava pacientes com casos de febre amarela, mas suas instalações estavam resumidas a um prédio velho com poucas condições de uso. Com mais de 130 anos de história, hoje funciona no quarto andar do Hospital dos Servidores. Inaugurado ainda no Reinado de D. Pedro II com uma festa monumental, já teve 500 leitos e foi sistematicamente desmontado até que 2008 foi retirado do local e passou por 3 locais antes de se estabelecer nos servidores. O que resta lá –até 2017- são instalações antigas, com “pacientes moradores” que sobrevivem num local sem condições e abandonado pelo governo do estado. Mas a intenção do texto é mostrar o hospital nos seus melhores dias, quando ele ficava de frente a praia do Retiro saudoso no Caju e que cuidava da população mais pobre. As fotos e a base do texto foram retiradas do periódico “VIDA DOMESTICA DE 1930."



7-UM CONJUNTO DE FOTOS 

1909 - ASILO PARA IDOSOS



1919- CEMITÉRIO DO CAJU 



1919 PRAIA DO RETIRO SAUDOSO 





quinta-feira, 2 de setembro de 2021

GALERIA DO PASSADO : FOTOS DE UM CAJU ANTIGO .

Esse novo projeto que estou iniciando é uma pequena exposição de fotos antigas dos bairros do subúrbio carioca. As fotos recolhidas e mostradas aqui são pesquisadas por que vos escreve e a grande  maioria foi eu que procurei , cortei e editei. 

O intuito desse trabalho é despertar o interesse pela história do Rio, cultivar o amor pelos bairro e mostrar o quanto perdemos ao longo dos anos devido ao "progresso" Vamos viajar no Caju de antigamente...

foto 1: Era bem comum acontecer eventos nas águas do Caju. Aqui vemos uma foto de 1936 onde uma comunidade evangélica está a batizar 16 novos fiéis  . Isso nos dias atuais é inimaginável .




Foto 2: Echo Popular 1869: Uma das grandes perdas da cidade foi o não investimento em transportes fluviais , imagina se tivéssemos mantido os pequenos portos ao longo da Baía de Guanabara e pudéssemos chegar ao bairros Leopoldina .Barcas e botas pelo preço de 300 réis em direção ao cemitério do Caju. 


Foto 3:1919 - o TICO TICO: O banho a fantasia fez parte do calendário oficial do carnaval carioca até 1978.As praias eram usadas como passarelas do samba, registros desses banho no Caju, Maria Angú , Inhaúma e Ilha do Governador. Possuía regras e um campeonato valendo pontos para melhor fantasia Rei momo e políticos sempre compareciam a esses eventos .Participavam clubes e escolas de sambas numa grande alegria em conjunto


Foto 4 : 1919 PARA TODOS : Um tempo que o Caju era local de diversão , de cuidar da saúde e de estaleiros , trazendo empregos e investimentos para o local .



Foto 5: Praça de esportes e campeonatos de Remos, muito comum ver clubes tradicionais no local. 



Foto 6: O MALHO 1919 PRAIA DO CAJU - Vamos fazer uma reflexão em cima dessa foto :  O que perdemos? Observem bem como a praia do Caju era cheia , lotada, com as famílias vestidas para um grande evento , pessoas felizes por ter uma praia tão perto. Lembrando que até o século XIX , as praias era frequentadas apenas por negros que faziam ali sua moradia e lugar para diversão. Também há registro de pessoas mortas jogadas nas areais das praias. O local também era usado para religiosidade , ao culto de Iemanjá. 

Foto 7:JORNAL DO BRASIL 1989-Esse é um dos bens ou pontos históricos mais importantes da região suburbana. A casa de banho de D.João sempre teve problemas de abandono e invasões . Mesmo nos dias atuais tendo sua administração ligada a Comlurb , ela parece mais com uma casa velha e mal cuidada do que um pequeno museu de limpeza urbana .





Foto 8: EU SEI DE TUDO 1949 - O que temos no Caju hoje? O que esperar do poder público que ajudou a destruir um bairro tão nobre e importante !



Esse é o primeiro tour virtual de fotos do blog, em breve veremos outros bairros com outras fotos, reportagens e curiosidades . Esse trabalho é feito para vocês que desejam conhecer o Rio Antigo , o Rio de verdade . 


SITE QUE FALAM SOBRE O ASSUNTO CAJU : 

1- https://diariodorio.com/breve-historia-do-bairro-do-caju/
2-https://www.anf.org.br/o-complexo-de-favelas-do-caju-e-a-sua-historia/
3-https://www.webquarto.com.br/guia-bairros/24147/caju-rio-de-janeiro-rj
4-https://oglobo.globo.com/rio/artigo-os-21-cemiterios-do-rio-de-janeiro-suas-curiosidades-14011826