sexta-feira, 17 de agosto de 2018


Resgatando a História Suburbana:  O Matadouro da Penha!


A dificuldade de resgatar a nossa história através de pesquisas em fontes secundárias traz um pensamento crítico a nossa atual historiografia: Existe um descaso gritante com a “cidade verdadeira”, a cidade do Pedro, do João, da Maria, da Amanda, dos trabalhadores e moradores que se deslocam horas para chegar ao trabalho.

A construção do passado, a consulta a memória e a pesquisa em fonte secundárias e primárias são partes essenciais do trabalho do historiador, assim como uma leitura critica e imparcial. 

A distribuição de carne de nossa cidade passou por transformações durante os 500 anos do Brasil e os 450 e poucos anos do Rio de Janeiro. Nos primeiros anos da cidade, a carne era trazida das fazendas dos jesuítas, em direção aos portos existentes na Baía de Guanabara e na beira dos gigantes rios, eram abatidos e transportados para a parte metropolitana do Rio, um exemplo que podemos citar seria o  Rio Irajá, 
Conforme a cidade foi se expandido e crescendo, foi necessária a criação de locais de matança e produção de animais para abastecer a cidade.  Tivemos Matadouro em santa Cruz, Praça da Bandeira, importantes centros de distribuição. Mas irei focar no Matadouro esquecido por muitos, fonte de intrigas, problemas e fiscalizações, palco de roubos e assassinatos, porém orgulho para o dono e moradores de Penha e Olaria.





Quincas Leandro e Custódio Nunes 



Antes de falar do empreendimento, vamos falar um pouco sobre os homens responsáveis pela criação, construção e crescimento do matadouro e sua relação com os bairros.
 As terras, que hoje formam o bairro de Ramos, pertenciam à família Fonseca Ramos, que cedeu uma faixa para colocar o trem, mas com a condição de fazer uma estação para a família quando essa viesse passar o fim de semana no sítio. Antes, era de São Francisco Xavier direto até a Penha.


Ramos faz parte de uma área montanhosa, atrás do Morro do Alemão, tem uma série de serras, a serra da Misericórdia, por exemplo. Quando aconteceu o milagre de Nossa Senhora da Penha, em 1634, o governador da época deu uma faixa de terra para a Santa Casa de Misericórdia, que a abandonou. 

Tem o Morro de Caricó e outros que tem atrás do Morro do Alemão, que vão da Penha até Inhaúma. A área do Morro do Alemão pertencia à família Ferreira Rego. Existe um documento que mostra que ela comprou a área, assinado em 1821 e consta no Arquivo Nacional que estas terras pertenceram a esta família desde os tempos do Império até 1910. 

A fazenda da família Rego era dedicada a criação de gado e a lavoura, mas logo perceberam que as terras adquiridas eram férteis e o que se plantava , se colhia com grande qualidade. Os integrantes da família também descobriram que parte de suas terras possuíam um tipo de terra vermelha, ótima para fazer tijolos, então pensando em expandir a localidade claro, visando o lucro, abriram várias olarias na região para a venda dos mesmos. Com a ajuda de todos, Antônio João Rêgo e Joaquim Rêgo prosperaram muito. Com o comércio lucrativo, outras olarias de outros empreendedores foram surgindo e a região ficou conhecida como “Olarias”. 

Mas não só de cultivo, tijolos e gado viviam os Rêgos, seus descendentes fizeram parte de suas riquezas como importantes comerciantes e funcionários públicos , sendo que a mais importante pessoa da família foi a D. Leopoldina Rego ,que fundou , em 1900 , a primeira escola da região , onde hoje é a Rua professor Lacé que, inclusive , pe seu primeiro diretor. A Escola hoje é conhecida como Padre Manoel de Nobrega.

Joaquim Rego morreu em 1896, sua viúva vendeu para o Joaquim Leandro da Mota (Quincas Leandro) por 40 contos de réis, 440 mil metros quadrados. Pegava da Rua Diomedes Trota até a Rua Antônio Rego, com frente para a Rua Uranos, o lote tinha 880 metros, cobria o morro do Alemão, o morro do Coricó, Itararé, Itaoca. E ele então urbanizou, abriu as ruas, colocou os nomes das famílias.
Um ato interessante do Quincas foi noticiado no “Jornal do Brasil do ano de 1926”, onde é relatado que ele sede um pedaço do terreno da invernada do corpo de Bombeiros de Olaria para o uso do grupo de Escoteiros do Brasil, para as suas práticas.

 Custódio Nunes era um típico comerciantes leopoldinense que desejava expandir o seu comércio e seu dinheiro, queria ter um negócio maior, algo que iria trazer um futuro financeiro estável.  Ele possuía também algumas terras pelas bandas de Ramos e Olaria e m 1892 conseguiu permissão do governo municipal uma autorização para abater uns bois para comercializar alimentos frescos em seu açougue.

Custódio Nunes, como dono de algumas terras entre Ramos e Olaria, ajudou no crescimento e loteamento do bairro, ele fez uma feitoria que até hoje está presente no bairro: Ele doou o terreno para a construção da Igreja de São Geraldo, onde fica o estádio do Olaria atualmente, já foi campo de guardar os bois. Ele abriu a Rua Filomena Nunes ( filha dele). Ele também abriu a rua Dr. Nunes( seu filho), a Rua Rosalina, Carlina e Noêmia Nunes. 




O Matadouro



Custódio Nunes, um próspero comerciante da zona da Leopoldina adquiriu um lote alugado de terra na Penha, do lado da fazendinha e, em 1892, conseguiu uma permissão junto a municipalidade para abater seis cabeças de bois por semana para ser vendido em seu açougue ( segundo o jornal “O Paiz”, o matadouro existia desde 1897). Criou um pasto e ali começou a criar os primeiros bois. A cidade carioca contava apenas com um matadouro oficial, que ficava em Santa Cruz, a carne era encaminhada pelo trem até o frigorífico de São Diogo, que tinha como chefe o senhor Quincas Leandro, que tinha adquirido algumas terras da família Rego.

Um dado contraditório seria uma reportagem do jornal “ A CIDADE DO RIO”, de 30 de dezembro de 1899, que mostra uma briga entre Custódio Nunes e a municipalidade. O senhor Custódio teve problemas com a justiça, segundo o município , o pequeno açougue não estava autorizado a matar os bois, apenas comercializar, alegaram que o senhor Custódio não obedeceu ao contrato. Ou seja, essa fonte nos mostra que o matadouro obteve autorização para matar os bois pós 1899 e não assim que sua existência e tornou oficial em 1892.
curral -1913

A permissão temporária foi estendida para os anos a frente, o que permitiu o crescimento do número de cabeças de gado e a frota de carroças para transporte. Essa expansão possibilitou também averba necessária para Custódio comprar uma boa parte da grande fazenda da Penha, essa área foi destinada para campo da boiada e o local ficou conhecido como “Invernada de Olaria”, que anos mais a gente, frequentou muito as páginas policiais, tornando-se um local perigoso e de domínio da bandidagem. 


Em 1902, o então dono prospero Custódio ,vendo seus negócios em expansão , percebeu que precisava de um sócio capacitado que pudesse ajuda-lo a transformar o modesto matadouro , no líder de distribuição de carne bovina, foi por esse motivo , ele convida o chefe o frigorífico de são Diogo , Quincas Leandro para comandar os trabalhos. Ambos ficam ricos com o negócio e começam a adquirir terras em volta para aumentar ainda mais os negócios e a renda. Quando Custódio morreu em 1916,Quincas chama para se associar o Capitão Goulart e assim criaram os “ Irmãos Goulart S.A .
Além em empresa, a Goulart S.A teve um time de futebol amador, era o time de funcionários da empresa, jogavam todos os sábados com os moradores locais. O terreno de treino ficava na rua Bariri e pertencia a Dona Noemia Nunes, filha de Custódio , que mais tarde doaria as terras para a construção da sede administrativa e esportiva do Olaria.


Escudo do time

O time Goulart teve um grande momento, apesar de ser um time amador, o time do Matadouro teve a honra de conquistar o Campeonato do Departamento Autônomo de 1956, campeonato amador da federação carioca. O time foi criado em 1916, mas foi registrado oficialmente para participar das competições a partir de 1932.

O terreno do Matadouro ficou enorme, procure imaginar algo que pegasse todos os prédios do atual IAPI, o campo do Olaria até atrás do mercado extra, metade até o caminho de Ramos , realmente foi um local enorme .






O crime da Fera


 
O texto é de autoria exclusiva da página, por ser um conteúdo completo sobre o assunto, resolvi anexar no meu texto, dando o devido crédito.

“Era a manhã de um feio e frio dia 30 de junho. As pessoas se movimentavam rumo ao trabalho, e a cidade estava despertada há muito, exatamente como toda metrópole que se preze. As pessoas que trabalhavam ou no próprio local, ou nas imediações do matadouro do bairro da Penha, já se encontravam em seus postos e já tinham iniciado suas atividades quando gritos e correrias começaram a chamar a atenção de todos. Ninguém entendia o que estava se passando, mas, quase todo o mundo deixava seus afazeres para saber o que efetivamente acontecia. Até que tudo começou a ficar mais claro. Chocada, a maioria das pessoas próximas ao local foi informada de que, em um terreno baldio, ali pertinho, fora encontrado o corpo de uma criança, ainda sem sexo definido, todo queimado e irreconhecível. A brutalidade da cena chocou até os homens mais rudes acostumados com a matança de animais no abatedouro do bairro, ninguém entendendo como podia ter acontecido uma barbaridade daquela, com uma criança que aparentava, talvez, cinco anos. Logo se saberia, porém, que a criança era um garota de quatro anos, que seu nome era Tânia Maria e que, antes de ter seu corpo incendiado, levara um tiro à queima-roupa na cabeça.

O triste acontecimento se torna um prato cheio para a imprensa. A notícia chegou à população em grandes e dramáticas manchetes, dividindo os noticiários com as eleições de outubro próximo, com a escolha da “Miss Brasil” de 1960, ainda com o caso Aída Curi, com o Crime do Sacopã e com uma estranha história que dava conta de que o mundo iria se acabar no dia 14 de julho próximo. O drama real do assassinato da garota virou uma tragédia, daquelas que sempre povoavam o mundo de Nelson Rodrigues.

Assim que acionada, a polícia não teve muitas dificuldades de chegar ao assassino. À assassina, na realidade. Seu nome, Neide Maria Lopes, idade, 22 anos, estado civil, solteira, profissão, comerciária, motivação do crime: ciúme e vingança. Logo, em menos de vinte e quatro horas, toda a imprensa noticiava a prisão e confissão de Neide, a partir de então conhecida como “Frankenstein de Saia”, “Mulher-Fera”, “Besta-Humana” e, posteriormente, pelo cognome que mais colou à sua figura, “A Fera da Penha”.

Neide Maria, solitária e recatada, conheceu Antônio, motorista de profissão, em uma estação de trem; o rapaz, em pouco tempo de conversa, percebe que aquela moça tímida era uma presa fácil, iniciando, ali, um romance daqueles típicos do início da década de sessenta. Neide estava esperançosa de terminar seus dias solitários, já que Antônio, além de educado, lhe pareceu uma pessoa honesta, digna de confiança. Tornam-se amantes, mas com promessa de casamento, assim que as condições o permitissem.

Até que a dura realidade abriu seus olhos: após cerca de três meses de namoro, encontrando-se, praticamente, todos os dias, ela descobre que Antônio lhe escondia o fato de que, além de casado com uma mulher de nome Nilze, ainda tinha duas filhas pequenas. Nessa época, namorar um homem casado era fatal para qualquer garota, principalmente quando o fato era descoberto por amigos e vizinhos. Seu nome “caía na boca do povo”, conforme se dizia.

A descoberta desse fato despertou-lhe os mais baixos instintos humanos; sentiu-se traída pelo homem em quem confiava, além de jogar por terra todos os seus sonhos de ter um bom homem ao seu lado por toda a vida. Resolveu colocar Antônio na parede: ou a família ou ela. Sem discussão.
Só que Antônio foi empurrando o caso com a barriga, prometendo, ao longo dos meses, que iria abandonar a mulher, que não aguentava mais, que tudo era uma questão de tempo, que havia o problema das crianças, que ela tivesse paciência e assim por diante. Nada ignorante, Neide logo ficou convicta de que seu namorado nunca iria abandonar sua família, que seus sonhos nunca se realizariam. Sua ira começou a se transformar em uma forte convicção: iria se vingar da afronta de Antônio de uma forma que ele, ao longo de sua vida, nunca mais esqueceria.
Seu primeiro passo foi se aproximar da família do namorado. Conseguiu enganar Nilza, dizendo-se ser uma antiga amiga do colégio, ganhando sua confiança e começando a freqüentar sua casa. Sua educação e boas maneiras conquistaram Nilza, as duas iniciando uma relação de amizade. Sabendo pela rival que Tânia Maria era o xodó do pai, imediatamente se convenceu de que a menina seria o alvo de sua vingança. O destino da garotinha ficou, assim, determinado.

Conhecendo a rotina da casa do amante, principalmente os horários em que as duas garotas iam e vinham do colégio onde estudavam, ela bolou um plano diabólico: fazendo-se passar por Nilza, Neide telefonou para a escola, dizendo que Tânia teria que voltar mais cedo para casa e que uma vizinha iria passar por lá para pegar a garota. O pessoal da escola de nada desconfiou, e Neide saiu com Tânia aparentemente despreocupada. Qual não foi a surpresa de Nilza, sua dor, ao ser informada, mais tarde, quando levara o lanche da garotinha, de que Tânia não se encontrava por lá, que saíra mais cedo exatamente como ela havia pedido ao telefone. Reconheceu as feições de Neide conforme descritas pelo pessoal da escola.

Em desespero, entra em contato com o marido, contando-lhe, angustiada, sobre o acontecido. Antônio, na mesma hora, ficou convicto da participação da namorada, mas, como ela sempre se mostrara cordial, não obstante suas cobranças para que ele abandonasse a família, pensou em muita coisa, menos na possibilidade de que ela pudesse fazer algum mal à sua filha.
No entanto, Neide tinha as mais macabras das intenções; levou a garota para diversos locais, inclusive para a casa de uma amiga, ao mesmo tempo em que adquiriu uma garrafa de álcool em uma farmácia por onde passara. Em casa, Antônio e Nilza aguardavam, aflitos, algum contato de Neide ou mesmo alguma notícia da filha desaparecida. A chegada da noite deixou o casal mais angustiado, agora desconfiado e temeroso de que algo de muito ruim poderia ter acontecido. Às oito e meia da noite, Neide decidiu que Tânia Maria tinha que ser sacrificada.

Inflexivelmente, dirigiu-se ao local acima descrito, sabendo que, àquela hora, ele estaria completamente deserto, e, sem dó nem piedade, agarra o revólver, mira a cabeça da garota, dá-lhe um tiro, após o qual, pega a garrafa de álcool, despeja o líquido sobre o corpo estendido no chão e lhe ateia fogo. Logo abandona o local, dirigindo-se para sua casa.

As investigações policiais, a cargo do delegado Olavo Campos Pinto, do 24º Distrito Policial, não tiveram muita dificuldade em chegar até Neide, porquanto ela deixara enormes rastros por onde passara. Com uma frieza que impressionou a todos, já que era evidente sua culpa no episódio, negou firmemente as acusações em interrogatório que ultrapassou as doze horas. Negava e negava; protestava inocência, dizendo-se perseguida pelas acusações de Antônio, só porque tivera um caso com ele. Ela só ficou abalada quando confrontada com o revólver utilizado para a perpetração do nefando crime. Olavo Campos, mostrando-lhe a arma, já confirmada ser de sua propriedade, diz a Neide que, se o revólver era dela, somente ela poderia ter praticado o bárbaro ato, porque, além de ter os motivos para tal, ela não tinha álibi para confirmar sua não participação no episódio. Mas ela se negava a tirar a máscara de sua face, dava pistas falsas, chegando a perguntar ao delegado por que tinha que ser ela a assassina e não outra qualquer. Este teve que lhe explicar que um revólver tem raias dentro do cano e que, quando uma pessoa atira, a bala sai girando e o projétil apresenta as marcas das raias do cano. Também, lhe foi mostrado o laudo que confirmava ser de seu revólver a bala assassina.

Dessa forma, com argumentos e convicção, Olavo Campos foi minando as resistências de Neide, até que, em uma crise de choro, ela confessa todos os detalhes do crime e de sua preparação, seu choro se tornando convulsivo, em um misto de culpa e resignação.

A imprensa, assim que Neide confessou sua culpa, fez seu carnaval de sempre, cada órgão se esmerando em escolher as manchetes mais apelativas. Mas o epíteto que mais pegou, e que ficou até os dias de hoje foi mesmo “Fera da Penha”.

Quando a imprensa noticiou que a reconstituição do crime seria realizada com a presença da assassina, centenas de pessoas se dirigiram ao local do crime, dezenas de piedosas mulheres, daquelas que vão à missa todos os fins de semana e pedem proteção a Deus contra as maldades do mundo, ficaram de prontidão no local, esperando a chegada de Neide exigindo justiça e prontas para linchá-la, a maioria com esperança de poderem fazer justiça com as próprias mãos se a reconstituição viesse mesmo a ser realizada. As próprias detentas de Penitenciária de Mulheres de Bangu, algumas com crimes tão perversos quanto o de Neide, revoltadas, ameaçaram matá-la e também fazer justiça. Segundo elas, era verdade que cometeram crimes terríveis, Porém o de Neide teria ultrapassado todos os limites. A morte seria pouco para ela.

E não demoraria muito, a quase totalidade da imprensa, como sempre acontecia quando um crime cuja barbaridade excedia aos limites do aceitável, estava discutindo a adoção no país da pena de morte. A santificação de Tânia Maria, assim como aconteceu no caso Aída Curi, se espalhou por todo o Rio de Janeiro. A imprensa, principalmente a revista O Cruzeiro, que se julgava a guardiã da moral e dos bons costumes, mas, que se aproveitava das desgraças do cotidiano para ser a líder de vendas entre as revistas brasileiras com suas reportagens sensacionalistas, se encarrega desse mister.


Na edição de 30 de junho de 1960 da revista O Cruzeiro, o famoso repórter policial Arlindo Silva deixaria para a posteridade a matéria cognominada “Tânia Maria é agora menina santa”, explicando aos leitores de todo o Brasil o que estava acontecendo com o local onde o crime foi perpetrado, como para lembrar a todos que o crime não poderia ser esquecido:



    “Dizem que a memória do povo é fraca, mas o caso do assassino da menina Tânia Maria, pelo Frankenstein de saias, Neide Maia Lopes, duvido que o povo esqueça. O local onde a garotinha foi morta, um terreno baldio junto ao matadouro da Penha (Rio de Janeiro), está convertido num pequeno santuário, onde, diariamente, milhares de pessoas fazem preces, levam flores, acendem velas e pedem graças. O pequeno pedaço de chão onde a criança morreu queimada, após levar tiro na cabeça, foi cercado por barras de ferro, imitando um pequeno berço, por um popular anônimo. No dia seguinte à morte de Tânia, já se erguia no local uma cruz branca, e, desde então, a peregrinação não cessou. Começa de manhã e vai até altas horas da noite. Senhoras, moradoras nas imediações, contam que cerca de 1.000 pessoas por dia, muitas vindas de longe ou em trânsito pelas rodovias Rio-São Paulo e Rio-Petrópolis, vão até o local onde morreu a “Flor do Campo”. Este é o nome que poetas desconhecidos deram à pobre menina. À cruz estão pregados poemas de louvor e glorificação à pequena vítima. Esses poemas falam: “Ó Santa menina - O mundo não era teu - Tu foste predestinada - Para a glória do céu”. Também foi pregado à cruzinha branca o “Hino à Flor do Campo”, com estrofes assim: “Ó menina imaculada - Ó meu anjo salvador - Aqui, aqui te louvamos - Com a nossa imensa dor”. Continua: “Vamos todos para o campo - Lá morreu a nossa flor - Aqui, aqui te ofertamos - Todo nosso grande amor”. E o Hino termina: “Este campo consagrado - É da filha do Senhor - Aqui, aqui nós rezamos - Ó meu anjo salvador”. Em volta do pequeno carneiro improvisado, oram, ajoelhadas, mulheres idosas, mocinhas e crianças, como se estivessem ante um altar. Velhas mães, não contendo sua indignação, dizem que a Polícia deveria deixar a mulher-fera nas mãos do povo.”

O julgamento de Neide - exatamente como acontece com todos os crimes de grande repercussão - se tornou uma arena de circo, cada jornal ou revista trazendo reportagens com mais adjetivos do que substantivos. O Resultado foi o esperado: “A Fera da Penha” foi condenada a 33 anos de prisão, saindo, ainda jovem da prisão, por bom comportamento, após cumprir 15. Nunca abriu boca para comentar a respeito de seu crime, nem logo após os acontecimentos, nem depois que deixou a prisão. Antes do crime, levava uma vida pacata, sem maiores sobressaltos. Depois do crime, levou uma vida incógnita, pacata, sem sobressaltos e se dedicou a trabalhos filantrópicos. Está viva, bem, e mora no Rio de Janeiro.”

Matadouro nos Jornais




O Matadouro sempre esteve presente nos anais dos periódicos cariocas. Sendo por notícias boas ou ruins, os noticiários diários sempre noticiavam algo em relação ao velho e querido matadouro. Vamos explorar algumas das milhares notícias. 

Jornal “A NOTÌCIA” – 1900
Entre os anos de 1900 e 1910, houve uma intensa briga entre a prefeitura e o Matadouro. O desejo da municipalidade era comandar todos os matadouros da cidade ( Santa Cruz, Penha e Praça da Bandeira) , e claro que o donos das mesmas não desejavam ver seu negócio fluir pelos seus dedos. Os Donos do Matadouro da Penha decidiram fechar o matadouro até que o problema se resolvesse, isso gerou uma revolta da população local, onde foram registrados protestos e quebra-quebra em favor do matadouro.



Jornal “O Radical“ -1932
Esse incrível periódico noticiava saída de trens de vários lugares do estado do Rio  e de outros estados, levando bois para o abate. Os trens saiam de locais como Deodoro, Floriano e Cruzeiro.








Jornal ”Tribuna de Imprensa”- 8 de abril de 1960
È noticiado a missa de 7 dia pela morte da viúva do fundador do Matadouro , d. Maria Alexandrina Linhares Goulart. Toda a comunidade é convidada para prestigiar a ilustre leopoldinense.



Periódico ”Anuário do Jornal do Brasil” : anos de 1920 a 1930
Durante esse período, era comum o matadouro divulgar relatório de quantos bois foram abatidos durante toda a temporada, já nessa época, o número de abates já era expressivo:
1924- 30.275 bois
1925-31.637 bois
1930-36.331 bois



Acidentes estranhos já foram registrados no Matadouro, o mais “exótico” foi a queda de um avião no campo aonde ficavam os bois, ninguém se feriu gravemente e nenhum boi teve seu destino selado antes do tempo: “ A Nação 1934”.


Outro acidente ou incidente foi quando um boi fugiu e foi parar no centro da cidade, causando pânico e terror. ( A Noite- 1954).

“ O Imparcial” 30 de novembro de 1922
O governo descobre sonegação de impostos por parte do Matadouro, por dia não são lançados nos registros 22 bois, 9 porcos e 4 vitellos. 

“ O Imparcial “ 1929
Matadouro recebe criticas da população e da municipalidade devido à falta de cuidado com o manuseio das carnes.

“Jornal do Brasil”-1889
O matadouro foi fechado pela fiscalização por vender “ Carne Verde”( estragada) e estava funcionando sem a autorização do Município , o que reforça a tese que o Matadouro só conseguiu a autorização pós 1899 mais a prática de matar já existia quando açougue foi adquirido , antes de 1892, segundo a data do jornal ,um açougue e um pequeno matadouro já existia antes da possível data da inauguração.
Outras notícias habitaram os noticiários jornalísticos:

Jornal dos Sports “ 14 de junho de 1949











O Olaria pagou pela faixa de terreno que pertencia ao Matadouro para ampliação de seu estádio, porém a prefeitura precisa autorizar a compra e a construção do local.
Cada história está interligada aos fatos e esses mesmos são processos históricos que se ligam a historiografia suburbana. Como a o Matadouro da Penha poderia estar ligado ao Clube de futebol do Olaria ? No ano de 1949, a presidência do Olaria pretendia ampliar as instalações do estádio e transformar o clube numa grande praça de esportes.

As fotos abaixo mostram o plano do projeto e uma parte que teria que ser adquirida, pois essa parte de tamanho de 20 metros, adentrava o terreno do matadouro da Penha, vejam como era enorme o terreno, que chegava bem perto do estádio .
A segunda foto é uma placa indicando a construção do estádio e a terceira foto mostra como era o estádio antes da grande ampliação.
Graças a atuação de pessoas de influência como Álvaro da Costa Mello, Rui Campista entre outros, o Olaria conseguiu adquirir essa parte do terreno e ampliar as instalações



“ A Noite” 1931
Moradores da Penha reclamam das condições do desembarque de bois na região, reclamavam de fugas, chifradas e problemas das sujeiras provocadas pelos bois. 

“Jornal dos Sports” – 1948
O jornal fez elogios ao maquinário e como a produção no abate dos animais era bem feito, com técnicas modernas. As carnes eram divididas em caixas de metal, levadas até a Estação Pedro Ernesto ( Olaria) e lá desembarcava num entreposto , conservado até os caminhões pudessem buscar para a distribuição para açougues da cidade.

Os anos de 1913 e 1912 foram bem agitados, assaltos ao açougue e acusação de gado doente para a população. A fiscalização bate no matadouro e constata:
Nenhum cuidado e nem “piedade” no abate dos bois,
Curral sujo, fedorento e mal limpo,
Carne pendurada e exposta as moscas.

O jornal “A NOITE” de 14 de junho de 1961, uma das caldeiras explodiu devido a um defeito na auto-clave ( manutenção ), o chefe da seção que estava manuseando o aparelho morreu na hora. Outros funcionários também saíram feridos sem gravidade.


  Conclusão
De pequeno açougue a grande indústria, o Matadouro representou a Leopoldina, contou a história de milhares de trabalhadores, construiu  o caminho de um dos clubes mais tradicionais do Rio, emocionou e marcou gerações de pessoas que lembram com orgulho o maior empreendimento da Leopoldina.
O Matadouro já não existe mais, porém estará sempre em nossos corações , memórias e em nossa escrita.


Bibliografia
Páginas no facebook : Memória do subúrbio carioca
                                       Jornais Antigos
                                       Penha da Depressão
cacellain.com.br
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Livros : Freguesias do Rio Antigo
             Ruas do Rio
             Evolução Urbana da cidade do Rio de Janeiro
             Bairros do Rio