segunda-feira, 25 de maio de 2020

         O CEMITÉRIO DA PENHA -                         PRECISAMOS DE UM!

1955- TRIBUNA DE IMPRENSA - FASES DA IGREJA DA PENHA



Quando pensamos em sua importância, um cemitério nada mais é que a última morada, o local de descanso eterno de nossos parentes, amigos e conhecidos. Entender o que foi esse projeto que não deu certo, é necessário transportar nossa mente para a época que vamos estudar, entender as mazelas e dificuldades de um povo que vivia no limite, sem transporte, sem infraestrutura, sem saneamento básico e com poucas opções de diversão

O início do subúrbio é uma história longa que não cabe colocar aqui no momento, mas efeitos de conhecimento, o novo modelo de cidade aplicada na cidade, graças as influencias francesas de remodelação do centro trouxe uma nova perspectiva de cidade, onde os pobres foram tirados do centro e jogados para a antiga zona rural, lugares sem a estrutura necessária para uma vida digna. Diferente do modelo americano, que concentrou os trabalhadores nos centros perto de seus trabalhos, o modelo carioca expandiu a cidade para dose, vinte, quarenta quilômetros para longe do núcleo financeiro.

Lugares onde apenas o trem era o meio de transporte, houve a necessidade de criar linhas de bondes para ajudar no transporte, o que ao meu ver, não ajudou muito pois eles continuavam com superlotação e com histórico gigantesco de acidente, isso estou contanto com os bairros que possuíam esses dois meios de transporte, mas e os bairros que nem isso tinham?

O fato é que a população dessas localidades cresceu muito em pouco tempo. Antes da reformulação da cidade, as freguesias rurais já apresentavam crescimento assustador imagina o pós Belle époque. Traduzindo em números, pegando como base a freguesia de Irajá- freguesia suburbana-, percebemos o crescimento assustador. Em 1890, a população da freguesia era de 13.113 pessoas. A população da freguesia em 1906 era de 27.410 pessoas. Dez anos depois, em 1920, a população saltou para 99.586, um crescimento de 263%. O que mexeu também na densidade demográfica da região que em 1910 era de 212 de habitantes por quilometro quadrado, saltando em 1920 para 770 de habitantes por quilometro quadrado. ( números tirados do livro EVOLUÇÃO URBANA DO RIO DE JANEIRO – MAURICIO A. ABREU .)

Precisava mostrar um pouco do subúrbio na época que se acontece a discussão sobre o cemitério da Penha.



Mas o pedido dos moradores só viria novamente a ser estudado pelo governo municipal em 1926. Durante o governo do interventor Antonio Prado Junior(1926-1939), o sr. Arthur Menezes apresentou no Conselho Municipal algumas indicações de obras e construções em uma delas foi o cemitério com o custo de 340 conto. E pelo jeito deu certo, pois o jornal O PAIZ divulgou que o presidente do Conselho autorizou a construção do cemitério e solicitou a comissão da obra uma intervenção junto a irmandade da Penha, solicitando a autorização para a construção do cemitério em terrenos pertencentes a mesma. O decreto autorizando a construção foi o 3.157 de 21 de outubro de 1926. Um encontro entre representantes do governo municipal e a irmandade selaram o acordo e a ordem religiosa realizou a doação do terreno para a construção, que teria 500 metros de comprimento e 10 de largura.




Artigo único: Fica o prefeito autorizado a criar um cemitério na localidade denominada “Arraial da Penha” no distrito de Irajá, podendo desse fim entrar em acordo com a irmandade N. Sr, da Penha...inclusive promover a desapropriação do terreno...abrir créditos...”





Mas o projeto ao que parece foi arquivado, não se falou mais nele. Tudo indicava que a população mais uma vez seria esquecida. Mas essa ideia voltou a ser ventilada alguns anos depois. A população da região já passava das 260 mil pessoas em 1937, e essa necessidade por um local para os mortos começou a ecoar novamente dentro do governo, então o secretário de saúde da época, o senhor Irineu Malagueta se reuniu com o Monsenhor da igreja José Maria da Rocha e colocaram novamente em pauta o plano da construção. O valor da construção continuava o mesmo e só precisavam a autorização do prefeito para fazer as obras. Rapidamente, enxergando a necessidade do cemitério, através de um decreto, o prefeito Henrique Dodsworth ( 1937-1945) autorizou a construção. O negócio foi fechado em definitivo num almoço nas dependências na igreja para boa parte dos representantes do governo municipal e amigos do Monsenhor.


Em uma bela manhã, Henrique e seus conselheiros e fiscais fizeram uma visita ao terreno doado, ao contrário do noticiado antes, o tamanho do terreno era de 1.275 metros. Aproveitando a visita, o povo pediu melhoramento para o Largo da Penha e ruas em volta que a tempos não eram melhoradas. O interventor prometeu acelerar as coisas para tudo ficar pronto o mais rápido possível. Logo depois foi apresentada a planta das obras e isso foi notícias em vários jornais: A Penha ai ter sua morada eterna!
As obras se iniciaram em 1939, o cemitério ficaria ao final da rua Nossa Senhora da Penha, pegaria uma parte do morro, descendo pela outra lateral da rua até encostar na avenida Principal. Seria um dos mais belos cemitérios da cidade. 1700 metros de terreno foram demarcados, um muro foi levantado de 100 metros de comprimento, um prédio começou a ser levantado, o que seria a parte administrativa do cemitério até que todos os operários sumiram e a obra parou. As pessoas passavam atônitas olhando para tudo aquilo parado, as rodas de fofoca nos domingos de missa eram grandes. Muitos se perguntavam o que aconteceu?










A prefeitura da cidade descobriu que houve um grande desvio de verbas, dinheiro destinado a obra desapareceu e não tinha como continuar. A prefeitura não quis liberar mais e pelo jeito não investigou o que houve, então o sonho de construção da necrópole da Penha caiu no esquecimento. No local, anos mais tarde, cresceria a comunidade do proletariado, onde o terreno foi todo loteado e vendido a funcionários públicos  e o prédio foi aproveitado e nos dias atuais é um colégio .







No ano de 1955, o periódico “ A TRIBUNA DE IMPRENSA” , fez uma grande reportagem mostrando alguns aspectos do que seria o cemitério , o que a Penha e a irmandade perdeu . No lugar do cemitério, a Penha ganhou uma favela e a irmandade perdeu seu terreno, ninguém foi preso pelos desvios. A irmandade perdeu muito de seu terreno, não apenas devido ao cemitério, mas a irmandade doou as terras para a construção da estrada de ferro, abriu inúmeras ruas e cedeu outros pedaços para prédios públicos, isso nos dias atuais se ainda tivesse domínio dessas terras, poderia render uma boa grana a igreja.
Um cemitério na Penha , imagina como seria hein !




domingo, 17 de maio de 2020

A ESCOLA QUE FEZ MARTINHO: APRENDIZES DA BOCA DO MATO.

1971 MARTINHO DA VILA



O Carnaval carioca é a maior festa carnavalesca do mundo, são várias escolas divididas em várias divisões lutando pelo título, acesso a divisões superiores e mostrando tudo que tem de belo. Blocos de ruas espalham alegria por toda a cidade e festas de bairros patrocinados pelos comerciantes locais, a cidade para durante quatro dias de festejos, amores, decepções e aventuras.

No mundo das escolas de samba, o campeonato ganho vai muito além de um troféu, é mostrar todo o orgulho da escola de samba e de sua comunidade que soa sangue o ano todos para que o carnaval saia perfeito. Mas o que leva uma escola a fechar as portas? Usando como exemplo escolas próximas, a Tupy de Braz de Pina e a Independentes de Cordovil, entre outros fatores, teve como principal a questão de brigas internas e a violência crescente. Outras escolas não de adaptam ao novo e ficam presas ao passado ou até mesmo por questões financeiras.
Mas a questão aqui não é resgata o fim, mas mostrar como uma escola nasce, desfila e mostra todo seu glamour e como ela é capaz de doar ao mundo do samba e a música brasileira, alguém tão importante como o MARTINHO DA VILA.

A escola que iremos abordar certamente foi esquecida por milhares de pessoas do mundo do samba, mas Marinho sempre fez questão de mostrar e falar o nome dela como ponto decisivo em sua vida. Antes da Vila Isabel entrar na sua vida, os primeiros passos foram dados nessa escola e vamos mostrar um pouco da trajetória dessa escola sempre associando o nome do Martinho, pois 90% do que foi achado nos jornais antigos sobre a escola, envolve o nome do sambista da vila.

O BLOCO, A ESCOLA, O SONHO!

Tudo tem um começo e um fim, nunca a história do “ALFA e do OMEGA” fez tanto sentido. Assim como o Universo onde tudo que se inicia chega ao fim em algum momento, a APRENDIZES DA BOCA DO MATO foi uma desses cometas que passam pelo céu, rasgando a noite e caindo no esquecimento.
Antes do surgimento da escola, havia um bloco na localidade chamada BOCA DO MATO, um bairro não oficial na região do Lins de Vasconcelos onde um funcionário que trabalhava na empresa de energia elétrica Light organizou um pequeno bloco para os amigos e vizinhos que começou a crescer por toda a localidade. Não há um registro exato de quando esse bloco iniciou, mas segundo reportagem com o bloco já se chamando Boca do Mato, creia-se que o antigo bloco se iniciou entre os anos 10 e 20. O apelido do bloco era bloco do ABERLADO FUMO E BLOCO DO BURRINHA. Segundo o jornal CORREIO DA MANHÃ, o bloco já se chamava BOCA DO MATO , como é descrito na reportagem abaixo :

“ Na rua Lins de Vasconcelos, uma festa promovida pelas famílias e comerciantes locais , uma gigantesca batalha de confete e lança perfume . A festa foi dedicada a imprensa e realizada pelo Bloco Boca do Mato, que também seria homenageado “. (CORREIO DA MANHÃ- 1929)

Com o crescimento e o sucesso do bloco, um grupo de pessoas decidiu já construir o embrião da escola de samba e nascia assim o BLOCO BOCA DO MATO e esse bloco tinha como escola inspiradora o APRENDIZES DE LUCAS. A admiração era tanta pela escola que o nome, as cores e o estilo de samba forma copiados da agremiação de Lucas. È nesse momento que Martinho da Vila iniciava sua história no bloco, que começou a frequenta-lo com apenas 15 anos de idade e rapidamente caiu nas graças da diretoria, um jovem que morava na Serra dos Pretos Forros começava ali sua estrada de sucesso!

Com o sucesso do bloco, no início dos anos 50 um grupo de pessoas começou a se organizar para fundar a escola de samba, que aconteceu em 1954 e tendo autorização para desfilar no mesmo ano.

Martinho da Vila teve seu primeiro samba- enredo ganhador em 1957 com o tema sobre Carlos Gomes, que levou a escola ao sétimo lugar no grupo dois. Em 1959 ganhou o samba enredo novamente com o tema sobre MACHADO DE ASSIS, que colocou a escola em segundo lugar no grupo dois, um grande feito para a época. O último samba enredo que Martinho ganhou foi em 1960, com o enredo sobre RUI BARBOSA, deixando a escola em sétimo lugar do grupo um. Antes de ser o grande compositor da escola, Martinho foi ritmista, passista, presidente de ala, diretor de harmonia até chegar a compositor.

O primeiro desfile da escola foi em 1954 e a escola ficou no décimo terceiro colocado com 134 pontos e a campeão desse ano foi a Beija Flor e seu desfile foi na antiga e esquecida praça XI. Em 1955, ficou em sétimo lugar e a campeão foi a Unidos da Paz e Amor. Em 1956, ficou em décimo lugar e a campeão foi a Flor de Lins.

A escola apresentou um crescimento muito rápido, seus ensaios eram realizados na Rua Caparaó número 77 e além de desfilar na Praça XI, desfilou também na Avenida Presidente Vargas.

Outros resultados da escola estão logo abaixo.

Aprendizes da Boca do Mato- colocação nos carnavais


1954  13.º lugar             
1955  7.º lugar       
1956  10.º lugar     
1957  7.º lugar       
1958  17.º lugar    
1959  2.º lugar
1960  7.º lugar
1961  13.º lugar
1962  13.º lugar
1963  4.º lugar       
1964  5.º lugar       
1965  9.º lugar       
1966  10.º lugar     
1967  16.º lugar     
1968  17.º lugar     



Infelizmente devido a problemas financeiros e de brigas internas, a escola encerrou as atividades em 1968 para nunca mais voltar

DESFILES E ASSOCIAÇÕES

6 desfiles no campeonato pela AESB e CBES
2 desfiles no campeonato intermediário na AESB e CBES
4 desfiles no grupo 3 na AESB e CBES
1 desfile do supercampeonato de AESB e CBES
3 desfiles no grupo 3 pela AESEG e CBES

LINKS DO SAMBA ENREDO DA ESCOLA BOCA DO MATO DE 1959

BIBLIOGRAFIA
Carnaval.fandom.com
Farofafacartacapital.combr
Biblioteca nacional