Cordovil: o carnaval esquecido!
“ Cordovil e sua
população já nascem cantando em ritmo de samba” A frase escrita pelo repórter
Silas Neves do Diário Carioca de 1960 traduz bem o quando a festa mais popular
do mudo mexia com o brilho da população. Nos dias atuais não vemos nem sombra do que já
foi o carnaval do bairro.
Muito desse abandono é devido a fatores sócias como a
violência, mas eu atribuo grande parte do fim do carnaval de Cordovil com o
fechamento da escola de samba do bairro, o Independentes de Cordovil. Nesse
novo texto vou mostrar um pouco da história dessa extinta agremiação.
Mas não há como falar da Independente de Cordovil sem falar
da Independentes do Leblon. A Cidade
Alta recebeu pessoas da velha favela do Pinto, uma comunidade que existia no
Leblon que foi destruída pelo poder público. Como toda a comunidade que se
prese, ali existia uma escola de samba que teve uma trajetória curta, mas foi
campeã.
A ESCOLA DE SAMBA DO LEBLON
A escola de Samba Independentes do Leblon, como citado
acima, ficava na antiga e extinta comunidade do Pinto e foi inaugurada no dia
20 de junho de 1946 e já no ano seguinte participava dos desfiles cariocas
junto com escolas tradicionais e de mais nome. Na sua curta existência, já que
foi extinta em 1970, dando lugar a escola de Cordovil. Participou de 24
desfiles, todos por séries inferiores e ganhou 1 título no grupo 3 em 1962, com
o enredo “As coisas belas da primavera” . A escola era associada pelas extintas
AESB e CBES que desfilavam na Praça XI.
Algumas curiosidades dessa escola foram registradas em
jornais de época, uma que seria interessante destacar foi o não desfile em
1969. Já no processo de remoção para Cordovil, a escola não desfilou nesse ano
devido a problemas internos. A transição do Leblon para Cordovil não foi tranquila,
muita confusão afetou a diretoria e a escola que não conseguiu mostrar para que
veio. Essa crise acompanhou a escola de samba até o início dos anos 90, já com
o nome de Independentes de Cordovil. Outra campanha marcante da antiga escola
do Leblon foi o 4 lugar no grupo II em 1965, que teve como campeão a Vila
Isabel.
A FAVELA DO PINTO
Antes de entrar para falar da escola em Cordovil, preciso
situar para os leitores, os problemas que aconteceram na comunidade do Pinto. O
governo carioca já planejava a remoção da favela da zona nobre da cidade. A
programa da COHAB tinha a função justamente de remover as pessoas das zonas de
risco e dar dignidades as mesmas, com apartamentos novos, distribuídos por bairros
como Cordovil, Braz de Pina, e outros da Zona Oeste. Assim que nasceu a cidade
Alta.
As remoções começaram aos poucos e muitos ainda resistiam a
política do governo. Muitas famílias brigavam para ficar no local, até que na
madrugada de 11 de maio de 1969, enquanto se realizavam os preparativos para a
remoção dos moradores para outros bairros, ocorreu um incêndio que destruiu mil
barracos e deixou mais de 9 000 pessoas desabrigadas (na época, a favela
abrigava 15 000 habitantes). Para os antigos moradores, o incêndio foi criminoso
provocado por soldados do governo. O incêndio acelerou os trabalhos de remoção
da população para conjuntos habitacionais em Cordovil, Cidade de Deus, Cruzada
São Sebastião e para abrigos da Fundação Leão XIII e posteriormente zona oeste
como escrito acima.
A Praia do Pinto
surgiu como uma vila de pescadores e operários que trabalhavam na construção do
Jóquei Club, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Existem registros do local datados
da década de 1910. Com o passar dos anos e a valorização natural dos bairros ao
entorno, a Praia do Pinto começou a despertar o interesse de investidores
imobiliários. Como acontecia em várias regiões da cidade, nascia ali, em 1946,
uma escola de samba: o G.R.E.S. Independentes do Leblon, que nasceu azul e
amarelo. Os cinco primeiros desfiles foram disputados no Primeiro Grupo das
Escolas de Samba, com resultados sempre de meio de tabela. Mas isso pouco
importava, a escola estava entre as grandes e levava aos moradores da favela
alegria que no resto do ano faltava. Curiosamente, em 1954 a agremiação
defendeu o enredo “Urbanização das Favelas”, no equivalente Segundo Grupo
daquele ano. Depois de 1952, a escola só desfilaria entre as grandes escolas novamente
no Carnaval de 1968, sendo rebaixada.( site Medium.com
A HISTORIA CONTINUA ATÉ O FIM
Com essa política de remoções, a Cidade Alta seria inaugurada
no dia 28 de março de 1969, e mesmo contra a maioria da população, os milhares
de moradores chegavam aos montes na cidade alta. Os primeiros anos, a escola
viveu uma crise sem fim, com os problemas das remoções, muitos desistiram da
escola e poucos queriam desfilar, e a população de Cordovil não abraçou a
causa. Um homem foi decisivo para a escola continuar e virar uma potência nas
divisões inferiores: PINGUIM.
Segundo o “Jornal dos Sports “ de 1970, Pinguim era o homem
forte do carnaval e contra tudo e contra todos, não deixaria a escola morrer,
mesmo depois da remoção. Valdir Gomes da Silva era um homem do meio do samba,
conhecido pelos sambistas mais famosos, lutou não apenas pela nova escola, pela
memória da antiga e brigou muito para conseguir uma quadra digna para sua
agremiação. Pinguim praticamente recriou o carnaval do no bairro, que andava,
segundo a moradora Rosangela, “Muito Chato”.
A Independentes do Leblon seria extinta em 1970 e nesse
momento nascia a Independente de Cordovil, com muitas dificuldades e um começo
com muitos problemas, a escola aos poucos se consolidaria e teria seu brilho
nos anos 80, quando seus desfiles podiam ser vistos na Globo e na CNT.
A escola tem como agremiação madrinha a Vila Isabel, e era
bem comuns grandes nomes da Vila como Martinho da Vila e, serem vistos na
quadra da escola. E toda a dedicação deles rendeu uma homenagem ao Martinho em
1984, quando a escola suburbana desfilou com o Enredo: Terreiro, Sala e salão”,
mesmo nome de uma das músicas de Martinho.
A escola já desfilou em várias “passarelas “ do samba, por
exemplo, em 1975, desfilou na Avenida Graça Aranha, Avenida Rio Branco e Praça
XI. Um momento bem inusitado foi quando a escola desfilou no carnaval de Duque
de Caxias, a convite da escola Grande Rio.
O ano de 1985 foi o mais marcante da escola, pois ela
conquistaria seu único título. A escola faturou o grupo 2-A, tendo como vice-campeã
a União de Jacarepaguá e no ano de 1986, desfilaria na 1-B. O enredo campeão
foi “Sangue, Suor e Lágrimas”, um protesto bem-humorado contra o governo. Já em
1986, na série 1-B, a escola mais uma vez brilhou e quase foi campeã, ficando
em terceiro lugar. Houve uma grande festa na sua quadra para celebrar os componentes
pelo feito.
1987, a escola já estava consolidada e era conhecida por ter
um desfile descontraído e que era um verdadeiro SHOW na avenida. Era muito belo
e aceito pela crítica ver a escola desfilando. Suas quinze alegorias e seus 3
mil componentes fizeram uma festa maravilhosa e marcante. Ela foi a última
escola a desfilar e teve como homenageado Jorge Amado com o enredo: “Amado
Jorge Amante”. Apesar dos elogios de quem viu, a escola ficou apenas na sétima
colocação, a campeã foi a Unidos da Tijuca. Nesse mesmo ano a escola ganharia
um presente. Sergio Cabral Pai iniciou um projeto em toda a cidade que constava
a união de jovens de comunidade em prol do esporte, e a quadra da escola foi
reformada de graça para receber o projeto.
Em 1995, dois anos antes de fechar as portas devido a problemas
de brigas internas e a violência, a escola homenageou a cantora Sandra de Sá. O
desfile na Marques da Sapucaí foi considerável “lamentável” pela crítica
especializada. A escola enrolaria sua bandeira depois do desfile de 1997, com o
enredo “Pega na Mentira”. Esperamos que um dia a escola retorne.
NÚMERO DE DESFILES
01 desfile no Grupo B da AECRJ
01 desfile no Grupo 1B da AESCRJ
05 desfiles no Grupo 2 da AESCRJ
07 desfiles no Grupo 2A da AESCRJ
01 desfile no Grupo 3 da AESCRJ
04 desfiles no Grupo A da AESCRJ
01 desfile no Grupo B da AESCRJ
01 desfile no Grupo C da AESCRJ
02 desfiles no Grupo 2 da AESEG
02 desfiles no Grupo 2 da AESEG e CBES
01 desfile no Grupo A da LIESGA
CAMPEONATOS
1985 - Sangue, suor e lágrimas
GRUPO 2A | AESCRJ | AV. RIO BRANCO
BIBLIOGRAFIA
1-https://esporte.ig.com.br/colunas/ultima-divisao/2019-03-01/httpsesporteigcombrcolunasultima-divisao2019-03-01quando-carnaval-e-futebol-se-misturam.html
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2-https://oglobo.globo.com/esportes/futebol-carnaval-escola-de-samba-as-historias-dos-clubes-extintos-do-carioca-1-24195749
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3-
https://www.terra.com.br/esportes/lance/carnaval-e-futebol-paixoes-nacionais-se-encontram-na-avenida,850081acf943de5151eba1e6d405e1ecpc7yi1qw.html
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4- Biblioteca Nacional
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7-http://www.galeriadosamba.com.br/escolas-de-samba/independentes-de-cordovil/
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8- https://medium.com/instandarte/era-domingo-de-dia-das-m%C3%A3es-11-de-maio-de-1969-quando-os-moradores-da-praia-do-pinto-no-cora%C3%A7%C3%A3o-35e81d4769d0
Acessado dia 29/03 as 20 : 00 hrs