sábado, 20 de março de 2021

VIVA A PENHA!
Gostamos sim de falar da Penha e mostrar as diversas fases que passou nosso bem histórico. As fontes e informações não se esgotam e sua história é riquíssima e quanto mais você escreve, mais aparecem informações. Falar do seu surgimento da igreja e passar pela sua história por inteiro não é a intensão desse texto, mais sim reescrever um texto de um jornalista da época, com as mudanças necessárias para o leitor viajar pelo ano do texto. Escrito por Escragnole Dória para a REVISTA DA SEMANA DE 20 de outubro de 1928 , mostra a importância da festa da Penha, comparando-a a outra festa em importância- a Festa de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. Vamos viajar nesse maravilhoso texto com a adaptação de quem vos escreve. Claro que vou usar os conhecimentos de outras pesquisas para acrescentar informações a fim de deixar o texto mais rico.
“O Rio de Janeiro antigo, anualmente tem duas festas que podemos destacar pela sua importância: A festa da Nossa Senhora da Glória do Outeiro e da Nossa Senhora da Penha. A primeira sempre foi elitizada e a segunda mais popular, voltada para os mais pobres, só pelo povo. VIVA A PENHA! A festa enchia o arraial e agora enche o bairro com milhares de pessoas vindos de todos os lugares da cidade. Ambas as festas homenageia a mãe de Cristo e protetora do Brasil. Um fato sempre marcante na festa da Penha é sua procissão, um ato de fé e ruído, piedade e desmando. A gente humilde que participa anda pelas ruas com um profundo respeito, em oração e profanando a fé católica, pedindo uma cura, uma benção ou simplesmente uma vida melhor.
Seja homem ou mulher, cada um tinha uma razão para festejar. Numerosas mulheres haviam invocado a Virgem nos “lances” mais apertados da vida, sobretudo na gestação e na hora do parto. “Valha-me Nossa Senhora”, suplica essa que partia das bocas de suburbanas e de outras regiões da cidade. O apelo para a mãe de Cristo trazia paz e calma nessas horas de dor e dificuldade. Os homens festejam a Penha de outro modo, alguns com o fervor , outros alucinados de amor ao vinho e se engraçando com as bela negras , era nesse momento que os escravos se tornavam senhores e carregavam seus “donos” em direção ao barco ou carruagem .
Inúmeros casais agradeciam a Nossa Senhora pelos anos maravilhosos, levavam moedas para ofertar para as obras da igreja. Era muito comum o povo fazer “um pé de meia” para conseguir custear os gastos no período da festa, além das barracas montadas, era comum ambulantes venderem de tudo para participar da festa. A festa da penha atraia o pobre, o povão, fazendo com o que suas habitações aos domingos de outubro ficavam vazias, pois toda família passada o dia todo no velho arraial, e o povo que podia pagar ficava em estalagens, casas de cômodos, cortiços, casebres, tugúrios e alforjas.
Quando ainda não existia a linha férrea ou de bondes, para se chegar a PENHA ou por barco descendo em Maria Angú e ai montando em carroça ou cavalos , a pé ou carroças puxadas a bois, cavalos ou burros e com um dificuldade imensa , pois as poucas estradas eram mal conservadas. Quem pudesse pagar contratavam serviços de carro de duas parelhas, ornamentado com vistosa colcha de renda ou de crechet, verdadeiras carruagens. Os romeiros se espalhavam por todo o arraial, as poucas ruas abertas, aos arredores do morro , perto das propriedade do Lobo Jr, o evento de outubro poderia ser comparado as grandes festas atuais , eram tantas as pessoas que o Padre Ricardo mandou abrir uma rua em homenagem aos romeiros e para ajudar a guia-los em direção ao largo da Penha. Policiamento sempre existiu, sendo civil ou militar, tomavam conta do local e afastavam os bandidos e os capoeiras, que representavam uma ameaça, mas esse quadro dos capoeiras mudaria devido a atuação do Padre Ricardo que não apenas admitiu eles na festa ,mas como ajudou o mesmo com roupa, comida e lugar para dormir. As escadas eram o espaço mais democrático da igreja, pessoas se aglomeravam sem diferença de cor, raça ou situação financeira, uns pagando promessa, outros pedindo esmolas e até os bêbados procurando um apoio. Todos buscavam demonstrar primeiro sua fé, para depois desfrutar a festa com muita música, comida e compra de produtos. A musicalidade da festa sempre foi um dos pontos altos, antes combatida, a música negra foi aceita e incorporada e fez parte muitos anos das festividades, retirada no início do século XX, acabou voltando depois. Que possamos todos nos unir para resgatar combalida festa que atualmente sofre com o esvaziamento e a falta de investimento.