quarta-feira, 1 de junho de 2022

 

DOIS HOMENS E UM  BAIRRO : A IMPORTÂNCIA DE LOBO E PADRE RICARDO PARA A PENHA!



padre Ricardo

Podemos colocar apenas duas pessoas como peças chaves para o crescimento de um bairro? Quando falamos em subúrbio e do velho arraial da Penha, não podemos deixar de fora dois homens que ajudaram a construir o bairro. Envolvidos diretamente com política , abolicionistas, amantes da Penha , Padre Ricardo e Lobo Junior ajudaram a escrever a história do bairro com mudanças efetivas e participações direta na infraestrutura do bairro , muitas vezes tirando do próprio bolso para construir um lugar melhor .


Os bairros surgiram oficialmente a partir da Lei Orgânica Municipal de 1891, com o fim das freguesias e a criação dos primeiros distritos.  O aniversário de cada bairro é determinado pela criação da estação do trem, que foi um fato importante para a formação do bairro, mas não é e nunca foi o fator principal.  Cada bairro leopoldinense cresce em volta da estação dividindo o mesmo em dois lados, o lado “bom” e o lado “ruim”.

Mas não vamos tratar aqui a formação do bairro e seus problemas sociais, a intenção desse pequeno artigo é mostrar , de uma forma resumida e sintetizada, a atuação de duas pessoas na formação e crescimento do bairro.

Dois homens, viveram e conviveram juntos, um líder de uma família poderosa, outro padre da basílica da Penha, seres humanos que viviam no meio do povo e sobre eles exerciam certa influencia .No final do século XIX início do XX, imaginar como os primeiros moradores tiveram dificuldades é quase que obrigatório , pois quando os bairros crescem de forma descontrolada, o poder público não age de primeira , deixando as “coisas acontecerem” , assim sendo, água, luz elétrica , transporte , saúde e educação era um privilégio para poucos.

 



CORONEL LOBO JR

Vamos começar pelo morador mais antigo, aquele que foi homenageado com a rua mais importante da Penha , homem de posses , possuía várias casas ao redor de sua chácara, o que possibilitou uma participação maior na vida dos primeiros moradores . Quem passa pelo parque Ary Barroso nem imagina que o local ,mais os terrenos do hospital Getúlio Vargas, reservatório da Penha, estação Penha circular – aberta como Parada Lobo JR. , parte da avenida Lobo Junior , pertencia ao velho coronel . Ainda carecemos de informação, mais algumas fontes apontam que o Lobo JR era coronel da Guarda nacional , guarda essa criada em 1831 depois da deposição de D. Pedro I.

Francisco José Lobo Junior nasce em Portugal em 1868, mas jovem chega ao Brasil em no final do século passado, para construir sua vida. Abolicionista , fazia questão de colocar as ideias de liberdade em prática. Homem de personalidade, construiu sua vida toda na Penha e ajudou o bairro a crescer. Teve três relacionamentos : a primeira esposa se chamava Leopoldina Esteves do Espírito Santo e não deixou filhos( a confirmar). A segunda esposa se chamava Arminda Araújo Lobo e dessa união nasceu Rita Araujo, sua filha mais velha.

Agora, o grande amor de sua vida e que permaneceu maior parte de sua vida ao seu lado foi a senhorita Flora Lobo, neta de José Maria, fazendeiro de Braz de Pina e dessa união nasceu José Francisco Lobo ( Juca Lobo)casado com Candida do Carmo L. Lobo, Paulo Cruz Lobo casado com Henriqueta Xavier Lobo, Oscar Lobo falecido em 1891  e Evatherdes Lobo.

Fazendeiro , plantava pelo seu terreno mesmo , sendo grande produtor de legumes e verduras e exportava pelo Porto de Maria Angú ou por um píer particular que ficava no final da atual avenida Lobo Junior, quase junto a praia da Moreninha.

Um homem influente dentro da política do Império e da República, nunca se envolveu diretamente nesse mundo, como seu filho Juca Lobo que foi eleito vereador nos anos 30 , mas teve seu mandato cassado no golpe do Estado Novo de 1937.

Quando fizemos as pesquisas em jornais de época , percebemos que o homem diversas vezes aparecia nas reportagens brigando com alguém , ou reivindicando algo para sua capela ou até mesmo abrindo sua chácara para festas e missas populares . Um amigo próximo conhecido do coronel era o Padre Januário Tomei, pertencia a irmandade de Irajá , mas era uma espécie de “padre particular”, já que ele celebrava todas as missas e eventos na capela particular do Lobo Junior e quando o bispo tentou proibir o padre de ir á chácara, rapidamente Lobo conseguiu arranjar uma verdadeira confusão para ter o padre novamente.

O que mais vemos na participação do homem é com a infra estrutura e preocupação com os pequenos lavradores com o avanço do progresso .Em determinado momento o Coronel de junta com Padre Ricardo para atuarem juntos para de alguma forma salvar os pequenos produtores que estavam perdendo terreno para a construção de estradas e loteamentos . Juntos eles conseguiram grandes melhorias para um local ainda considerado rural.

O Jornal o PAIZ de 1907, destaca que o poder público estava ausente do local e a situação só não era pior devido a atuação do Lobo, ele atendia a população e muitas vezes tirava do próprio bolso para melhorar a infra estrutura de estradas e ruas do local. Em 1909 a chácara recebeu inúmeros convidados locais e da alta sociedade carioca para comemorar o aniversário da Flora Lobo e com a presença do ilustre deputado Honório Gurgel , o mesmo que anos depois emprestaria seu nome a um bairro da cidade.

Como não destacar que dentro da chácara tinha uma capela em homenagem ao Santo Antônio e Bom Jesus do Monte, um campo de futebol e um time vencedor chamado Portinho F.C. que foi fundado em 1912 e teve como primeiro presidente Paulo Lobo O time tinha uma praça de esportes com arquibancada e vestiários. Era comum a família abrir sua chácara para festas junina e outras festas religiosas .

Como eu escrevi, Lobo era dono de boa parte das terras da Penha Circular , o governo municipal precisou oficializar a compra de parte das terras para possuir a concessão da estrada de Braz de Pina que passa por dentro do seu terreno e a escritura de compra do  governo foi realizado em 1913 , segundo o JORNAL DO COMMÉRCIO. Mas esse acordo seria pago ao coronel apenas em 1917. Depois de seu falecimento, seus filhos continuaram o projeto pessoal do pai que era ajudar no crescimento do bairro, e isso se fez com a doação de suas terras para a construção do Hospital Getúlio Vargas.

Em 1923 , no dia 28 de maio , o coronel veio a falecer e seu corpo descansa no cemitério de Irajá.

 

PADRE RICARDO

Ao lado do Lobo JR, Padre Ricardo tem uma importância ímpar para o bairro. Chega ao Brasil no final do século19( 1882- A CONFIRMAR) e logo se torna padre da basílica da Penha e pouco tempo depois se torna o padre principal, assumindo todas as responsabilidades e foi nesse momento que o padre mostra para o que veio. O padre nasceu em Coimbra e formado em Teologia pela Escola da Rainha do Mondego.

Iniciando com o Quilombo da Penha. O padre abolicionista precisava fazer mais do que ficar no discurso e ele fez . Sua casa ficava na rua da Estação do Trem número 1- hoje Rua dos Romeiros-  e ali ele recebia e tratava seres humanos escravizados ou libertos e cuidava deles, ele abriu a porta da sua casa para receber essas pessoas, mas o local era pequeno para tantos que o procuravam. Foi então que o padre tira do próprio bolso e compra uma chácara onde hoje está o parque proletário da Penha e ali cria o quilombo da Penha, onde todo escravizado seria bem vindo. O interessante que em torno do quilombo, padre Ricardo colocava algumas cruzes nas ruas abertas para abençoar o local e essas ruas formavam a “VILA CRUZ”, o que mais tarde se tornaria a VILA CRUZEIRO.

Uma coisa que incomodava muito o padre era a segurança das pessoas que moravam no local. Além da chácara , o padre adquire alguns animais e leguminosas para ajudar as pessoas, mas preocupado com o roubo ou fuga dos animais , ele manda cercar toda a chácara , até mesmo para proteger de invasões  . O povo que morava pela localidade quebrou a cerca toda, alegando que a mesma atrapalhava na locomoção , mas o padre erguei novamente a cerca contrariando ainda mais . Politizado e com discurso forte , chegou a ser preso pelo presidente Floriano Peixoto devido a suas ideias.

Mas como um padre poderia ajudar no desenvolvimento do bairro ?

Uma grande medida realizada pelo padre foi a criação da Feira da Penha. Ele foi responsável por hoje ter feira livre no bairro .Feira fundada pelo padre em 1888, montada toda pelo padre, contratando seguranças, compra de produtos e barraqueiros , tudo foi ele que comprou e o próprio foi junto a municipalidade para pedir autorização para a feira continuar.

Preocupado com a boa visibilidade da festa da Penha, queria  facilitar a chegada dos romeiros para a festa . Em 1892 , ele e a comissão rural a qual também fazia parte Lobo JR, financiaram obras de conservação e expansão da Estrada da Bica , atual Avenida Braz de Pina.

Padre Ricardo possuía diversas propriedades na região, a atual rua dos Romeiros era praticamente toda deles, com casas e pequeno prédios. A prefeitura alugou diversos prédios dele, inclusive uma escola , pois em uma visita no ano de 1909, o prefeito estranhou o número grande populacional e apenas uma escola e longe do centro da Penha, longe do Largo da Penha. Além da primeira feira , o padre foi o responsável por abrir a primeira agência de correspondências do bairro. Criou junto com o Lobo JR o grupo pró- Lavroura , onde os dois junto com personalidades da região , lutavam por melhorias de pequenos e médios produtores rurais da região Leopoldinense.

O padre infelizmente faleceu em 1928 e foi enterrado no Cemitério de Irajá, no mesmo local do amigo Lobo JR. Ambos os homens lutaram por uma Penha melhor, existe muito mais informações para passar, mas estou guardando para algo maior que estar por vim.


segunda-feira, 23 de maio de 2022

 

O SONHO DA FUSÃO : QUASE NASCEU O A.C. LEOPOLDINA!



Como seria nos dias atuais times como Vasco e Flamengo disputando o campeonato Carioca, em um estádio na Praia de Ramos contra um time que foi a fusão de Olaria e Bonsucesso? Unir dois ou mais times para formar uma única agremiação é bem comum no futebol. Times como Paraná Club que nasceram dessa união conseguiram certo sucesso dentro dos estados e do cenário nacional.

O A.C Leopoldina ou Leopoldina de Futebol e Regatas quase foi fundado e quase deixando para a história dois clubes tão tradicionais do futebol carioca. Antes vamos entender o contexto de como quase houve a fusão.

O Bicolor suburbano já tinha se estabelecido como time de futebol presente na elite carioca, transitando entre a primeira e segunda divisão, já tinha sido campeão da segunda divisão e tinha realizado boas participações na primeira e revelou diversos jogadores. Já o Olaria estava vivendo um inferno astral.



Em 1933, ocorreu a profissionalização do campeonato carioca, porém alguns clubes não aceitaram esse novo período e decidiram criar uma liga secundária. O campeonato Carioca de 1933 a 1937, teve dois campeões cariocas, um pela AMEA e outro pelo LCF. Quando houve a união ,  o Olaria que tinha realizado boas campanhas  no campeonato da AMEA( liga que tinha escolhido ser amadora). Em 1933, foi vice-campeão do torneio ficando atrás apenas do Botafogo, em 1934 ficou em quarto lugar . Em 1935 já na FMD ficou em oitavo e último lugar. As participações do time modesto no campeonato fizeram a diretoria acreditar que o Olaria seria lembrando depois que os campeonatos fossem unificados, mais isso não aconteceu.

O Olaria ficou de fora da elite , com isso os sócios que sustentavam o clube diminuiu bastante , já que o time suburbano ficariam sem calendário e adversários capazes de atrair os associados para ver os jogos. O time ficou um bom tempo sem ter um futebol regular, apenas disputando amistosos e isso quebrou o clube financeiramente.

A ideia de fusão surgiu em 1941, diretores da federação carioca da época colocaram na mesa de discussão e começou uma série de movimentos para que isso acontecesse . O diretoria não se demonstrou muito animada com a ideia, porém as primeiras reuniões aconteceram. Domingos Vassalo Caruso , presidente do Bonsucesso , dono de uma rede de cinemas da região e que futuramente ajudaria o Olaria a construir seus estádio , se reuniu com o presidente do Olaria da época , José Fernandes Ferreira e deixaram já decididos alguns pontos: O nome do clube seria C.A.Leopoldinense ( CLUB ATHETICO LEOPOLDINENSE), o campo e a sede social seria em Bonsucesso na Teixeira de Castro e o Olaria ficaria responsável pelas quadras de Tênis, Basquete, Atletismo e Piscina.

Passou alguns anos e a ideia voltou a amadurecer em 1945, as diretorias se reuniram e decidiram que o clube mudaria de nome, passando a ser chamado pós fundação de Leopoldina de Futebol e Regatas, o novo estádio assim como as dependências seria em um terreno perto da Praia de Ramos , o quadro de associados se juntariam e esse novo clube já entraria na primeira divisão . Mas não vingou como sabemos , Olaria e Bonsucesso tiveram seus estádios e sedes sociais construídos .

 

FONTE :

A-BIBLIOTECA NACIONAL

1-      DIARIO DA NOITE 1941

2-      A MANHÃ TERÇA FEIRA, 9 DE OUTUBRO DE 1945, PAGINA 7

3-      DIARIO CARIOCA 1941,SEXTA FEIRA, 12 DE SETEMBRO , PAGINA 10

B- LIVRO “HISTÓRIA DO ALÇAPÃO DA BARIRI”

AUTOR : PEDRO PAULO VITAL