DOIS HOMENS
E UM BAIRRO : A IMPORTÂNCIA DE LOBO E
PADRE RICARDO PARA A PENHA!
padre Ricardo |
Podemos colocar apenas duas pessoas como peças chaves para o
crescimento de um bairro? Quando falamos em subúrbio e do velho arraial da
Penha, não podemos deixar de fora dois homens que ajudaram a construir o
bairro. Envolvidos diretamente com política , abolicionistas, amantes da Penha
, Padre Ricardo e Lobo Junior ajudaram a escrever a história do bairro com
mudanças efetivas e participações direta na infraestrutura do bairro , muitas
vezes tirando do próprio bolso para construir um lugar melhor .
Os bairros surgiram oficialmente a partir da Lei Orgânica
Municipal de 1891, com o fim das freguesias e a criação dos primeiros
distritos. O aniversário de cada bairro
é determinado pela criação da estação do trem, que foi um fato importante para
a formação do bairro, mas não é e nunca foi o fator principal. Cada bairro leopoldinense cresce em volta da
estação dividindo o mesmo em dois lados, o lado “bom” e o lado “ruim”.
Mas não vamos tratar aqui a formação do bairro e seus
problemas sociais, a intenção desse pequeno artigo é mostrar , de uma forma
resumida e sintetizada, a atuação de duas pessoas na formação e crescimento do
bairro.
Dois homens, viveram e conviveram juntos, um líder de uma
família poderosa, outro padre da basílica da Penha, seres humanos que viviam no
meio do povo e sobre eles exerciam certa influencia .No final do século XIX
início do XX, imaginar como os primeiros moradores tiveram dificuldades é quase
que obrigatório , pois quando os bairros crescem de forma descontrolada, o
poder público não age de primeira , deixando as “coisas acontecerem” , assim
sendo, água, luz elétrica , transporte , saúde e educação era um privilégio
para poucos.
CORONEL LOBO
JR
Vamos começar pelo morador mais antigo, aquele que foi
homenageado com a rua mais importante da Penha , homem de posses , possuía
várias casas ao redor de sua chácara, o que possibilitou uma participação maior
na vida dos primeiros moradores . Quem passa pelo parque Ary Barroso nem
imagina que o local ,mais os terrenos do hospital Getúlio Vargas, reservatório
da Penha, estação Penha circular – aberta como Parada Lobo JR. , parte da
avenida Lobo Junior , pertencia ao velho coronel . Ainda carecemos de
informação, mais algumas fontes apontam que o Lobo JR era coronel da Guarda
nacional , guarda essa criada em 1831 depois da deposição de D. Pedro I.
Francisco José Lobo Junior nasce em Portugal em 1868, mas
jovem chega ao Brasil em no final do século passado, para construir sua vida.
Abolicionista , fazia questão de colocar as ideias de liberdade em prática.
Homem de personalidade, construiu sua vida toda na Penha e ajudou o bairro a
crescer. Teve três relacionamentos : a primeira esposa se chamava Leopoldina
Esteves do Espírito Santo e não deixou filhos( a confirmar). A segunda esposa
se chamava Arminda Araújo Lobo e dessa união nasceu Rita Araujo, sua filha mais
velha.
Agora, o grande amor de sua vida e que permaneceu maior
parte de sua vida ao seu lado foi a senhorita Flora Lobo, neta de José Maria,
fazendeiro de Braz de Pina e dessa união nasceu José Francisco Lobo ( Juca
Lobo)casado com Candida do Carmo L. Lobo, Paulo Cruz Lobo casado com Henriqueta
Xavier Lobo, Oscar Lobo falecido em 1891 e Evatherdes Lobo.
Fazendeiro , plantava pelo seu terreno mesmo , sendo grande
produtor de legumes e verduras e exportava pelo Porto de Maria Angú ou por um
píer particular que ficava no final da atual avenida Lobo Junior, quase junto a
praia da Moreninha.
Um homem influente dentro da política do Império e da
República, nunca se envolveu diretamente nesse mundo, como seu filho Juca Lobo
que foi eleito vereador nos anos 30 , mas teve seu mandato cassado no golpe do
Estado Novo de 1937.
Quando fizemos as pesquisas em jornais de época , percebemos
que o homem diversas vezes aparecia nas reportagens brigando com alguém , ou
reivindicando algo para sua capela ou até mesmo abrindo sua chácara para festas
e missas populares . Um amigo próximo conhecido do coronel era o Padre Januário
Tomei, pertencia a irmandade de Irajá , mas era uma espécie de “padre
particular”, já que ele celebrava todas as missas e eventos na capela
particular do Lobo Junior e quando o bispo tentou proibir o padre de ir á
chácara, rapidamente Lobo conseguiu arranjar uma verdadeira confusão para ter o
padre novamente.
O que mais vemos na participação do homem é com a infra
estrutura e preocupação com os pequenos lavradores com o avanço do progresso
.Em determinado momento o Coronel de junta com Padre Ricardo para atuarem
juntos para de alguma forma salvar os pequenos produtores que estavam perdendo
terreno para a construção de estradas e loteamentos . Juntos eles conseguiram
grandes melhorias para um local ainda considerado rural.
O Jornal o PAIZ de 1907, destaca que o poder público estava
ausente do local e a situação só não era pior devido a atuação do Lobo, ele
atendia a população e muitas vezes tirava do próprio bolso para melhorar a
infra estrutura de estradas e ruas do local. Em 1909 a chácara recebeu inúmeros
convidados locais e da alta sociedade carioca para comemorar o aniversário da
Flora Lobo e com a presença do ilustre deputado Honório Gurgel , o mesmo que
anos depois emprestaria seu nome a um bairro da cidade.
Como não destacar que dentro da chácara tinha uma capela em
homenagem ao Santo Antônio e Bom Jesus do Monte, um campo de futebol e um time
vencedor chamado Portinho F.C. que foi fundado em 1912 e teve como primeiro
presidente Paulo Lobo O time tinha uma praça de esportes com arquibancada e
vestiários. Era comum a família abrir sua chácara para festas junina e outras
festas religiosas .
Como eu escrevi, Lobo era dono de boa parte das terras da
Penha Circular , o governo municipal precisou oficializar a compra de parte das
terras para possuir a concessão da estrada de Braz de Pina que passa por dentro
do seu terreno e a escritura de compra do
governo foi realizado em 1913 , segundo o JORNAL DO COMMÉRCIO. Mas esse
acordo seria pago ao coronel apenas em 1917. Depois de seu falecimento, seus
filhos continuaram o projeto pessoal do pai que era ajudar no crescimento do
bairro, e isso se fez com a doação de suas terras para a construção do Hospital
Getúlio Vargas.
Em 1923 , no dia 28 de maio , o coronel veio a falecer e seu
corpo descansa no cemitério de Irajá.
PADRE
RICARDO
Ao lado do Lobo JR, Padre Ricardo tem uma importância ímpar
para o bairro. Chega ao Brasil no final do século19( 1882- A CONFIRMAR) e logo
se torna padre da basílica da Penha e pouco tempo depois se torna o padre
principal, assumindo todas as responsabilidades e foi nesse momento que o padre
mostra para o que veio. O padre nasceu em Coimbra e formado em Teologia pela
Escola da Rainha do Mondego.
Iniciando com o Quilombo da Penha. O padre abolicionista
precisava fazer mais do que ficar no discurso e ele fez . Sua casa ficava na
rua da Estação do Trem número 1- hoje Rua dos Romeiros- e ali ele recebia e tratava seres humanos
escravizados ou libertos e cuidava deles, ele abriu a porta da sua casa para
receber essas pessoas, mas o local era pequeno para tantos que o procuravam.
Foi então que o padre tira do próprio bolso e compra uma chácara onde hoje está
o parque proletário da Penha e ali cria o quilombo da Penha, onde todo
escravizado seria bem vindo. O interessante que em torno do quilombo, padre
Ricardo colocava algumas cruzes nas ruas abertas para abençoar o local e essas
ruas formavam a “VILA CRUZ”, o que mais tarde se tornaria a VILA CRUZEIRO.
Uma coisa que incomodava muito o padre era a segurança das
pessoas que moravam no local. Além da chácara , o padre adquire alguns animais
e leguminosas para ajudar as pessoas, mas preocupado com o roubo ou fuga dos
animais , ele manda cercar toda a chácara , até mesmo para proteger de
invasões . O povo que morava pela
localidade quebrou a cerca toda, alegando que a mesma atrapalhava na locomoção
, mas o padre erguei novamente a cerca contrariando ainda mais . Politizado e
com discurso forte , chegou a ser preso pelo presidente Floriano Peixoto devido
a suas ideias.
Mas como um padre poderia ajudar no desenvolvimento do
bairro ?
Uma grande medida realizada pelo padre foi a criação da
Feira da Penha. Ele foi responsável por hoje ter feira livre no bairro .Feira
fundada pelo padre em 1888, montada toda pelo padre, contratando seguranças,
compra de produtos e barraqueiros , tudo foi ele que comprou e o próprio foi junto
a municipalidade para pedir autorização para a feira continuar.
Preocupado com a boa visibilidade da festa da Penha,
queria facilitar a chegada dos romeiros
para a festa . Em 1892 , ele e a comissão rural a qual também fazia parte Lobo
JR, financiaram obras de conservação e expansão da Estrada da Bica , atual
Avenida Braz de Pina.
Padre Ricardo possuía diversas propriedades na região, a
atual rua dos Romeiros era praticamente toda deles, com casas e pequeno
prédios. A prefeitura alugou diversos prédios dele, inclusive uma escola , pois
em uma visita no ano de 1909, o prefeito estranhou o número grande populacional
e apenas uma escola e longe do centro da Penha, longe do Largo da Penha. Além
da primeira feira , o padre foi o responsável por abrir a primeira agência de
correspondências do bairro. Criou junto com o Lobo JR o grupo pró- Lavroura ,
onde os dois junto com personalidades da região , lutavam por melhorias de
pequenos e médios produtores rurais da região Leopoldinense.
O padre infelizmente faleceu em 1928 e foi enterrado no
Cemitério de Irajá, no mesmo local do amigo Lobo JR. Ambos os homens lutaram
por uma Penha melhor, existe muito mais informações para passar, mas estou
guardando para algo maior que estar por vim.