PADRE RICARDO,
LOBO JR e SUA CASA! UM ARRAIAL DA PENHA ESQUECIDO PELO TEMPO!
LOBO JR |
Dia 20 de
novembro comemora-se o dia da
Consciência Negra. Não apenas possamos lembrar-nos do Zumbi dos Palmares, mas
devemos lembrar-nos de tantos outros que lutaram para salvar a vida de seres
humanos escravizados. Podemos associar esse importante dia na história
suburbana? Claro que sim!
A negritude
suburbana está presente em cada esquina, em cada rua e vivenciamos a construção
de nossa cultura baseada na africanidade ancestral. O samba, a capoeira, as
comidas são vestígios dessa cultura que foi implantada na nossa região.
Ainda conhecida
como zona rural, o velho arraial da Penha teve um homem que lutou contra o
racismo e a escravidão, desafiando os poderosos e a própria igreja, adquiriu
terras e “recriou” um quilombo que tinha sido destruído em 1835, o Padre
Ricardo tem profunda reação com esse quilombo e veremos essa história agora.
Engana-se
quem pensa que a História do Quilombo da Penha se inicia apenas com o Padre
Ricardo a partir de 1879. Segundo um registro feito, um juiz de Paz chamado
João Marco de Souza foi afastado do
processo acusado de prevaricação , pois retardou o processo de acusação de
negros que estavam fazendo arruaça no morro
do vai e vem , perto da região do morro da Penha, a ordem foi dada em
1835 mas devido problemas de ordem administrativa não foi executada, porém o
quilombo foi destruído apenas em 1836.
A que consta
o local ficou vazio até a entrada do Padre Ricardo na Basílica da Penha, ele
congregou na paróquia entre 1879 a 1907 e foi sem dúvidas o padre mais
importante da Igreja. Foi ele que revolucionou a festa da Penha, mandou abrir a
Rua dos Romeiros e foi um pedido dele a estação da Penha de trens, um homem que
marcou a história da Penha. Mas seu feito mais importante foi com certeza a
recriação do Quilombo da Penha.
PADRE RICARDO |
Ricardo era um homem de princípios abolicionista e republicano, não concordava com o estio de governo monárquico, mas possuía boa relação com a família real, tanto que foi ele que recepcionou a comitiva da princesa Isabel quando a própria foi visitar a basílica. Segundo o Jornal do Brasil de 1928, ele também era empresário e dono de uma pequena fábrica de tijolos. Mas outra figura histórica que era amigo do padre e que teve grande influência na vida de abolicionista foi José do Patrocínio, onde provavelmente trocavam informações para defender os negros que fugiam das garras dos seus senhores.
O quilombo
era tão importante para o sacerdote que em 1900,comprou um terreno que hoje está o corpo de bombeiros para
aumentar a área do quilombo implantar um
cemitério no local. O cemitério da Penha nunca saiu do papel, foi feito até
obras para sua implantação ,mas teve tanto desvio, mas tanto desvio que as
obras foram abandonadas e a futura sede do cemitério se transformou em um
colégio.
O padre
percebeu que inúmeros negros passavam pelas terras da basílica e se escondiam
no terreno, foi quando ele teve a ideia de criar um espaço para que essas
pessoas pudessem se esconder, ao mesmo tempo foi tocando seu projeto, abrindo
ruas aos arredores e solicitando melhorias para a região.
Na parte de
trás do morro da penha, onde hoje está o parque proletário e parte da Vila
Cruzeiro, existia uma velha chácara que o padre fez questão de comprar e
transformar o local em residência para os escravos fugidos, ali ele fornecia
água fresca, comida a vontade e deixava-os livres para cultuar sua
ancestralidade. Após a abertura de algumas ruas, o padre colocou uma cruz em um
determinado loca, a fim de abençoar e os moradores começaram a chamar a
localidade de “Vila Cruz”, mais tarde ganharia outro nome: Vila Cruzeiro!
Inclusive a cruz sem encontra no mesmo lugar ( ou se encontrava), está na rua
Sargento Ricardo Filho( informação tirada da página Vila Cruzeiro).Essa mesma
Via Cruzeiro que já teve nome de Campo da Ordem e Progresso , que ganhou esse
nome graças a um morador da localidade: Sr. Sebastião Benedito.
Para se
chegar ao quilombo era só seguir pela Avenida Braz de Pina até em frente ao
portal da Penha, ou subia a Rua Nossa Senhora da Penha, ou entrava pela rua
onde hoje está o Corpo de Bombeiros.
Os negros
vivam em paz no loca, tanto que na festa da Penha, era comum ver eles no meio
do povo, dançando e vendendo produtos de diversas origens. Muitos deles se
juntavam aos pés do portal para dançar uma música que só eles sabiam uma dança
sensual e escandalosa para os padrões da época, dança essa que mais tarde daria
origem ao samba, o famoso Jongo. A festa da Penha, por um breve período, foi
democrática, onde brancos e negros dividiam o mesmo espaço e negros poderiam
exercer a liberdade de falar, dançar e de viver!
Além do trabalho
de proteger os escravizados, padre Ricardo foi um homem atuante em diversas
áreas e ajudou muito com o crescimento da Penha e contava com a ajuda de outro
ilustre morador local, o Coronel Lobo Jr. No ano de 1892, tornou-se membro da
Comissão Rural de Irajá, grupo formado por agricultores locais buscando
melhorias para os pequenos produtores e melhoramentos para o bairro. Essa
comissão ajudou a pagar obras de construção, na verdade de reforma da Estrada
de Irajá (atual Avenida Braz de Pina).
A vida do padre
foi se dedicar ao melhoramento do bairro como um todo, ele acreditava que a
Penha poderia ser a capital suburbana da religião, da cultura e do comércio.
Trabalhou boa parte da vida em função do crescimento da região, para que o
velho arraial pudesse de fato ser transformado em um bairro próspero. Certa vez,
o padre se juntou a Manoel Alfredo Ceylão e Antônio Alves e pediram a
municipalidade para bancar a construção de uma estrada de ligação ente a Pavuna
ao morro do Pedregulho e da Praia Pequena (hoje região do Rio Jacaré) até a
basílica na Penha, ambos os projetos foram indeferidos.
Como dono de
terras em volta do morro onde está a basílica, o Padre sempre era consultado
pela municipalidade para algo. Em1917, em visita do prefeito da época , ele disse que
construiria uma escola em oito dias e assim foi feito, e esse colégio foi doado
para o município e ficava na rua da Estação da Penha- hoje rua dos Romeiros,
onde o padre tinha diversas casas e lojas , onde ele era o dono. Também tinha casas no caminho do
Portinho – atual Lobo. A prefeitura do
Rio alugou vários dos prédios que Ricardo possuía, e o dinheiro ganho pelo
sacerdote era investido em melhorias para a região.
Foi o Padre
que inaugurou em 1888, a primeira feira livre da Penha, no Largo da Penha. Ele
comprou as barras, arrumou o espaço, acertou o que seria vendido e ali começou
a história da feira que nos anos 20, vendia de ternos a peças param montar em
cavalos, de frutas e legumes a peças para uso pessoal. A autorização da feira
foi dada através de um concessão e o padre pagou os primeiros funcionários.
Todos os meses , nos dias 1 e 15 de cada mês, as barracas eram montadas para
comercializar.
Em 1889, Ricardo reinaugurou um grande prado
de corridas para o povo e de graça. Enquanto os ricos e poderosos tinha o Derby
Club no Maracanã, os suburbanos tinham o Steeple chase rural club, onde poderia
ver corridas a cavalo de graça. A construção tinha arquibancada, Casa de Poule,
Pavilhão Central, cerca de Arraia e Portão Principal.
Em 1890, foi
um dos fundadores do CLUB RURAL DA PENHA,
aberto dia 2 de junho e foi outro órgão voltado para os pequenos
produtores da região, e agora com a função não apenas de ajudar , mas de
proteger os interesses dos mesmos. O
presidente escolhido foi o Sacerdote, o presidente de honra foi o Ennes de
Souza e o primeiro secretário foi o Francisco Lobo Jr. Esse grupo organizaria
(e o fez) comícios para arrecadar verbas para compras de novos maquinários e
doar para os pequenos proprietários.
Através desse Club, Ricardo lutava por água encanada para a região e
graças a ele e Lobo Jr. , teríamos um reservatório inaugurado na Serra da
Misericórdia, dentro do terreno na Chácara das Palmeiras em 1912.
Muitos já
ouviram falar no Porto de Maria Angú, porto e praia que ficavam entre Olaria e
Ramos e local movimentado por ser ponto de entrada e saída de produtos, mais o
que poucos conhecem é que o Ricardo tirou do próprio bolso e construiu um píer novo,
todo reforçado para facilitar a chegada e o conforto para embarque e
desembarque.
Municipalidade
sempre estava presente e isso pode comprovar com as diversas visitas que o
padre teve pelos prefeitos da época. Uma dessas visitas aconteceu em 1909, o prefeito
Serzedello Correa foi recebido pelo Padre na estação e o prefeito e sua
comitiva foram até a casa do padre almoçar e tratar sobre assuntos de
melhoramento para o bairro. Visitaram diversas instalações do local, como a
primeira escola aberta na Penha. Em busca de facilitar a comunicação da Penha
com o resto da cidade, construiu e abriu o primeiro prédio que servia como
correios. Em 1919, foi noticiado em
todos os jornais que o prefeito iria fazer uma visita ao bairro e ao que
parece, o povo estava insatisfeito com o seu trabalho, já que quando sua
comitiva chegou a estação da Penha, foram atacados pelos revoltosos e advinha
onde o prefeito foi se proteger ? Na casa do clérigo.
Em 1917,
Padre Ricardo, Lobo JR. Ennes Souza entre outros se juntaram na Chácara das
Palmeiras – atual parque Ary Barroso-, e criaram um comitê de propaganda pró-
lavradio, onde esses grandes proprietários de terras, iriam buscar melhorias e
ajuda de custo para os pequenos lavradores de toda a região da Leopoldina.
Mas não foi
a Penha que viu as benfeitorias do sacerdote, ele financiou obras publicas por
Olaria e Penha incluindo a construção de capelas por toda a região. Esteve em
1917 em Marechal Hermes com o comte. De Propaganda pró-lavoura, com outros
representantes da cidade para discutir também como a vida dos pequenos
proprietários da região, poderia melhorar.
Esse grande
homem faleceu com 81 anos, no ano de 1928, nos primeiros dias de março e segundo informações obtidas pelo que escreve,
a igreja mal tem informações sobre o Padre e a única homenagem a esse grande
homem foi o nome dado a uma travessa na Penha, um local pequeno e esquecido,
ele merecia o nome em uma Rua e seu corpo descansa no cemitério de Irajá.
O “Jornal do
Brasil” de três de março de 1928 noticiava:
“Uma figura
popular que desaparece”. A notícia se espalhou por toda a zona Leopoldinense e
como se esperava, por toda a cidade, a figura de um homem que fez muito pelo
Rio de Janeiro, saiu de cena. Nascido em Portugal, adotou o Brasil como sua
casa e escolheu ser enterrado em Irajá, na sua nova terra, em sua nova casa, o
homem Ricardo da Silva foi enterrado dia 2 de março de 1928 e sua história por
muito tempo esquecida!
Vamos agora
falar do grande amigo do Padre, outro português que conheceu o subúrbio e amou
tanto o lugar, que lutou para melhorar nossa região, mas não te como
desassociar o lar de seu dono , então vamos conhecer a história do Lobo Jr e da
Chácara das Palmeiras.
A história
do Lobo JR. começa exatamente no longínquo ano de 1868 em Portugal , quando
nasceu o homem responsável de colocar no mundo o grande nome das terras da
Penha, nascia Francisco Lobo Junior. Ainda não tem muitos registros ou
trabalhos historiográficos sobre a chegada da família em terras brasilis, mas
sabemos que assim que a família chegou aqui adquiriu uma boa parte do antigo
arraial da Penha, mas como escrevi acima, que faria a diferença para o
crescimento do bairro seria seu filho José Francisco Lobo Junior.
Vamos
imaginar aquela região do parque Ary barroso um grande arraial, ou se preferir
uma grande fazenda, com varias cabeças de boi e plantações, dentro havia
construções que serviam de morada de toda a família e inclusive uma pequena capela
particular. Na descida, uma estrada( conhecida como estrada do Portinho- atual
Lobo Junior) que levava direto a praia da Moreninha. O nome do local era
Chácara das Palmeiras e ficava exatamente aonde é o parque, encostado ao morro
da caixa d’agua, antes chamado serra da Misericórdia. Uma boa tarte da Penha e
Penha Circular pertencia a esse arraial. Deveria ser um lugar muito bonito não?
Mas vamos continuar nossa viagem.
Lobo Junior
era um nome muito influente tanto na parte política, tanto na parte religiosa,
um homem empreendedor. Uma grande demonstração de sua influencia perante a
todas as esferas da sociedade, foi criada uma pequena estação de trem, chamada
parada Lobo Junior que mais para frente foi derrubada e no local colocada uma
linha circular (1930), que se destinava a permitir o retorno dos trens do
subúrbio que vinham da estação Barão de Mauá, o que num momento mais a frente
se tornaria a estação Penha circular. Mas sua Influencia não se limitava apenas
isso, Lobo Junior conseguiu água, luz e pavimentação para a Av. Braz de Pina.
Ele também construiu várias casas no inicio do bairro, doando ou vendendo parte
de suas terras, podemos citar aqui dois exemplos de áreas doadas que hoje todos
que passam pela Penha conhecem, alias um
conhecem até de mais o outro pouquíssimas pessoas sabem que ele existe.
O terreno
onde fica o reservatório da penha foi desmembrado da chácara das Palmeiras no
dia 08/08/1911, lembra quando eu disse que Lobo Junior trouxe água para a
Penha? Não foi apenas para Penha, esse reservatório abasteceu
Bonsucesso, Ramos, Olaria,Penha,Brás de Pina, Cordovil e Vigário Geral. O
reservatório foi inaugurado em 1914 e era considerado um verdadeiro marco da
engenharia e uma inovação, pois usou uma técnica nova, o concreto armado, ele
era totalmente descoberto, tinha forma tronco-cônica, dividido em dois
compartimentos. Ao centro um grande poço cilíndrico com aparelhos de manobra
com capacidade de 2.000 metros cúbicos d’água. O reservatório está na serra da
misericórdia- hoje morro da caixa d’água- e ocupa uma área de 2.449,30 metros
quadrados. Foi desativado no final dos anos 80.
Outra parte
do terreno da chácara que foi cedida para a construção de algo que ajudaria
durante anos foi o terreno do hospital Getúlio Vargas. Cedido por Lobo Junior,
o hospital demorou a ser construído, foi inaugurado no dia 3 de dezembro de
1936 no governo do prefeito do distrito federal Pedro Ernesto (1935-1936).
Voltando
para a antiga chácara, como eu escrevi antes, dentro do terreno além de existir
construções para morada do Coronel e família , existia a capela particular de
Lobo Junior, a capela de Santo Antônio e Bom Jesus do Monte, era pequena mais
muito usada pela família para comemorações e até velórios. Na época sempre
saiam reportagens em jornais de grande circulação sobre acontecimentos a ser
realizados dentro da capela e nas dependências. Chegou a sair no jornal um
pedido de Lobo Junior para que se coloque o capelão de seu desejo para celebrar
missas em sua capela (Jornal “A União- 13 junho de 1906).O jornal do Brasil do
dia 20 de junho de 1905 registrou festejos em comemoração ao dia de santo
Antonio com missa e sermão do Vigário da Penha Padre Tomel. Essas festas
aconteciam todos os anos como mostra o jornal “O Paiz” do dia 23 de junho de
1907 que relata festas na parte interna e externa da capela particular de Lobo
Junior e avisa que haveria uma missa as 09 horas da manhã para encerrar os
festejos. Mas não era apena a festa de Santo Antonio que fazia a pequena capela ficar lotada, no
dia 22 de setembro de 1907 o jornal Correio da manhã noticiava comemorações do
dia de São Cosme e Damião e o proprietário da chácara abria suas portas para a
realização da festa nos dias 27 e 28, haveria uma procissão que sairia da
chácara comandada pelo Vigário de Irajá e a segurança seria feita pela brigada
do 15 batalhão.
Estamos
vendo que a chácara era um lugar bem movimentado, muitos festejos, mas quero
apresentar outra surpresa para vocês, a Penha já teve um time amador de futebol
e campeão.
Sim amigos,
era o Portinho F.C, o nome do time foi
dado por causa da estrada do Portinho, que era em frente a chácara e levava até
a praia da Moreninha, mais tarde com a morte do Lobo Junior ganhou o nome de
av. Lobo Junior. A sede social e o campo do time ficavam dentro da chácara. O
time era amador, mais muito bom, ganhando vários jogos e torneiros por todo o
Rio de Janeiro. O jornal “O Malho” trouxe uma parte especial de seu jornal do
dia 15 parabenizando o time pela conquista do campeonato da liga esportiva,
chamando os jogadores de verdadeiros heróis.
O Time foi
fundado em 1909, muito interessante, por que o campeonato amador carioca
começou em 1906 e já contava com uma liga secundária. Em 1902 a “Gazeta de
Noticias” noticiava a comemoração de quatro anos de fundação do time, foi
promovida uma grande festa para os sócios, Lobo Junior não poupa despesas e
realizou um dia inteiro de festas e brincadeira que podemos destacar a corrida de ovos na colher sendo segurada
pela boca, entre outros. No dia 27 de junho de 1912 houve um jogo entre o
Portinho x o Rio Branco, o jornal “O Imparcial” noticiou que o time do Rio
Branco embarcaria no trem às 12h12min na Praia da Formosa (estação Leopoldina).
No dia seguinte foi noticiada a grande vitória do Portinho em seus domínios.
Outra festa
que foi noticiada em veículos da imprensa escrita foi o aniversário do Lobo
Junior, no dia 8 de janeiro de 1915, o jornal “A época” noticiava a grande
festa de aniversário que ocorreu no dia 7 em sua bela vivenda, uma festa para
convidados exclusivos e que foi até a madrugada.
Mas a
chácara não vivia apenas de festas e comemorações, no dia 18 de dezembro de
1917 acontecia o enterro de uma figura muito importante para a região do
subúrbio, era velado na capela o senhor lavrador e proprietário das de Brás de
Pina o senhor Antonio do Carmo Rodrigues, seus filhos e viúvas fazem rezar uma
Missa na capela as 9 horas do dia 19 com o padre Vigário de Irajá Padre
Januário Tomei. Isso nos mostra que Lobo Junior tinha uma boa relação com seus
vizinhos de bairro.
A ideia de
construir o parque na antiga chácara foi do Governador do Estado da Guanabara
Carlos Lacerda (1960-1965) foi um grande administrador e realizou grandes obras
por toda a cidade, remoções de comunidades inteiras e criação de conjuntos
habitacionais. O jornal Pessoal & Gramsci e o Brasil trouxe em suas paginas
uma declaração do governador dizendo que queria construir mais parques pela
cidade, pois contava com poucos locais de diversão para a população.
O terreno de
50 mil metros quadrados onde seria construído o parque foi comprado por 20
milhões de cruzeiros junto ao Banco do Brasil que tinha leiloado o terreno de
Hugo Borghi. Poucas pessoas sabem que no terreno funcionava a escola Mario
Barreto, que quase toda semana estava sendo denunciada nos jornais pela sua
precariedade nas instalações e sua falta de higiene, a escola foi fechada em
1963 e os alunos transferidos para a Rua bento Cardozo , num local com apenas
dez salas de aula. As obras se iniciaram no ano de 1963 no mês de outubro,
sendo de responsabilidade de fiscalizar
do diretor de Parques da Guanabara Fernando Chacel. As obras seguiram de
forma acelerada, pois queria mostrar a toda população que poderiam construir um
parque dessa magnitude em tão pouco tempo, a obra deveria ser entregue em 1965.
A localização seria perfeita, pois está do lado do hospital Getúlio Vargas e do
recente viaduto construído João XXIII. O Valor estimado da obra foi de 150
milhões de Cruzeiros. O projeto dividia o Parque em três importantes áreas:
áreas dos lagos e cascatas (que era abastecido pelo reservatório), área
esportiva e área administrativa. Desde o começo o governo da Guanabara
fiscalizou quase que diariamente as obras, tanto que o jornal Correio da Manhã
na sexta feira do dia 10 de abril noticiou que o chefe do poder executivo iria
pessoalmente vistorias as obras do conjunto recreativo da Leopoldina.
O rio de
janeiro contava apenas com cinco grandes lugares de lazer para a população,
detalhe, nenhum no subúrbio carioca, nenhum para que a população mais pobre pudesse
desfrutar de um domingo de lazer, um dos poucos lugares ou talvez único do
subúrbio era a princesinha da Leopoldina, a Praia de Ramos. Os parques eram: Na
época a cidade só contava com cinco grandes parques: Quinta da Boa Vista, Campo
de Santana, Parque Viveiro de Vila Isabel, Parque Guinle e Parque da Cidade.
A construção
do parque ficou de responsabilidade do arquiteto Pedro Paulino Guimarães, que
pregou o projeto elaborado pela equipe de estudos e Projetos do Departamento de
parques, colocou seus toques pessoais e organizou todo o projeto. O terreno foi
um verdadeiro desafio, era um terreno rochoso, rocha essa de granito. A
vegetação apensar de pequena era bastante espessa. Ela foi cuidada devidamente
e complementada com uma massa de espécies arbóreas de floração rica e viva.
Mais de trezentas espécies de vegetação entre plantas e arvores foram trazias e
plantadas, importante citar que só de arvores existia 130 espécies.
Quaresmeiras roxas e rosas, ipês roxos, amarelos e brancos, mulungus, espatódeas,
flamboyants vermelhos, cássias amarelas e roxas. Árvores que medem de 3 a 5
metros de altura, vindas de São Paulo, chácaras particulares, viveiros da
Prefeitura e muitas são reutilizadas de áreas atingidas por obras e demolições.
Algumas mangueiras foram reemplantadas no parque, pois foram retiradas da área
onde foi construído o viaduto da Penha João XXIII. As cascatas artificiais são
movimentadas por bombas que fornecem uma lâmina de água de 10 cm de altura por
uma extensão de 3 metros. A água é bombeada da casa de bombas para a nascente,
desce em cachoeira sobre os dois lagos e é recolhida novamente para ser
bombeada. Sendo assim, a mesma água sem haver desperdícios, mas também há
registros que a água do reservatório foi usada algumas vezes para abastecer o
lago .A área de esportes terá 3 quadras (futebol e basquete) com arquibancadas
e um vestiário, área essa que pertencia a sede do Portinho F.C. A região
administrativa da Penha era o responsável de abrir e fechar os portões da obra.
O local era policiado por quatro guardas que se revezava (naquela época a
violência não era tanta) e foram usados 36 trabalhadores nas obras. A
administração do parque funcionava junto aos vestiários e sua principal função
era evitar novas construções que poderiam de alguma forma interferir no
tratamento paisagístico. Por isso o parque não teria bancos e as pessoas teriam
que aproveitar as muretas de concreto. Segundo o secretário de obras públicas,
uma das maiores preocupações dos arquitetos, era a beleza com que ficaria o parque.
A notícia se
espalha, a imprensa escrita e falada comenta o grande dia, rádio Tupi, Diário
de Noticias e Jornal do Brasil escreve sobre a grande inauguração Parque Ary
Barroso, parque esse que custou um total de CR$220.000.000,00(que recebeu essa
homenagem devido ao grande compositor ter morrido em 1964 e era grande
frequentador da festa da Penha). Ao mesmo tempo outros parques eram inaugurados
pela cidade, no dia 26 de setembro de 1965, às 15 horas, por portões eram
aberto, com uma grande festa com a participação dos alunos da Escola Normal da
Penha, que cantaram um hino inédito escrito pelo mestre Ary Barroso, o nome do
rio era Rio anos 400(1965 a cidade estava completando 400 anos). O parque foi o
primeiro e grande parque do subúrbio e que iria beneficiar toda a região da
Leopoldina, pois todos teriam acesso ao parque, antes a maioria se dirigia ao
Parque da quinta da Boa Vista. Houve até um aumento considerável de linhas de
ônibus para poder levar aqueles que desejavam visitar o parque e, além disso,
estava ocorrendo o processo do fim definitivo dos bondes.
Um fato
curioso é a história da cadela Bocanegra. A bichinha foi abandonada ainda no inicio das obras do
parque e foi rapidamente adotada pelos funcionários da obra. Durante o dia
ficava ao lado dos trabalhadores, a noite ajudava na segurança do parque,mesmo
depois das obras terem acabado e o parque aberto, Bocanegra adotou o lugar como
seu eterno lar, ficava descansando nas sombras das arvores e bebia água no
lago.Bocanegra não estava sozinha não, em meio as arvores existia dois macacos
que infernizava os freqüentadores do parque, fora que no lado existia no lago
peixes dourados, saracuras, gansos, jacus e pavões, era um verdadeiro paraíso
no subúrbio , as famílias se reunião todos os dias , mas principalmente nos
finais de semana. O Parque ficava aberto horário comercial e fechado durante a
noite.
Em janeiro
de 1969, é anunciada a construção da primeira piscina pública no interior do
Parque Ari Barroso. Em março esta idéia foi descartada, pois para que o projeto
fosse realmente a frente, teriam que retirar as quadras de esporte.
Outra
curiosidade é que por um tempo o parque mudou de nome, passou a se chamar
arraial do tri-campeão em homenagem ao time do Brasil campeão da copa do Mundo
de Futebol no México em 1970, isso foi até noticiado no “Correio da manhã” no
dia 24 de junho de 1970.
Infelizmente
pouco tempo depois de sua inauguração o processo de degradação do parque teve
seu inicio, com momentos de melhora, mas que por culpa de governo e da população
culminou no abandono do parque.
O Orgão que
tomava conta do parque, a Sursan( Superintendência de urbanização e saneamento)
foi extinta no inicio dos anos 70 e nenhum outro órgão assumiu a administração
do parque, passou a ficar totalmente abandonado, entregue a própria sorte, suas
instalações começaram a ficar degradadas. Apenas em 1972 foi criado outro
departamento para cuidar dos parques e jardins e voltou a cuidar do parque.
Imaginem um parque que tinha a média de mil pessoas visitando todos os domingos
ficava sem o cuidado necessário?
A cidade do
Rio de Janeiro passou por várias crises hídricas em sua história, um desses
anos foi o de 1974, a cidade enfrentou uma escassez de água, reservatórios em
baixa e a Penha e o Parque sofreu com isso. Como a água que já era pouca não
chegava ao alto dos morros em volta do parque, os moradores desciam para o
parque para tomar banho e lavar suas roupas, usavam o lago para realizar isso,
lembramos que isso era proibido, mas era muitas pessoas ao mesmo tempo e não
tinha como controlar. Em 1979 mesmo com várias atrações como campeonato de
pipas, colônias de férias e circo dentro do terreno do parque, o parque estava
enfrentando o abandono do governo público, além as instalações ficando ruins e
obsoletos, a segurança já não era motivos para elogios e a água já não era
limpa e tampouco boa usar em brincadeiras.Anos 80 começa uma reação em cadeira
onde todos os parques da cidade começam a ficar abandonados e toda a natureza
cuidada durantes anos começa a desaparecer e junto com eles, seus
frequentadores. Nessa mesma época começou a ter o registro dos primeiros casos
de assalto a populares, como não existia mais segurança e o parque abandonado,
estupros e assaltos eram constantes, usuários de drogas invadiam o terreno,
prostitutas usavam o local como ponto de sexto, e a cada dia que passava, o
número de frequentadores iria diminuindo. Em 1984 funcionou com menos da metade
dos funcionários (13 de 28), mas estava bem cuidado.
Frequentadores
só reclamavam das sujeiras geradas por religiosos que enchiam o parque seus
rituais e dos desocupados. O encarregado, na época, reclamava das pessoas que
invadiam o parque à noite. Pois os muros não haviam sido totalmente
construídos.
Em 1992 o
parque passou pela sua ultima grande reforma, o que trouxe um pouco de
dignidade, tanto que Dorinha faziam alguns show no local interpretando canções
de Ary Barroso, voltou a ter programas voltado para a população como aulas de
capoeira e aulas de Tai-Chi-Chuan, mas isso não iria durar muito tempo.
O globo. Com
realizou uma reportagem mostrando como um parque tão lindo em seu começo chegou
a esse estágio de completo abandono, mesmo depois da inauguração da Arena Dicró
e a implantação da base do exército, depois da UPP e da Upa ao lado, o parque
jamais voltou a ser aquele orgulho da Penha, nos dias de hoje praticamente
ninguém visita o local, exceto usuários de drogas e bandidos, todos tem medo de
ir para o lado do antigo lago e da cascata, o parque infelizmente acabou e como
suburbanos que amam nosso querido bairro e nosso parque, deveríamos olhar com
carinho para esse monumento histórico, esse monumento que conta um pouco da
história não apenas da Penha, mas de todo Rio de janeiro.
-Carlos
Lacerda assinou o decreto definindo o nome do parque em 13 de fevereiro de
1964:
“O parque em
construção na Penha, entre as ruas Flora Lobo e Lobo Junior e a av. Brás de
Pina, em frente ao Hospital Getúlio Vargas e Viaduto João XXIII, passa ter a
denominação Oficial de Ari Barroso” (Diário Carioca – Edição:11015/pág.6)