terça-feira, 9 de julho de 2024

 POSTO 11- CONHECENDO O POSTO 11.


IMAGEM RETIRADA DA PÁGINA MEMÓRIA SUBÚRBIO CARIOCA 

( o texto vai abordar apenas o começo da magnífica história do posto 11, uma homenagem a uma edificação que ajudou a salvar milhares de vidas suburbanas).

FORMAÇÃO DO SUBÚRBIO: SEUS PRIMEIROS MORADORES

Como podemos falar de um posto de saúde e sua atuação sem falar do contexto da formação dos bairros que o cercam? Como esses bairros se formaram, qual era o perfil dos primeiros moradores, o que eles passavam e por que surgiu a necessidade da construção do posto? Iremos observar que o subúrbio nasce e cresce em meio a problemas graves e à ausência do poder público. Uma série de fatores contribuiu para que epidemias se alastrassem pela região, tornando "obrigatória" a construção de um local para cuidar da saúde.

Antes dos atuais bairros que cresceram em volta da linha férrea da Leopoldina, essas regiões eram basicamente preenchidas por grandes chácaras e fazendas, com poucas pessoas morando por aqui. Podemos comprovar isso com os censos realizados antes da inauguração da Estrada de Ferro da Leopoldina. Em 1821, a freguesia de Irajá apresentava 3.757 pessoas, lembrando que nessa época a freguesia englobava bairros até a zona oeste. Já em 1838, 5.034 pessoas moravam na freguesia.

Com a chegada do trem, a movimentação de produtos e pessoas começou a crescer rapidamente e o deslocamento dos mais pobres em direção a esses locais, agora loteados por empresas ou por grandes famílias, criou, com o passar do tempo, o Subúrbio e a Zona Oeste. Para quem não conhece a história da cidade, no início do século XX, iniciou-se um movimento de modernização de toda a região central da cidade, abrindo novas ruas, reformando prédios, melhorando sistemas de iluminação e esgoto e retirando os mais pobres para regiões inóspitas da cidade. Quando Pereira Passos colocou seu grande plano em prática, a BELLE ÉPOQUE, milhares de casas foram derrubadas, pessoas mal foram indenizadas e muitas delas partiram para os morros ou procuraram outros lugares longe do moderno centro da cidade.

Depois da modernização, o Centro da Cidade tornou-se um local muito valorizado e caro para se morar, já que os governantes adotaram um modelo de cidade diferente do que estava em alta no momento: o estilo americano, onde os mais ricos e poderosos se dirigem às periferias e as regiões centrais ficam reservadas para os trabalhadores, pois o deslocamento seria menor e o rendimento no trabalho seria maior. Com o afastamento dos trabalhadores, a formação do subúrbio foi pautada no uso dos trens para o deslocamento, depois na construção de estradas e na introdução dos bondes. Estradas e ruas foram muitas vezes abertas pelos antigos donos das fazendas que loteavam o local ou pelas empresas que compravam essa mesma terra e abriam ruas.

A cidade começa a ser dividida em núcleos que se definem por área, uma divisão social que vai se mostrando a cada bairro que se afasta mais da zona central. Segundo estudos, podemos dividir a cidade em três grandes núcleos que servem para definir bem sua representatividade: Núcleo Central, Núcleo Suburbano I e Núcleo Suburbano II.

Penha e Olaria, que serão os bairros apresentados, pertencem ao Núcleo Suburbano I, divisão periferia, que tem características próprias de ocupação e cada bairro com suas particularidades.

Antes de nascerem como bairros, ambos os territórios pertenciam à freguesia de Irajá. Essa freguesia foi criada em 1644 e confirmada pelo Alvará de 10 de fevereiro de 1647. Ambos os bairros eram ocupados por grandes fazendas e possuíam litoral com presença de pequenos portos para escoar a produção dessas fazendas.

O bairro da Penha ganhou esse nome graças à Igreja de Nossa Senhora da Penha. Nesse local, podemos destacar o Quilombo da Penha, uma antiga chácara comprada pelo padre Ricardo para receber escravizados fugitivos e protegê-los. O fazendeiro Lobo Jr., junto com o padre Ricardo, alavancou e ajudou no crescimento do pequeno e antigo arrabalde. No mesmo período, as terras das “olarias” estavam sendo loteadas pela família Rego, e perto de onde seria aberto no futuro um posto de saúde, estava sendo inaugurado um pequeno açougue que mais tarde se tornaria o matadouro da Penha (que ficava em Olaria).

Os primeiros moradores dessa região, atraídos pelos preços e pela facilidade da venda dos terrenos, eram em sua maioria de origem humilde. Claro que o local, pela proximidade do mar e pelo crescimento do comércio em volta da linha de ferro, também atraiu comerciantes portugueses e brasileiros em busca de oportunidades. Porém, a esmagadora maioria era composta por pessoas da classe C em busca de uma melhor condição de vida. Os primeiros anos foram difíceis para esses moradores.

O governo carioca se preocupou apenas com infraestrutura e condições de moradia para a região central. O subúrbio, assim como boa parte da zona norte (exceto pelos bairros centrais), praticamente se desenvolveu com a mão de obra dos próprios moradores. As grandes imobiliárias ou famílias que loteavam as antigas fazendas apenas abriram ruas e construíram casas, não se preocupando com transporte, água, eletricidade ou saneamento básico (salvo em situações raras). Isso tudo ficou a cargo desses moradores, que abriram bicas públicas para uso de água, andavam vários quilômetros para conseguir transporte ou se deslocavam de um bairro para o outro pelo meio do mato, pois as estradas eram poucas ou praticamente inexistentes. Posso usar uma reportagem do jornal “A NOITE” de 1912, onde o povo de Cordovil reclamava que, para se chegar a Braz de Pina, era necessário “dar a volta” pela Estrada do Quitungo, já que não havia uma ligação direta entre os dois bairros.

É nesse contexto que nasce a necessidade de cuidar da saúde das pessoas, resultando na criação de um posto de saúde.


INICIANDO A HISTÓRIA: O POSTO NASCE


1933 A BATALHA - 20 DE JULHO 


Para entender a necessidade de um posto de saúde na região, é preciso compreender que a cidade naquele momento vivia um período de problemas na saúde pública que atingia em cheio a antiga zona rural, ainda em processo de transformação. Não apenas na esfera da saúde, mas também em questões estruturais e sociais. O subúrbio cresceu sem um planejamento feito pelo poder público, os primeiros moradores viviam pegando água em bicas públicas ou nos leitos dos rios, luz elétrica era luxo, e sem transporte decente, a situação se tornava complicada.

A explosão populacional suburbana ocorreu entre 1914 e 1918, período em que se intensificou o embelezamento do centro da cidade. Além dos moradores mais pobres que estavam sendo expulsos de suas casas, outro fator que contribuiu muito para esse “êxodo” foi a inauguração de diversas unidades militares por toda a antiga região rural.


1941- O IMPARCIAL 


Entrando no que nos interessa, que é a saúde, a cidade viveu diversas epidemias que assolaram a população: febre amarela, tifo, peste bubônica e varíola. No início do século passado, devido ao grande caos enfrentado, houve no centro uma campanha encabeçada por Oswaldo Cruz com o objetivo de vacinar, de forma obrigatória, todos os cariocas. Isso gerou, mais adiante, a Revolta da Vacina. A doença que assolava os cariocas naquele momento era a varíola. Ela foi controlada, assim como outras doenças, mas isso se deu apenas na região central da cidade, não no subúrbio da Leopoldina.

A chegada de pessoas ao subúrbio trouxe com elas patologias que encontraram no ambiente rural um local propício para rápida proliferação. Uma grande epidemia que atingiu a nossa região foi a popularmente conhecida como “tifo” ou febre tifoide, que entre os anos de 1910 e 1930 devastou o subúrbio. Relatos de pessoas com carroças levando diversos corpos eram bem comuns na época. O sistema de saúde pública era extremamente precário; grande parte das pessoas que moravam aqui era doente. Além do tifo, malária e febre amarela também estavam presentes. Nosso sistema contava apenas com um grande hospital: a Santa Casa de Misericórdia, e um posto no Méier, tornando impossível cuidar da saúde do povo leopoldinense.

A Leopoldina era cortada por grandes bacias hidrográficas e um belo litoral que se estendia de Cordovil ao Caju. Quando havia uma grande chuva, era comum que rios como Irajá e Faria-Timbó transbordassem, espalhando ratos para todos os lados. Todos esses fatores fizeram com que o governo tomasse a iniciativa de criar um pequeno posto de saúde na freguesia mais populosa: Irajá, que apresentava números de crescimento consideráveis. A população da freguesia saltou de 3.757 em 1821 para 13.130 em 1890, e em 1920 já eram 99.586.

CASA DE SAÚDE NÚMERO 11! Um dia de festa para ser celebrado. Finalmente, a freguesia de Irajá e os novos bairros ganhavam um posto para salvar vidas. Chega de um deslocamento quase impossível até o centro ou Méier. Em um dia de sol de março, no dia vinte e quatro pela manhã, diversos jornais acompanharam a comitiva. Um pequeno prédio, onde hoje está a região administrativa da Penha, ao lado da biblioteca, foi o local escolhido. O presidente da República, Venceslau Brás, pegou seu trem na Central do Brasil em direção à Penha, mas não foi para visitar a basílica no alto do morro. Ele foi para dar o pontapé inicial do posto que mudaria a vida de milhares de pessoas. A Penha ainda era considerada o interior do país. Seus secretários, junto a ele, fiscalizaram a nova estrutura e o local para futuros investimentos.

O chefe de polícia Aurelino Leal, junto com todos os funcionários que trabalhavam no posto — que foi aberto oficialmente em 1917, mas teve sua verdadeira inauguração meses depois, já em 1918, funcionando a plena capacidade — recepcionaram Venceslau e trocaram informações como estatísticas, número de pacientes, do que precisavam. Mostraram que no mês de fevereiro o posto atendeu 800 pessoas, e cerca de 10% das pessoas sofriam de alguma enfermidade que precisava de observação, mas todas foram curadas em cinco dias. A maior parte dos moradores não completava o tratamento devido à dificuldade de locomoção ou falta de condições financeiras, e o posto não tinha estrutura para acompanhar os pacientes em suas residências. O presidente ouviu as reivindicações e prometeu melhorias para o posto e o bairro.




Devido à dificuldade de se chegar à Penha, muitos dos funcionários sofriam para ir trabalhar, e o diretor Pena sugeriu a construção de dormitórios para pacientes e trabalhadores. Isso levaria a uma maior qualidade de vida para ambos e a um crescimento da produtividade.

Os primeiros anos do posto foram uma verdadeira aventura, pois ele enfrentou um grande mal do subúrbio: a febre tifoide. Esses primeiros anos de atuação foram cruciais para salvar vidas. Ao contrário do que o presidente prometeu, nunca houve um investimento intenso que ajudasse o posto a ampliar sua capacidade. Pelo contrário, conforme o subúrbio se expandia, o número de adoecidos crescia, e o posto começou a não comportar o número de pessoas. Infelizmente, isso gerou uma série de reclamações nos anos vinte que só veio a melhorar com a criação do Hospital Getúlio Vargas nos anos 30.


1941- O RADICAL 





TEXTO E PESQUISA REALIZADO POR : PAULO JORGE- HISTORIADOR E ACADÊMICO DE JORNALISTA- PÓS GRADUANDO . 
HISTORIADOR FORMADO PELA UNISUAM 
ACADÊMICO PELA UNICESUMAR.
COLABORADOR DAS PÁGINAS "NETLUSA" E "FANÁTICOS PELO CESSO".
UM DOS AUTORES DO LIVRO : JOÍA DA PRINCESINHA- 90 ANOS DA IGREJA DE SANTA CECÍLIA. 
REPORTER DE MÍDIAS E PLANTÃO DE NOTÍCIAS DA RÁDIO GAMA
PESQUISADOR DO SUBÚRBIO CARIOCA

domingo, 28 de janeiro de 2024

Reconhecimento de títulos

TEXTO RETIRADO JORNAL O GLOBO .
'Campeões esquecidos' do Carioca lutam por reconhecimento de títulos após sucesso no São Cristóvão 

No fim do ano passado, o São Cristóvão conseguiu a oficialização do título carioca de 1937, concluindo um processo que tramitou por cerca de um ano nos bastidores da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) e deu o bicampeonato estadual ao clube da Zona Norte. Após 86 anos em que esta parte da história foi deixada de lado, o Cadete pode ter puxado a fila em definitivo para que outros seis clubes consigam este importante reconhecimento.

A Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT) organizava o campeonato oficialmente entre 1917 e 1923. Naquele último ano, o Vasco conquistou o torneio com uma equipe que contava com jogadores negros e operários, o que levou os clubes da elite a fundarem a Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA).

O cruz-maltino ficou na LMDT e a venceu em 1924 — título reconhecido —, mas se transferiu no ano seguinte. Só que o torneio seguiu existindo. De 1925 a 1932, quando o profissionalismo se estabeleceu no futebol brasileiro, seis clubes faturaram a LMDT.

O título do São Cristóvão veio em outro contexto, em uma temporada onde o Carioca ainda vivia uma cisão por conta da briga pelo modelo amador, e o clube venceu a liga que era considerada profissional, organizada pela Federação Metropolitana de Desportos (FMD). Porém, uma conciliação no meio do caminho ignorou o título e terminou com um torneio onde o Fluminense foi campeão.

— Era um time muito bom. Inclusive, tinha dois jogadores na seleção brasileira que jogou a Copa do Mundo de 1938: o atacante Roberto e o meia Afonsinho. O treinador do São Cristóvão era da seleção: Ademar Pimenta. Não era um São Cristóvão qualquer — disse ao GLOBO o jornalista André Luiz Pereira Nunes, responsável por conduzir a pesquisa sobre o título.

Ele deu sequência ao trabalho do historiador Raymundo Quadros, autor do livro "O Campeão Esquecido", mas que não havia conseguido sucesso em reivindicações anteriores. Fazendo um esforço voluntário, montou um requerimento baseado em provas cabais daquele torneio.

Moção pode ajudar
O São Cristóvão teve um caminho um pouco mais facilitado, por ainda ser um clube com atividades no futebol profissional. Por isso, pôde pleitear o reconhecimento na Ferj, decidido em uma assembleia no final do ano, após aprovação unânime.

Para os outros clubes, a situação é mais difícil, pois nenhum está filiado à federação, alguns mantém atividades apenas sociais, ou mesmo estão extintos. São eles: Engenho de Dentro (campeão em 1925); Modesto, de Quintino (1926 e 1927); SC América, do Lins de Vasconcelos (1928 e 1929); Sportivo Santa Cruz (1930); Oriente, de Santa Cruz (1931) e SC Boa Vista, do Alto da Boa Vista (1932).

Como a Ferj é uma instituição privada, que não reconheceria esses títulos por benfeitoria, nasceu uma moção na Câmara dos Vereadores do Rio, que tramita desde dezembro de 2022, de autoria do hoje deputado federal Tarcísio Motta (PSOL). Caso ela seja aprovada, os "campeões esquecidos" ganhariam uma força adicional para abrir o processo oficial na federação, mas sem garantia de sucesso.

O clube mais bem representado atualmente é o Engenho de Dentro (EDAC), que sobrevive no futsal. O chamado "Fantasma Suburbano" ressurgiu em 2020, graças ao trabalho do historiador Allan da Silva, apaixonado pelo bairro que começou a se aprofundar nas pesquisas. Após dez títulos vencidos em 12 finais nos 12 torneios disputados desde o retorno às quadras, ele é um entusiasta de que o reconhecimento não apenas faria jus à história da instituição, mas poderia ajudar a devolvê-la aos gramados.

— O EDAC esteve no triangular final de 1924, em que o Vasco foi campeão, inclusive com quatro jogadores que eram do EDAC, como o goleiro Nelson Conceição. O subúrbio precisa dos títulos para ser visto. Vários jogadores que foram campeões em outros clubes tiveram sua origem aqui — aponta Allan ao GLOBO. — O reconhecimento ajudaria muito com visibilidade e atrairia patrocinadores. Não estamos na Ferj, mas a intenção é tentar voltar a disputar o Carioca de futsal da federação, ou até a de campo — admitiu.

Exthyntos
Ele é mais um caso de um apaixonado pelo futebol que não mede esforços para que a história do futebol carioca seja recontada, apesar de não terem legitimidade jurídica para brigar oficialmente. Ao lado de André, que fez o trabalho para que o São Cristóvão tivesse êxito, o grupo chamado "Exthyntos Social Clube" — na ortografia clássica da língua portuguesa — representa os outros clubes.

Entre os nomes envolvidos, estão o de Kleber Monteiro, biólogo que pesquisa sobre futebol e foi responsável por promover a moção na Câmara, e Luciano Vincler, autor do portal "Futebol no Rio" e do livro "Os Esquecidos", que ajudou a embasar o processo.

A inspiração vem de São Paulo, onde a Federação Paulista homologou 104 títulos esquecidos ao final de 2021, de várias divisões, incluindo de muitos clubes extintos. Inclusive, os cariocas tentam incluir dois títulos do segundo nível, o do GE Viação Excelsior (1933) e do EC São José, de Magalhães Bastos (1934), quando a LMDT se tornou uma sub-liga, antes de ser extinta no ano seguinte.

Isso ajudaria a dar ainda mais legitimidade a uma organização que, apesar de suburbana e não-oficial, tinha sua hierarquia. O título do São Cristóvão já foi considerado impossível, mas hoje está homologado. Os envolvidos projetam que o requerimento oficial possa sair esse ano, e ajudar os "campeões esquecidos" a colocarem seu nome oficialmente na história, quase um século depois.

OBS : Quem fez todo o processo de pesquisa, lançando livro, e montando o dossiê que foi entregue a Celso Roberto e o Presidente Emanuel,foi o historiador Raymundo Quadros.

fonte : O Globo

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