terça-feira, 21 de março de 2017

PARQUE ARY BARROSO: UMA CHACARÁ, UM LOBO JUNIOR, UM PARQUE.....

 Depois de várias reuniões durante a noite, conversar no whatsapp, debates, tiros e bombas, decidi escrever sobre   todo o processo que ocorreu para transformar uma chácara num dos parques mais conhecidos do subúrbio carioca, o Parque Ary Barroso. Vamos todos através dessa leitura romper a linha do tempo e conhecer uma Penha ainda em desenvolvimento, mas que já abrigava pessoas importantes e acontecimentos impares, que com o passar do tempo, a chácara foi vendida, onde no terreno existiu escola, reservatório e nos dias de hoje um parque mal cuidado e abandonado.






A história do parque começa exatamente no longínquo ano de 1868 em Portugal , quando nasceu o homem responsável de colocar no mundo o grande nome das terras da Penha, nascia Francisco Lobo Junior. Ainda não tem muitos registros ou trabalhos historiográficos sobre a chegada da família em terras brasilis, mas sabemos que assim que a família chegou aqui adquiriu uma boa parte do antigo arraial da Penha, mas como escrevi acima, que faria a diferença para o crescimento do bairro seria seu filho José Francisco Lobo Junior.

Vamos imaginar aquela região do parque Ary barroso um grande arraial, ou se preferir uma grande fazenda, com varias cabeças de boi e plantações, dentro havia construções que serviam de morada de toda a família e inclusive uma pequena capela particular. Na descida, uma estrada( conhecida como estrada do Portinho- atual Lobo Junior) que levava direto a praia da Moreninha. O nome do local era Chácara das Palmeiras e ficava exatamente aonde é o parque, encostado ao morro da caixa d’agua, antes chamado serra da Misericórdia. Uma boa tarte da Penha e Penha Circular pertencia a esse arraial. Deveria ser um lugar muito bonito não? Mas vamos  continuar nossa viagem.

Lobo Junior era um nome muito influente tanto na parte política, tanto na parte religiosa, ara um homem empreendedor. Uma grande demonstração de sua influencia perante a todas as esferas da sociedade, foi criada uma pequena estação de trem, chamada parada Lobo Junior que mais para frente foi derrubada e no local colocada uma linha circular (1930), que se destinava a permitir o retorno dos trens do subúrbio que vinham da estação Barão de Mauá, o que num momento mais a frente se tornaria a estação Penha circular. Mas sua Influencia não se limitava apenas isso, Lobo Junior conseguiu água, luz e pavimentação para a Av. Braz de Pina. Ele também construiu várias casas no inicio do bairro, doando ou vendendo parte de suas terras, podemos citar aqui dois exemplos de áreas doadas que hoje todos que passam pela Penha conhecem, alias  um conhecem até de mais o outro pouquíssimas pessoas sabem que ele existe.














O terreno onde fica o reservatório da penha foi desmembrado da chácara das Palmeiras no dia 08/08/1911, lembra quando eu disse que Lobo Junior trouxe água para a Penha?  Não foi apenas para  Penha, esse reservatório abasteceu Bonsucesso, Ramos, Olaria,Penha,Brás de Pina, Cordovil e Vigário Geral. O reservatório foi inaugurado em 1914 e era considerado um verdadeiro marco da engenharia e uma inovação, pois usou uma técnica nova, o concreto armado, ele era totalmente descoberto, tinha forma tronco-cônica, dividido em dois compartimentos. Ao centro um grande poço cilíndrico com aparelhos de manobra com capacidade de 2.000 metros cúbicos d’água. O reservatório está na serra da misericórdia- hoje morro da caixa d’água- e ocupa uma área de 2.449,30 metros quadrados. Foi desativado no final dos anos 80.

Outra parte do terreno da chácara que foi cedida para a construção de algo que ajudaria durante anos foi o terreno do hospital Getúlio Vargas. Cedido por Lobo Junior, o hospital demorou a ser construído, foi inaugurado no dia 3 de dezembro de 1936 no governo do prefeito do distrito federal Pedro Ernesto (1935-1936).


Resultado de imagem para foto hospital getulio vargas inauguração rj




Voltando para a antiga chácara, como eu escrevi antes, dentro do terreno além de existir construções para morada do Coronel e família , existia a capela particular de Lobo Junior, a capela de Santo Antônio e Bom Jesus do Monte, era pequena mais muito usada pela família para comemorações e até velórios. Na época sempre saiam reportagens em jornais de grande circulação sobre acontecimentos a ser realizados dentro da capela e nas dependências. Chegou a sair no jornal um pedido de Lobo Junior para que se coloque o capelão de seu desejo para celebrar missas em sua capela (Jornal “A União- 13 junho de 1906).O jornal do Brasil do dia 20 de junho de 1905 registrou festejos em comemoração ao dia de santo Antonio com missa e sermão do Vigário da Penha Padre Tomel. Essas festas aconteciam todos os anos como mostra o jornal “O Paiz” do dia 23 de junho de 1907 que relata festas na parte interna e externa da capela particular de Lobo Junior e avisa que haveria uma missa as 09 horas da manhã para encerrar os festejos.Mas não era apena a festa de Santo Antonio  que fazia a pequena capela ficar lotada, no dia 22 de setembro de 1907 o jornal Correio da manhã noticiava comemorações do dia de São Cosme e Damião e o proprietário da chácara abria suas portas para a realização da festa nos dias 27 e 28, haveria uma procissão que sairia da chácara comandada pelo Vigário de Irajá e a segurança seria feita pela brigada do 15 batalhão.
Estamos vendo que a chácara era um lugar bem movimentado, muitos festejos, mas quero apresentar outra surpresa para vocês, a Penha já teve um time amador de futebol e campeão.

Não acredita?

Sim amigos, era o Portinho F.C,  o nome do time foi dado por causa da estrada do Portinho, que era em frente a chácara e levava até a praia da Moreninha, mais tarde com a morte do Lobo Junior ganhou o nome de av. Lobo Junior. A sede social e o campo do time ficavam dentro da chácara. O time era amador, mais muito bom, ganhando vários jogos e torneiros por todo o Rio de Janeiro. O jornal “O Malho” trouxe uma parte especial de seu jornal do dia 15 parabenizando o time pela conquista do campeonato da liga esportiva, chamando os jogadores de verdadeiros heróis.
O Time foi fundado em 1909, muito interessante, por que o campeonato amador carioca começou em 1906 e já contava com uma liga secundária. Em 1902 a “Gazeta de Noticias” noticiava a comemoração de quatro anos de fundação do time, foi promovida uma grande festa para os sócios, Lobo Junior não poupa despesas e realizou um dia inteiro de festas e brincadeira que podemos destacar  a corrida de ovos na colher sendo segurada pela boca, entre outros. No dia 27 de junho de 1912 houve um jogo entre o Portinho x o Rio Branco, o jornal “O Imparcial” noticiou que o time do Rio Branco embarcaria no trem às 12h12min na Praia da Formosa (estação Leopoldina). No dia seguinte foi noticiada a grande vitória do Portinho em seus domínios.
Outra festa que foi noticiada em veículos da imprensa escrita foi o aniversário do Lobo Junior, no dia 8 de janeiro de 1915, o jornal “A época” noticiava a grande festa de aniversário que ocorreu no dia 7 em sua bela vivenda, uma festa para convidados exclusivos e que foi até a madrugada.
Mas a chácara não vivia apenas de festas e comemorações, no dia 18 de dezembro de 1917 acontecia o enterro de uma figura muito importante para a região do subúrbio, era velado na capela o senhor lavrador e proprietário das de Brás de Pina o senhor Antonio do Carmo Rodrigues, seus filhos e viúvas fazem rezar uma Missa na capela as 9 horas do dia 19 com o padre Vigário de Irajá Padre Januário Tomei. Isso nos mostra que Lobo Junior tinha uma boa relação com seus vizinhos de bairro.


O Parque Ary Barroso


Resultado de imagem para foto parque ary barroso

A idéia de construir o parque na antiga chácara foi do Governador do Estado da Guanabara Carlos Lacerda (1960-1965) foi um grande administrador e realizou grandes obras por toda a cidade, remoções de comunidades inteiras e criação de conjuntos habitacionais. O jornal Pessoal & Gramsci e o Brasil trouxe em suas paginas uma declaração do governador dizendo que queria construir mais parques pela cidade, pois contava com poucos locais de diversão para a população.

O terreno de 50 mil metros quadrados onde seria construído o parque foi comprado por 20 milhões de cruzeiros junto ao Banco do Brasil que tinha leiloado o terreno de Hugo Borghi. Poucas pessoas sabem que no terreno funcionava a escola Mario Barreto, que quase toda semana estava sendo denunciada nos jornais pela sua precariedade nas instalações e sua falta de higiene, a escola foi fechada em 1963 e os alunos transferidos para a Rua bento Cardozo , num local com apenas dez salas de aula.As obras se iniciaram no ano de 1963 no mês de outubro, sendo de responsabilidade de fiscalizar  do diretor de Parques da Guanabara Fernando Chacel. As obras seguiram de forma acelerada, pois queria mostrar a toda população que poderiam construir um parque dessa magnitude em tão pouco tempo, a obra deveria ser entregue em 1965. A localização seria perfeita, pois está do lado do hospital Getúlio Vargas e do recente viaduto construído João XXIII. O Valor estimado da obra foi de 150 milhões de Cruzeiros. O projeto dividia o Parque em três importantes áreas: áreas dos lagos e cascatas (que era abastecido pelo reservatório), área esportiva e área administrativa. Desde o começo o governo da Guanabara fiscalizou quase que diariamente as obras, tanto que o jornal Correio da Manhã na sexta feira do dia 10 de abril noticiou que o chefe do poder executivo iria pessoalmente vistorias as obras do conjunto recreativo da Leopoldina.
O rio de janeiro contava apenas com cinco grandes lugares de lazer para a população, detalhe, nenhum no subúrbio carioca, nenhum para que a população mais pobre pudesse desfrutar de um domingo de lazer, um dos poucos lugares ou talvez único do subúrbio era a princesinha da Leopoldina, a Praia de Ramos. Os parques eram: Na época a cidade só contava com cinco grandes parques: Quinta da Boa Vista, Campo de Santana, Parque Viveiro de Vila Isabel, Parque Guinle e Parque da Cidade.

A construção do parque ficou de responsabilidade do arquiteto Pedro Paulino Guimarães, que pregou o projeto elaborado pela equipe de estudos e Projetos do Departamento de parques, colocou seus toques pessoais e organizou todo o projeto. O terreno foi um verdadeiro desafio, era um terreno rochoso, rocha essa de granito. A vegetação apensar de pequena era bastante espessa. Ela foi cuidada devidamente e complementada com uma massa de espécies arbóreas de floração rica e viva. Mais de trezentas espécies de vegetação entre plantas e arvores foram trazias e plantadas, importante citar que só de arvores existia 130 espécies. Quaresmeiras roxas e rosas, ipês roxos, amarelos e brancos, mulungus, espatódeas, flamboyants vermelhos, cássias amarelas e roxas. Árvores que medem de 3 a 5 metros de altura, vindas de São Paulo, chácaras particulares, viveiros da Prefeitura e muitas são reutilizadas de áreas atingidas por obras e demolições. Algumas mangueiras foram reemplantadas no parque, pois foram retiradas da área onde foi construído o viaduto da Penha João XXIII. As cascatas artificiais são movimentadas por bombas que fornecem uma lâmina de água de 10 cm de altura por uma extensão de 3 metros. A água é bombeada da casa de bombas para a nascente, desce em cachoeira sobre os dois lagos e é recolhida novamente para ser bombeada. Sendo assim, a mesma água sem haver desperdícios, mas também há registros que a água do reservatório foi usada algumas vezes para abastecer o lago .A área de esportes terá 3 quadras (futebol e basquete) com arquibancadas e um vestiário, área essa que pertencia a sede do Portinho F.C. A região administrativa da Penha era o responsável de abrir e fechar os portões da obra. O local era policiado por quatro guardas que se revezava (naquela época a violência não era tanta) e foram usados 36 trabalhadores nas obras. A administração do parque funcionava junto aos vestiários e sua principal função era evitar novas construções que poderiam de alguma forma interferir no tratamento paisagístico. Por isso o parque não teria bancos e as pessoas teriam que aproveitar as muretas de concreto. Segundo o secretário de obras públicas, uma das maiores preocupações dos arquitetos, era a beleza com que ficaria o parque.
A notícia se espalha, a imprensa escrita e falada comenta o grande dia, rádio Tupi, Diário de Noticias e Jornal do Brasil escreve sobre a grande inauguração Parque Ary Barroso, parque esse que custou um total de CR$220.000.000,00(que recebeu essa homenagem devido ao grande compositor ter morrido em 1964 e era grande frequentador da festa da Penha). Ao mesmo tempo outros parques eram inaugurados pela cidade, no dia 26 de setembro de 1965, às 15 horas, por portões eram aberto, com uma grande festa com a participação dos alunos da Escola Normal da Penha, que cantaram um hino inédito escrito pelo mestre Ary Barroso, o nome do rio era Rio anos 400(1965 a cidade estava completando 400 anos). O parque foi o primeiro e grande parque do subúrbio e que iria beneficiar toda a região da Leopoldina, pois todos teriam acesso ao parque, antes a maioria se dirigia ao Parque da quinta da Boa Vista. Houve até um aumento considerável de linhas de ônibus para poder levar aqueles que desejavam visitar o parque e, além disso, estava ocorrendo o processo do fim definitivo dos bondes.

Resultado de imagem para foto parque ary barroso



Um fato curioso é a história da cadela Bocanegra. A bichinha  foi abandonada ainda no inicio das obras do parque e foi rapidamente adotada pelos funcionários da obra. Durante o dia ficava ao lado dos trabalhadores, a noite ajudava na segurança do parque,mesmo depois das obras terem acabado e o parque aberto, Bocanegra adotou o lugar como seu eterno lar, ficava descansando nas sombras das arvores e bebia água no lago.Bocanegra não estava sozinha não, em meio as arvores existia dois macacos que infernizava os freqüentadores do parque, fora que no lado existia no lago peixes dourados, saracuras, gansos, jacus e pavões, era um verdadeiro paraíso no subúrbio , as famílias se reunião todos os dias , mas principalmente nos finais de semana. O Parque ficava aberto horário comercial e fechado durante a noite.

Em janeiro de 1969, é anunciada a construção da primeira piscina pública no interior do Parque Ari Barroso. Em março esta idéia foi descartada, pois para que o projeto fosse realmente a frente, teriam que retirar as quadras de esporte.
Outra curiosidade é que por um tempo o parque mudou de nome, passou a se chamar arraial do tri-campeão em homenagem ao time do Brasil campeão da copa do Mundo de Futebol no México em 1970, isso foi até noticiado no “Correio da manhã” no dia 24 de junho de 1970.
Infelizmente pouco tempo depois de sua inauguração o processo de degradação do parque teve seu inicio, com momentos de melhora, mas que por culpa de governo e da população culminou no abandono do parque.
O Orgão que tomava conta do parque, a Sursan( Superintendência de urbanização e saneamento) foi extinta no inicio dos anos 70 e nenhum outro órgão assumiu a administração do parque, passou a ficar totalmente abandonado, entregue a própria sorte, suas instalações começaram a ficar degradadas. Apenas em 1972 foi criado outro departamento para cuidar dos parques e jardins e voltou a cuidar do parque. Imaginem um parque que tinha a média de mil pessoas visitando todos os domingos ficava sem o cuidado necessário?
A cidade do Rio de Janeiro passou por várias crises hídricas em sua história, um desses anos foi o de 1974, a cidade enfrentou uma escassez de água, reservatórios em baixa e a Penha e o Parque sofreu com isso. Como a água que já era pouca não chegava ao alto dos morros em volta do parque, os moradores desciam para o parque para tomar banho e lavar suas roupas, usavam o lago para realizar isso, lembramos que isso era proibido, mas era muitas pessoas ao mesmo tempo e não tinha como controlar. Em 1979 mesmo com várias atrações como campeonato de pipas, colônias de férias e circo dentro do terreno do parque, o parque estava enfrentando o abandono do governo público, além as instalações ficando ruins e obsoletos, a segurança já não era motivos para elogios e a água já não era limpa e tampouco boa usar em brincadeiras.Anos 80 começa uma reação em cadeira onde todos os parques da cidade começam a ficar abandonados e toda a natureza cuidada durantes anos começa a desaparecer e junto com eles, seus frequentadores. Nessa mesma época começou a ter o registro dos primeiros casos de assalto a populares, como não existia mais segurança e o parque abandonado, estupros e assaltos eram constantes, usuários de drogas invadiam o terreno, prostitutas usavam o local como ponto de sexto, e a cada dia que passava, o número de frequentadores iria diminuindo. Em 1984 funcionou com menos da metade dos funcionários (13 de 28), mas estava bem cuidado.

Frequentadores só reclamavam das sujeiras geradas por religiosos que enchiam o parque seus rituais e dos desocupados. O encarregado, na época, reclamava das pessoas que invadiam o parque à noite. Pois os muros não haviam sido totalmente construídos.

Em 1992 o parque passou pela sua ultima grande reforma, o que trouxe um pouco de dignidade, tanto que Dorinha faziam alguns show no local interpretando canções de Ary Barroso, voltou a ter programas voltado para a população como aulas de capoeira e aulas de Tai-Chi-Chuan, mas isso não iria durar muito tempo.

O globo. Com realizou uma reportagem mostrando como um parque tão lindo em seu começo chegou a esse estágio de completo abandono, mesmo depois da inauguração da Arena Dicró e a implantação da base do exército, depois da UPP e da Upa ao lado, o parque jamais voltou a ser aquele orgulho da Penha, nos dias de hoje praticamente ninguém visita o local, exceto usuários de drogas e bandidos, todos tem medo de ir para o lado do antigo lago e da cascata, o parque infelizmente acabou e como suburbanos que amam nosso querido bairro e nosso parque, deveríamos olhar com carinho para esse monumento histórico, esse monumento que conta um pouco da história não apenas da Penha, mas de todo Rio de janeiro.

-Carlos Lacerda assinou o decreto definindo o nome do parque em 13 de fevereiro de 1964:
“O parque em construção na Penha, entre as ruas Flora Lobo e Lobo Junior e a av. Brás de Pina, em frente ao Hospital Getúlio Vargas e Viaduto João XXIII, passa ter a denominação Oficial de Ari Barroso” (Diário Carioca – Edição:11015/pág.6)


Bibliografia


 Facebook.com/subúrbiocarioca
Facebook.com/PenhaRJ
Instituto estadual de cultura
Freire, Américo: Guerra de posições na metrópole: a prefeitura e as empresas de ônibus no Rio de Janeiro (1906-1948). 1. Ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2001
Fraiha, Silvia: Ramos, Olaria e Penha.1.Ed.Rio de Janeiro: Editora:Fraiha
Letiere, Robson: Rio Bairros. 2.E.d- Editora própria.2015



sábado, 4 de fevereiro de 2017


 O Bonsucesso e suas ruas.


Resultado de imagem para foto bairro bonsucesso
















Quantos de nós caminhamos pelo nosso bairro e ficamos nos perguntando o por que a rua “x” tem esse nome? Quem foi “fulano de tal”? Então resolvemos fazer uma pequena pesquisa das principais ruas de Bonsucesso para vocês, caros leitores, aprenderem a origem de alguns nomes e a importância do nome escolhido. Então vamos viajar nesse mundo louco da história...

Devo antes de qualquer coisa explicar um pequeno detalhe sobre o bairro e sua história. Não vou me aprofundar nas origens, mas sim no início do loteamento das terras, o gênese do local.
Em 1900, Bonsucesso apresentava um traçado de várias ruas com nomes dos antigos proprietários e pessoas ligadas aos mesmos. Vindas do Porto de Inhaúma em direção à estação havia a Estrada do Porto de Inhaúma, a Rua da Proclamação, a Rua Dr. Luiz Ferreira (médico), a Rua Dr. Guilherme Frota (médico) e a Rua Nova Jerusalém. Vindas dos manguezais em direção à linha férrea a Rua João Torquato (médico), Rua Leonor Mascarenhas e Rua Teixeira Ribeiro (genro de João Torquato, este afilhado de Leonor Mascarenhas, última proprietária da Fazenda do Engenho da Pedra). Paralelas à linha do trem existiam ainda a Rua Nova do Engenho, hoje Teixeira de Castro; a Estrada da Penha, hoje Rua Cardoso de Moraes (médico e poeta); a Dr. Vieira Ferreira, a Regeneração e a Saldanha da Gama, desaparecida com a abertura da Avenida Brasil.
 O bairro de Bonsucesso começa a ter sua atual configuração em meados de 1914, quando Guilherme Maxwell , já dono das terras do antigo Engenho da Pedra, projeta um traçado e inicia  um processo de urbanização e loteamento do antigo engenho , criando ao passar a cidade dos Aliados, que era uma homenagem aos países que estariam combatendo a Alemanha na primeira Guerra, dai nasceu as ruas ou Avenidas Londres, Roma, Paris, Nova York e Bruxelas, bem como a Praça das Nações, onde se localizaria o centro comercial do bairro e onde se instalaria a nova estação, antes localizada na Praça Lopes Ribeiro.
O  antigo Caminho do Porto de Inhaúma, que com o de Itaóca ligava o antigo sertão por trás do Engenho da Pedra ao mar, era retificado e rebatizado com o nome deste empreendedor: Avenida Guilherme Maxwell.



RUA URANOS- antiga estrada que ligava a fazenda da Penha e que já foi parte da estrada Rio- Petrópolis. Os primeiros registros jornalísticos pesquisados são da década de 1940, quando o primeiros registros com o nome de Uranos foram feitos, podemos destacar a venda de vários terrenos ( correio da manhã) e por incrível que pareça, teve um ganhador da loteria , o senhor Anastécio Fiel em 1940( Jornal A noite ).


Resultado de imagem para foto rua uranos
foto: Rua uranos - altura de Ramos

RUA MARECHAL FOCH:
Ferdinand Foch PCTE (Tarbes, 2 de outubro de 1851 – Paris, 20 de março de 1929) foi um militar francês.
Comandou as forças da Tríplice Entente ou dos Aliados em 1914 de uma forma decisiva, levando à vitória do Marne. Dirigiu com êxito operações na Flandres; como adjunto de Joseph Joffre, coordenou as operações dos exércitos franceses, belgas e britânicos. Em 1917 assumiu o cargo de chefe de Estado-Maior do Exército Francês e em 1918 somou mais uma vitória ao conseguir ganhar a Segunda Batalha do Marne.
A 30 de Novembro de 1918 foi agraciado com a 1.ª Classe da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito de Portugal.[1]



RUA ITAOCÁ- Era o caminho que ligava o porto de Inhaúma e a praia de Inhaúma  a outros locais da freguesia de Inhaúma e fazia parte de uma rede de estradas que ligava o Engenho de Inhaúma ao engenho de Irajá e a antiga fazenda da Penha e também era usado como acesso a praia de Apicú (Ramos)  e Maria Angú (Penha). Essas estradas ligavam a parte rural da cidade até o centro do Rio, ainda fazia parte dessa rede de estradas a do Porto Velho de Irajá e Quitungo( ambas em Cordovil).


Resultado de imagem para praia de inhauma bonsucesso
Praia de Maria Angú

AV. LONDRES-AV PARIS- AV NOVA YORK-AV. BRUXELAS- Homenagem as nações aliadas Na primeira Guerra Mundial.

RUA CARDOSO DE MORAES- médico e poeta quase não se têm registros sobre a origem dele. No livro Ruas do Rio , o autor deixa em duvidada origem de Cardoso de Moraes e nem é certo que ele era médico e poeta.
Alguns fatos interessantes que podemos citar sobre a  Rua é um ganhados de um dos prêmios da sena, o senhor Joaquim Rosa , da casa número 15 da rua( Diário da Noite) . Em 1938 num café que existia na rua ,houve um homem baleado por arma de fogo( A Noite). Nos anos50, os moradores reclamaram com o prefeito da cidade sobre as condições da rua.

AV. GUILHERME MAXWELL -Engenheiro rico e boa influência, comprou as terras do antigo Engenho para fundar o novo bairro, o primeiro registro que pude encontrar a existência da rua é de 1917.


RUA GENERAL GALIENE:Joseph Simon Gallieni (Saint Beat, 24 de Abril de 1849 - 27 de Maio de 1916) foi um líder militar francês nas colônias francesas e na Primeira Guerra Mundial.

RUA SAINT HILAIRE- Uma rua sem ligação com a guerra. Augustin François César Prouvençal de Saint-Hilaire (Orleães, 4 de outubro de 1779 — Orleães, 3 de setembro de 1853) foi um botânico, naturalista e viajante francês.

Viajou alguns anos pelo Brasil, tendo escrito importantes livros sobre os costumes e paisagens brasileiros do século XIX. Comenta a "Brasiliana da Biblioteca Nacional", página 69: " A viagem do botânico Auguste de Saint-Hilaire ao Brasil foi paradigmática no que diz respeito à forma como os cientistas da Europa dita civilizada se relacionaram com o Brasil no início do século XIX. O francês veio para o Brasil em 1816, acompanhando a missão extraordinária do duque de Luxemburgo, que tinha por objetivo resolver o conflito que opunha Portugal e França quanto à posse da Guiana. Apesar de ter conseguido fazer parte da missão graças a suas relações pessoais, Saint-Hilaire obteve a aprovação do Museu de História Natural de Paris e financiamento do Ministério do Interior. O naturalista deixou o Brasil em 1822."

RUA DA LIBERDADE- Nome em alusão a vitória dos aliados na primeira guerra, quando se comemorou a liberdade do mundo das garras da poderosa Alemanha.

PRAÇA DAS NAÇÕES- reconhecida como logradouro em Outubro de 1918,  Nome dado ao encontro das nações amigas e aliadas na primeira guerra, em certo momento já teve bandeiras hasteadas dos países aliados.

Resultado de imagem para praça das nações




AV.TEIXEIRA DE CASTRO- Joaquim Teixeira de Castro, o visconde de Arcozelo, (Porto, 14 de fevereiro de 1825 — Paty do Alferes, maio de 1891) foi um médico, comerciante e fazendeiro brasileiro e nobre português. Quando o clube Bonsucesso foi fundado em 1912 a rua já existia, então esse deve ser o provável homenageado, mas por coincidência existiu um, também médico que foi um doss diretores mais conhecidos do clube e responsável direto por uma época de sucesso do clube, no jornal Gazeta de Noticias de 1928 ele aparece como diretor geral.

Rua Júlio Ribeiro- Júlio César Ribeiro Vaughan (Sabará, 16 de abril de 1845 — Santos, 1 de novembro de 1890) foi um escritor e gramático brasileiro.
Foi o criador da bandeira do estado de São Paulo, concebida em 1888 para ser a bandeira da república. Foi escolhido para o patronato da cadeira 24 da Academia Brasileira de Letras por seus membros fundadores. Essa rua antes de ganhar esse nome era chamada de travessa Bonsucesso (Jornal do Brasil – 1920).

Rua Bias Fortes- José Francisco Bias Fortes (Barbacena, 3 de abril de 1891 — Rio de Janeiro, 30 de março de 1971) foi um político brasileiro.Foi prefeito de Barbacena, entre 1937 e 1945, ministro da Justiça no governo de Eurico Gaspar Dutra, e governador de Minas Gerais, de 31 de janeiro de 1956 até 31 de janeiro de 1961.
O interessante de se registrar que nessa rua, em tempos que Bonsucesso se escrevia com “m”(Bomsucesso) , a rua aparecia várias vezes nos jornais da época, hora com venda de terrenos, hora com acidentes de carro( o Jornal 1939) , Fundação do Bloco Amofinados ( Gazeta 1922) e uma inusitada batalha de confetes e lança perfume( O Jornal 1925).

Rua Baturité- baturité em tupi-guarani significa literalmente: ¨o monte verdadeiro, legítimo¨(ibitira+eté),
O Real significado do topônimo Baturité é incerto porquanto as interpretações são bastante divergentes. Paulino Nogueira afirma que Baturité provém de ibi-tira-eté que significa Serra Por Excelência ou Serra Verdadeira.
Essa rua antes dos anos de 1920 era conhecida como travessa São Cristóvão, com se foi constatado na pesquisa no Jornal Diário Carioca, onde tinha um anuncia de uma casa a venda e o grande atrativo para comprar a casa era que ficava a poucos minutos da estação de Bonde.
Outro fato bastante interessante foi um acidente que houve onde o goleiro do time do Bonsucesso, Raymundo  se queimou para salvar a esposa. ( Diário Carioca 1935).

Rua João Torquato- médico também com poucos registros. A rua já aparece em vários periódicos a partir de 1910, com vários terrenos a venda.
Segundo o jornal “ O Paiz” de 1911, um homem perdidamente apaixonado e muito ciumento atacou a esposa a pancadas, devido a ciúmes com o vizinho.


Um espaço para o marcante Porto de Inhaúma- Porto de Inhaúma
Foi construído para escoamento da produção de açúcar e de aguardente de várias fazendas. A agro-manufatura perdura até o século XVII, sustentada por colonos, grandes proprietários e trabalho escravo. No auge da produção havia canoas, barcos a remo, embarcações maiores de carga, e até de passageiros para o centro da cidade. A estrada do Porto corria até o mar recebendo as vias que cortavam as fazendas da região. Em seu entorno formou-se um pequeno núcleo populacional e de comércio. Localizava-se onde hoje termina a Avenida Guilherme Maxwell no cruzamento com a rua da Praia de Inhaúma, área do atual conjunto Bento Ribeiro Dantas no sopé do Morro do Timbau.







http://memoria.bn.br/
Rio Bairros
Bairros do Rio
Evolução Urbana

Prefeitura do Rio

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

A LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA: O GÊNESE DO BAIRRO DE CORDOVIL E AS LUTAS SOCIOECONÔMICAS E CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO NO BAIRRO ENTRE 1910 E 1930
Paulo Jorge Gonçalves da Silva
RESUMO: A pesquisa foi realizada em cima de pesquisas de jornais antigos com o intuito de descobrir o perfil da população do bairro de Cordovil do início do século XX. Apontar todas as dificuldades enfrentadas pelas pessoas que começavam a estabelecer como residência o povoado que ainda viria se tornar bairro, passando antes pela história dos antigos donos e a sua relação com o governo do Rio de Janeiro. Traçar esse perfil foi de extrema dificuldade por não ter pesquisas ainda sobre quem eram as pessoas que foram em direção ao subúrbio, o que sabemos é que eram pobres, mas a intenção é tentar descobrir suas ocupações econômicas e seu perfil social usando uma visão de cunho marxista e a relação com a história social. Entender a pobreza com a falta de estrutura existente no local, a falta de investimento do governo e a relação população x poder público. Ao juntar toda a pesquisa, pretendo responder a duas perguntas: Qual o perfil dos primeiros moradores e o porquê do problema da falta de água e a violência no bairro.

PALAVRAS-CHAVE: Cordovil, Governo, água, violência

ABSTRACT: The research was carried out on the basis of surveys of old newspapers in order to discover the profile of the population of the Cordovil neighborhood of the early 20th century. To point out all the difficulties faced by the people who were beginning to establish as a residence the village that would still become a neighborhood, passing on the history of the former owners and their relationship with the government of Rio de Janeiro. Tracing this profile was extremely difficult because we did not have research on who the people were that went to the suburb, what we know is that they were poor, but the intention is to try to discover their economic occupations and their social profile using a vision Marxist and the relationship with social history. Understand poverty with the lack of existing structure in the locality, the lack of government investment and the relation population x public power. As I gather all the research, I want to answer two questions: What is the profile of the first residents and why is the problem of lack of water and violence in the neighborhood.

KEYWORDS: Cordovil, Government, water, violence














INTRODUÇÃO

O Rio de Janeiro, com os seus mais de 160 bairros, tem muitas histórias cercando suas origens. Achamos nomes ligados à linguagem indígena, a famílias portuguesas, a imobiliária. Nossas origens sempre nos remetem a um passado não muito distante, nos leva a um túnel de lembranças e saudosismo.  Realizando assim uma análise da contemporaneidade dos bairros suburbanos em suas questões sociais, podemos perceber que existe um efeito de total descaso de nossos governantes com tais logradouros. Mas isso não é um privilégio de nossos dias atuais, os problemas sociais, como por exemplo, a violência, é algo que se arrasta desde, muitas vezes, de sua formação como bairro, quando suas terras deixavam de serem fazendas ou chácaras e começavam a ser loteadas.

Cada bairro tem sua origem particular, o processo de nascimento deles foi provocado por inúmeros fatores como a inauguração da estrada de ferro ou a industrialização que crescia na cidade pela forte presença do capitalismo pós- 1889 mais em particular o subúrbio carioca, chamado antes de parte rural da cidade, teve um processo de ocupação pelas camadas mais pobres da população, claro que isso não é uma regra, mas bairros como Cordovil, Parada de Lucas e Vigário Geral, já surgiram com uma população considerada baixa renda e por muitas vezes marginalizado[1].

O que vemos em questões sociais desses bairros nos dias de hoje é uma construção, um processo histórico que vem se arrastando desde o nascimento dos mesmos, questões como falta de saneamento, problemas com transportes e segurança foram percebidos nessa região desde a chegada dos primeiros moradores, quando os primeiros terrenos estavam sendo loteados.

O mesmo acontece quando analisamos todo o processo de loteamento do bairro de Cordovil, antes uma fazenda prospera do Provedor Real Bartolomeu Cordovil, passando por um bairro em formação nos primeiros anos do século XX, que com a inauguração da linha férrea, trouxe pessoas de diversas origens em direção não apenas ao bairro, mas para toda a região chamada zona suburbana ou periferia imediata. Mas que já nos seus primórdios apresentava problemas sociais e que até hoje fez dele um bairro de classe média baixo e com inúmeros problemas sociais e de infraestrutura. O objetivo desse trabalho é esclarecer quem eram essas pessoas, quais suas histórias, no que trabalhavam e o porquê vieram parar no povoado que ainda mantinha características rurais, apenas com um único transporte para o núcleo econômico da cidade. Devemos entender também o por que o bairro registrava tantos problemas como a falta de água, um problema crônico que se arrasta até os dias de hoje, sendo que em 1912 foi inaugurado o reservatório da Penha, que captava água da nascente do rio Irajá e transmitia para os bairros do subúrbio, sendo que o povoado de Cordovil está a menos de dois quilômetros do reservatório.

O BAIRRO NO PRESENTE

Quando abrimos os jornais para as notícias e acontecimentos da cidade, quase sempre quando é mencionado o nome Cordovil, logo depois aparecem às palavras assalto, tiroteio e a mais repetida pelos órgãos de imprensa é área de risco. Mas, para entender o processo que o bairro vive é necessário buscar em suas origens certas informações que acabam refletindo nos dias atuais. O bairro vive um problema grave de segurança pública e se infraestrutura, apesar das reformas realizadas pela prefeitura, ainda existe problemas com enchentes, sempre quando chove, o Rio Irajá acaba virando uma bomba de doenças para moradores que moram na Av. Schultz Wenk.

Mas o que os moradores mais reclamam do bairro é a questão da segurança pública. Muitos atribuem os altos índices de violência a Cidade Alta, maior comunidade do bairro, quase todos dizem que o bairro era maravilhoso antes da chegada da comunidade, esse fator, junto com vários outros fez com que o bairro se ocupasse da modesta posição do ranking do IDHM[2] municipal de número 68 de 126 bairros. A classe política apenas aparece no bairro em época de eleição, claro, para poder fazer aquelas melhorias de seis meses para atrair voto. A última visita de um político de renome ao bairro foi o Sérgio Cabral filho quando tentava a vaga para o governo do Estado (Jornal ‘O Fluminense’,21/07/2010). Fora essa visita e uma vez ou outra algum candidato a vereador e/ou deputado que nunca consegue se eleger, temos a presença da vereadora Rosa Fernandes que contribui um pouco com melhorias do bairro, sempre trazendo obras rápidas e de qualidade duvidosa e sempre no ano das eleições para prefeito, onde ela sempre se candidata para o cargo de vereadora e vence sempre nas primeiras colocações (está no sexto mandato).

Segundo reportagem do Jornal “o Extra” de 2014, a região da 22 DP registrou no mês de janeiro 128 casos de crimes na região que a delegacia é responsável pelo patrulhamento, claro que o apontamento do jornal não é detalhado em relação a exatamente o local dos roubos, mas segundo a pesquisa a jornais de janeiro do mesmo ano, foi notado que os roubos aconteceram, na sua maioria, na região da Av. Brasil e Rua Cordovil. Locais com incidência de roubos acima do normal, devido até a proximidade com comunidades.

Mas para entender o bairro nos dias atuais, devemos fazer uma análise do início de sua criação e ver que os problemas, apesar de épocas distintas, têm muitos pontos semelhantes, o que nos leva a entender que nada mais é que um reflexo do passado, o Cordovil de ontem é bastante parecido com o de hoje, tanto nos problemas criminais, tanto de infraestrutura e ainda mais, no perfil de seus moradores, maioria de classe baixa a procura de um local para construir suas vidas. Temos relatos de períodos de relativa tranquilidade do bairro, momentos que os moradores não reclamavam tanto, apesar dos problemas.

O NASCER DO BAIRRO E SEUS PRIMEIROS MORADORES

A família Cordovil chega ao Brasil no início dos anos 1700 e logo se estabeleceram na fazenda real que foi cedida pela sua majestade, o Rei de Portugal pelos serviços realizados no reino, Bartolomeu de Siqueira Cordovil o primeiro dono da fazenda, logo depois de sua chegada casa-se na capela de Irajá em 1707 com a filha do dono do engenho do Irajá, a senhorita Margarida Pimenta de Mello. Bartolomeu dentro outros cargos foi secretário do Governo da capitania do Rio de Janeiro (assumiu dia 20 de janeiro de 1705), cargo dado a apenas homens de confiança. Faleceu dia 3 de janeiro de 1738 deixando como herança as terras para o filho Francisco Cordovil de Siqueira e Mello substituiu os negócios do pai.

“No Brasil temos, Bartolomeu de Sequeira Cordovil, natural da Vila de Alvito, em Èvora, nascido por volta de 1640, casou-se com Natália Fróes, também da mesma vila. Dessa união nasceu Francisco Cordovil de Siqueira, que era proprietário do Ofício de Provedor da Fazenda Real e foi casado com Dona Margarida Pacheco Ayró, filha de Antônio Vaz Gago e Dona Isabel Pacheca”. (CORDOVIL,2000,p.12)

Toda sua descendência foi de importância ímpar não apenas para a história do Rio de janeiro, mas como a do Brasil, sempre quando folheamos os anais da colônia e do  império vemos o sobrenome Cordovil como por exemplo o Major Wenceslau Cordovil de Siqueira e Mello que exerceu várias funções , sendo de destaque maior Juiz de Paz e Presidente do Colégio Eleitoral para a eleição de Deputados e do maior dos Cordovil o Almirante Joaquim Antônio Cordovil Maurity, considerado um herói na guerra do Paraguai, foi o aluno zero um de sua turma na escola naval, participou ativamente da guerra do Paraguai, homem de confiança no Império e na república, representou o brasil no exterior em várias missões. Visconde de ouro preto em sua obra “A Marinha de Outrora” fez uma citação ao ato de bravura de Maurity, D.Pedro II também fez homenagem ao militar pela sua dedicação ao Império.

“É dos mais distintos oficiais da Marinha de meu país, comandava o pequeno monitor Alagoas, que cortava sob fogo das baterias da fortaleza de Humaitá, a corrente que barrava o rio Paraguay. Ele vai assistir a conferencia marítima e eu vou vê-lo recomento vivamente” (CORDOVIL,2000,p.21).

Mas o dito progresso disfarçado de capitalismo chega com força ao Rio. Depois do Golpe de 1889 o Rio de Janeiro vai experimentar uma grande evolução urbana, locais até então consideradas zonas rurais vão aos poucos sendo incorporada a cidade, sendo iniciado um processo de urbanização que vai trazer muitas pessoas para regiões inóspitas. Quando falamos de bairros como Cordovil, Brás de Pina entre outros, devemos atribuir seu surgimento principalmente aos trens, pois a necessidade de lotear esses terrenos era urgente, pois o processo urbano da cidade influenciado pelo capitalismo viu que o pobre não deveria ter lugar no centro e nos bairros emergentes, que para a cidade evoluir, era necessário realizar uma obra de urbanização onde o pobre fosse afastado do lugar de trabalho, já que com a nova visão de cidade, o custo de vida do centro seria muito maior. A estrutura do espaço das novas cidades tem muito a ver com os conflitos entre classes, a luta pelo domínio territorial, elitizar uma zona em detrimento a outra, e como o governo recém-posto no poder apoiava os planos das elites, foi o ambiente perfeito para a separação social definitiva.

“A estrutura espacial de uma cidade capitalista não pode ser não pode ser dissociada das práticas sociais e dos conflitos existentes entre as classes urbanas. Com efeito, a luta de classes também se reflete na luta pelo domínio do espaço, marcando a forma de ocupação de solo urbano. Por outro lado, a recíproca é verdadeira: nas classes capitalistas, a forma de organização do espaço tende a organizar e assegurar a concentração de renda e de poder na mão de poucos, realimentando os conflitos de classes” (ABREU,2013,p.15)

Esse novo patrão de cidade divide o terreno em núcleo e as periferias, onde esse núcleo concentra as funções centrais (econômica, administrativa, financeira, políticas e culturais) e a periferia concentrando as famílias de classe média baixa. Foi nessa conjuntura que a família Cordovil viu a oportunidade de ganhar um dinheiro vendendo em definitivo suas terras para Visconde de Moraes (1848-1931).

Esse trecho retirado do diário oficial da compra das terras por visconde de Moraes que foi o responsável pelo loteamento do bairro, mas os registros do século XVIII mostram que a família Cordovil já tinha posto terras a venda e possivelmente os primeiros moradores do bairro chegaram por volta de 1840.

“Freguesia de Irajá, compradas de Venceslau Cordovil de Siqueira 'e Mello, por Si e como procurador de sua mulher, Felicidade Ferreira de Abreu Cordovil, por escritura de 17 de abril de 1891, lavradas em notas do tabelião Dario desta Capital, e a D. Joaquina Eulalia Cordovil Maurity, viúva, por escritura de 21 de julho de 1891, lavrada em notas do mesmo Tabelião. Pela primeira escritura de 17 de abril de 1891 constam as seguintes confrontações e características da propriedade: a fazenda do Provedor, á qual estava incorporado o sitio chamado dos Meninos, depois sitio Grande, compreendendo toda a fazenda, casa da vivenda, diversas construções e benfeitorias, confinada por um lado com a estrada de Irajá, por outro com D. Anua Agostinho Cordovil de Siqueira, co-herdeira da fazenda referida, parte sul, e hoje pertencente ao co-herdeiro Antonio Cordovil. As terras, casas e mais benfeitorias confinam pelo lado do travessão com os outros co-herdeiros Joaquina, Francisco, Arma e Wencesláo, e por outro lado pelo sitio que foi de D. Rosa, com a da Capella, caminho do Porto Velho e com as terras do Braz de Pina. Pela segunda escritura de 21 de julho de 1891, foi adquirida parte da Fazenda do Provedor, a qual está incorporada a outra denominada sitio dos Meninos, confinando por um lado com o caminho do embarque, por outro com Francisco Cordovil, um total de 1.113.000 m2 adquirido por Visconde de Moraes” (Diário Oficial 25 de abril de 1912 - quinta feira).

 Oficialmente o bairro nasceu dia 5 de outubro de 1910 devido a lei nº 989/2002, da vereadora Rosa Fernandes, porém no livro de Waldir Fontoura nos mostra que existia um local onde o trem parava para descarregar produtos e embarcar os mesmos, essa primitiva estação estava na direção da Rua Cordovil, que foi construída para além de trazer e levar produtos agrícolas, levava também produtos para a construção de locais para captação de água de mananciais de Tinguá e Xerém. O trem foi importante e o principal responsável pela transformação das antigas freguesias, até então exclusivamente rurais, em bairros em crescimento. Essas áreas abertas em volta da linha férrea deveriam se destinar para os mais pobres, que se deslocavam em massa. Para servir todas as classes, as locomotivas eram dividias em classes, primeira, segunda e terceira classe.
Ao analisar periódicos da época, foi possível encontrar uma reportagem de 1836 onde descreve as características do bairro, onde um local estava sendo posto à venda para quem interessar, essa região seria hoje a Rua Amaetinga e Aricambu locais que oferecem uma bela visão do mar (quando existia é claro):

“Vendem-se as benfeitorias de dois sítios anexos em terras de Sebastião Cordovil e Venceslau Cordovil, no Porto Velho de Irajá, tendo sofrível casa de vivenda nova de pedra e tijolos, com cômodos para uma grande família, com poço de água dentro, cujo é de pedra e sal, com uma bela vista, até vê a cidade, uma grande porção de enxertos de diferentes qualidades, todas em frente a uma plantação de café e tudo alinhado em boa ordem, quem interessar se dirigir a rua da Quitanda 226” (Jornal O Paquete,1836).




 Foto: página Jornais Antigos- Tiago Silva Bandeira

O que quero apontar é que os primeiros moradores do bairro são de sua grande maioria de origem pobre, mas existe um contraponto nessa hipótese. Brasil Gerson em seu livro Ruas do Rio aponta um grupo de portugueses com poder aquisitivo bom morando no bairro, o que me leva a pensar em dois pontos: Ou eram comerciantes que buscavam oportunidade de crescimento no bairro, ou eram pessoas realmente com condições que buscaram o bairro a fim de fugir das garras dos impostos da república. Uma família que até os dias de hoje habita nossa região é a família Bonavita, que em 1930 eram donos de uma Olaria que existia na Estrada do Porto Velho, família essa de origem Portuguesa.

  “A periferia imediata é, principalmente, o local de residência da classe baixa” (ABREU,2013,p.25).  O que me sustenta em dizer que, majoritariamente o bairro era formado por pessoas pobres são as propagandas de vendas dos terrenos. O periódico ‘A Noite’ noticia em 14 de abril de 1913 a chamada de venda de terrenos no bairro, logo depois no mesmo ano ‘O Malho’ também anuncia a venda mais com os preços de $300 reis, 8$500 réis e 5$700 reis. Fazendo um comparativo que nessa mesma época, outro bairro estava em formação, mas sem o trem, percebemos que realmente o bairro foi feito para os de periferias, os terrenos em Copacabana, que na época era um deserto e lugar para pescadores, os primeiros terrenos foram vendidos por 3.000$ a 4.000$ réis. Em uma época que os trabalhadores não tinham condições de vida dignas e melhores e com a pressão da elite e do governo em arrastar a classe para longe dos núcleos financeiros, os preços desses bairros ficaram atrativos para começar a vida ou recomeçar, já que o governo republicano representado pelo prefeito Pereira Passos fez uma grande reformulação no núcleo da cidade, fazendo com o que essa massa mais desfavorecida fosse expulsa de suas moradias.

A taxa de crescimento[3] de bairros que englobavam a freguesia de Irajá entre os anos de 1890 á 1906 é de 109%. Em 1890 a estimativa de moradores na freguesia era de 13.130 pessoas, em 1906 passou a ser 27.410, essas pessoas se concentraram mais em regiões aonde existiam a presença da linha férrea, e podemos afirmar que a grande maioria era de pessoas de baixa renda.

ANOS 20 E 30: A VIOLÊNCIA E A FALTA DE ÁGUA ASSOLAM A POPULAÇÃO

“Com a boca na butija: Armado com um pé de cabra, estava entregue a um trabalho na porta da casa de Eugênio Bayão, na Estrada do Porto Velho em Cordovil, o ladrão Pedro Paulo, quando um policial viu e o prendeu. A polícia do 22 districto atuou o ladrão” (Jornal ‘A Época’, 24 de março de 1918)

Temos de um lado uma cidade se modernizando e crescendo, cada prefeito que entra dá continuidade para embelezar a cidade que interessa, ou seja, o centro e zona sul. Nesse mesmo período o subúrbio já foi sendo esquecido pelo poder público, mas o processo de ocupação foi se intensificando, com isso foi aparecendo problemas característicos de uma zona pobre.

A reportagem do periódico “A Época” nos mostra apenas um trecho que o bairro já apresentava roubos, assaltos e suicídios eram algo comum de acontecer, o descaso era tanto que em alguns jornais não conheciam a localidade, no “Jornal do Brasil” de 21 de março de 1927 a reportagem dizia: “...estrada do Porto Velho - Brás de Pina”. Um grave erro de localidade, já que sabemos que a estrada é a principal Rua de Cordovil.

No começo dos anos 20, a polaridade da população já se mostrava bem definida, na zonal sul predominantemente vivia a classe alta, na zona Norte e antiga Zona Sul a classe média e subúrbio a classe mais baixa. A densidade demográfica[4] bruta por quilometro quadrado em 1906 era de 212 km2, em 1920 pulou para 770 km2. A população da freguesia pulou de 27.410 para 99.586 em 1920, ou seja, um aumento de 263%.

O problema social dos assaltos é algo que caminha junto com dois casos: A pobreza e a ausência do poder público. Podemos tirar como exemplo as favelas dos anos 60, lugares extremamente pobres, sem a atuação dos governantes e quem ditava as regras era (e ainda é) o poder paralelo.

Em pouco tempo a população da freguesia de Irajá cresceu de forma acelerada, muito se contribui esse fato ao bairro de Madureira, mas Cordovil que mantinha ainda um pouco de suas características rurais também apresentava uma população em crescimento, principalmente na Estrada do Porto Velho, que era o acesso direto a estação de trem, existiam alguns pequenos comércios no local como Olarias e vendedores de peixe.

Um levantamento feito em cima do jornal do Brasil durante o ano de 1925 apontou números bem interessantes. Houve doze roubos, três assassinatos e dois suicídios. Ou seja, esses números apontam características de regiões cercados pela pobreza, indica uma população em formação de baixa renda e com inúmeros problemas com segurança pública. Foi feito uma tentativa de realizar um levantamento de taxas de homicídios e roubos da região junto ao arquivo da PM, porém a mesma não colaborou com nossa pesquisa, mas em conversas com moradores que viveram no final dos anos 30 lembram-se de um bairro de poucas casas, apenas a região de Porto Velho com ocupações, região da praça treze com pessoas com um poder aquisitivo maior (poderia ser os portugueses), poucos comércios e estação de trem sem muros.

Não era apenas o problema da violência que afetava o bairro, outro problema de grande reclamação dos moradores era a falta d’água. Mas isso não fazia o menor sentido pois o reservatório da Penha, inaugurado em 1914 estava numa distância pequena e seria o suficiente para abastecer o pequeno povoado.




Fotos do reservatório da Penha. 
Fonte: Página Penha RJ




O terreno onde fica o reservatório da penha foi desmembrado da chácara das Palmeiras no dia 08 de agosto de 1911, esse reservatório abasteceu Bonsucesso, Ramos, Olaria, Penha, Brás de Pina, Cordovil, Vigário Geral e Ilha do Governador. O reservatório foi inaugurado em 1914 e era considerado um verdadeiro marco da engenharia e uma inovação, pois usou uma técnica nova, o concreto armado, ele era totalmente descoberto, tinha forma tronco-cônica, dividido em dois compartimentos. Ao centro um grande poço cilíndrico com aparelhos de manobra com capacidade de 2.000 metros cúbicos d’água. O reservatório está na serra da misericórdia- hoje morro da caixa d’água- e ocupa uma área de 2.449,30 metros quadrados. Foi desativado no final dos anos 80.

Esse reservatório começou captando água direto da nascente do rio Irajá em Vicente de Carvalho, depois foi ampliado sua rede de abastecimento de mananciais de Xerém. Ao mesmo tempo, não vemos reclamações de problemas de abastecimento em Ramos e Bonsucesso, locais do subúrbio com moradores com maior poder de compra, então um fato me chamou atenção.

No periódico “Correio da Manhã” do dia 21 de dezembro de 1921 aponta uma reportagem sobre o rompimento do cano principal que abastecia os bairros, vazando números incalculáveis de água, então o governo limitou a abertura das comportas para a distribuição de água, para que não houvesse mais rompimentos no sistema, sendo que esse problema foi resolvido apenas nos anos 60, o que nos aponta que Cordovil conviveu com a falta da água durante quarenta anos. No bairro existiam bicas públicas que ajudavam de certa forma no abastecimento, mas não era o suficiente para suprir a necessidade de um bairro em crescimento.

“Círculo de melhoramentos dos subúrbios da Leopoldina: No próximo domingo, dia 11, às 15 horas, efetiva-se na sede desta associação, a Estação de Cordovil, sessão solene do biênio social 1920- 1921” (Jornal ‘A Rua’,7 de janeiro de 1920).

Era um povo sofrido e sem presença política que pudesse representa-los. Foi então que no final dos anos dez foi criado coma comissão de melhoramentos do bairro, que eram responsáveis em levar ao conhecimento das autoridades, todas as reclamações da localidade, tinha cede na estação de Cordovil, na pequena casa que servia como estação. O jornal “ O Fluminense” do dia 24 de março de 1920 traz uma reportagem contando o sofrimento do local, dizendo que era uma população pequena, mas humilde e sofrida e que essa comissão escreveu uma carta para o Presidente da República pedindo melhorias urgentes para o povoado. Pouco tempo depois, o desespero era tanto e as reclamações também que o Prefeito Paulo de Frontin se viu “Obrigado” a fazer uma visita e conversar com os representantes. Dentre as reivindicações estavam:

1-      Construção da Av. Guanabara, contornando o litoral,
2-      Construção da estrada de rodagem entre a Penha e Vigário,
3-      Aumento das bicas de água pública
4-      Estrada de rodagem beirando a linha do trem para melhor comunicação com Brás de Pina,
5-      Conservação e limpeza das ruas,
6-      Ponte na Rua Major Cordovil,
7-      Criação da escola Mista em Cordovil.

Essas reivindicações foram se cumprindo com o passar dos anos, quando construíram estrada Rio x Petrópolis , Av. Brasil, etc., porém essas melhorias levaram um tempo considerável, pelo menos 9 anos no mínimo , tanto que em 1925, cansados de  esperar essas melhorias os moradores voltaram a reclamar, reclamavam de crise na habitação, pois o bairro possuía poucos locais habitados devido á difícil localização, o problemas da falta de segurança e a falta d’água, problema esse que deveria ter sido resolvido em 1922 quando o Congresso Nacional autorizou as melhorias para o abastecimento. O que a comissão de melhorias dizia é que se um deputado morasse no local, Cordovil já teria o status que merecia, já que segundo o Jornal “O Malho” de 1925, o bairro já contava com 10 mil habitantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando há uma cidade em expansão os governantes devem sempre pensa em todos os lados de uma Cidade, saneamento, transporte, segurança pública. O modelo estrutural de cidade americana seria o perto do ideal onde, a população trabalhadora fica mais perto do núcleo econômico e as ditas elites nas periferias, isso cria um menos desgaste de tempo deslocamento desses trabalhadores. No caso do Rio foi bem diferente, devido as reformar iniciadas no governo Pereira passos e que se alastrou por outros governos o processo foi de exclusão de massa trabalhadora e mais pobre, processo de afastamento que levou a ocupação de bairros bem distantes desses núcleos.

Mas o que se é apontado que a única intervenção pública nesses bairros do subúrbio foi apenas a ajuda com as negociações das vendas das terras, pouco se tem notícias de projetos que beneficiassem essa população, que já estavam em completa desvantagem de vida por terem sido tiradas de suas casas e de perto de suas famílias. Não que aonde vivessem tivesse algo apoio do poder público, mas morar perto de onde trabalhavam, perto de pessoas conhecidas, faria muita diferença na vida dessas pessoas.

Tirando os portugueses que foram, em sua maioria, por espontânea vontade, essas classes da população foram para um verdadeiro lugar rural, sem nada, sem qualquer infraestrutura. A única maneira de ir em direção ao centro era o trem, que passava em horários certos e não era confiável em questão de segurança, ou andar até o Arraial da Penha para poder pegar um bonde em direção não apenas ao centro para outras localidades.





























BIBLIOGRAFIA

ABREU, Mauricio de A. Evolução Urbana do Rio de Janeiro. 4ª edição. Rio de Janeiro: Editora IPP,2013.

BRASIL, Gerson. História das Ruas do Rio. 6ª edição. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi,2015.

BRUM, Mario Sergio Ignácio. Cidade Alta: Histórias, memórias e estigmas de favela num conjunto habitacional do Rio de Janeiro. 12 de julho de 2011. 362 páginas. Tese de Doutorado – Universidade Federal Fluminense – Niterói,2011.

CARVALHO, José Murilo. Os Bestializados: o Rio de Janeiro e a república que não foi. 3ª edição. 22ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras,2013.

CORDOVIL, Waldir da Fontoura Cordovi Pires. Cordovil Suas origens, a família, o bairro. Rio de Janeiro: True Produções e Designs, 2000.

FREIRE, Américo. Guerra de posições na Metrópole: a prefeitura e as empresas de ônibus no Rio de Janeiro (1906-1948). 1º edição. Rio de Janeiro: Editora FGV,2001.

LETIERE, Robson. Rio Bairros: Uma breve História dos Bairros Cariocas de A a Z. 2ª edição. Rio de Janeiro: Independente, 2015.

SANTOS, Noronha. As freguesias do Rio Antigo. 6ª edição. Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro,1965.

Portal Extra. Roubo de rua: levantamento do EXTRA mostra ruas e horários mais perigosos. Disponível em: <http://www.extra.globo.com/casos-de-policia/roubo-de-rua-levantamento-do-extra-mostra-ruas-horarios-mais-perigosos-12309814.html>. Acesso em: 10 de outubro de 2016.

Portal IBGE. Disponível em:<http://www.ibge.org.com.br>. Acesso em: 04 de outubro de 2016.

Portal. Título. Disponível em: <http://www.cedae.com.br>. Acesso em: 01º de setembro de 2016.

Portal TV Brasil. Bairro de Cordovil, zona norte do RJ, ocupa a 98a posição do IDH nas cidades. Disponível em: <http://www.tvbrasil.ebc.com.br/reporterbrasil/bloco/bairro-de-cordovil-zona-norte-do-rj-ocupa-a-98a-posicao-do-idh-nas-cidades>. Acesso em: 01º de setembro de 2016.

FONTES PRIMÁRIAS:

Portal Biblioteca Nacional Brasil. Disponível em: <ht



[1] Marginalizadas não no sentido pejorativo da palavra, mas no sentido de pessoa que vive à margem do considerável aceitável da sociedade da época.
[2] O IDHM. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Em 2012, o PNUD Brasil, o Ipea e a Fundação João Pinheiro assumiram o desafio de adaptar a metodologia do IDH Global para calcular o IDH Municipal (IDHM) dos 5.565 municípios brasileiros.
[3] Tabela População residente e taxa de crescimento demográfico das freguesias do Rio de Janeiro- livro “Evolução Urbana do Rio de Janeiro” pág. 67.
[4] Fonte: Prefeitura do Distrito Federal – livro evolução Urbana da cidade do Rio, tabela 4.2, página 81.