A Serra da Misericórdia, uma verdadeira obra magnífica da natureza, abrange cerca de 43,9 km² no município do Rio de Janeiro. Está localizada após uma faixa de baixada de aproximadamente 6 km ao norte do Maciço da Tijuca e a 3 km da costa oeste da Baía de Guanabara, tendo como ponto mais próximo de seu relevo o bairro da Maré. É uma região geográfica enorme, não é?
O Maciço da Misericórdia atinge cerca de 260 metros de altitude em seu ponto culminante, a Serra do Juramento (onde fica a comunidade do Juramento). Estende-se por 27 bairros do subúrbio carioca, entre eles: Abolição, Bonsucesso, Brás de Pina, Cavalcante, Cascadura, Complexo do Alemão, Del Castilho, Engenho da Rainha, Higienópolis, Honório Gurgel, Inhaúma, Irajá, Madureira, Olaria, Penha, Penha Circular, Piedade, Pilares, Ramos, Rocha Miranda, Tomás Coelho, Turiaçu, Vaz Lobo, Vicente de Carvalho, Vila Kosmos e Vista Alegre.
Antes da criação da Área de Proteção Ambiental e Recuperação Urbana (APARU), estabelecida pelo Decreto nº 19.144, de 14 de novembro de 2000, não havia qualquer controle sobre a poluição dos bairros circundantes ao Maciço da Misericórdia. As comunidades ao redor do morro avançavam sobre o terreno rumo ao topo, destruindo o pouco que restava da vegetação nativa. Havia ainda a presença de três pedreiras, com jazidas de granito na região, que lançavam esgoto industrial nas águas dos rios da Serra da Misericórdia. Esses rios transportavam metais pesados e detritos orgânicos para a Baía de Guanabara.
Com a perda da vegetação original, houve a destruição da estrutura do solo, essencial para sua agregação e firmeza, o que causou impermeabilização, ressecamento dos rios que dependem da vegetação, e aceleração da erosão e do assoreamento, colocando em risco diversas comunidades que vivem nas encostas.
A Serra da Misericórdia é considerada parque e área de preservação ambiental desde 16 de dezembro de 2010, a partir do Decreto nº 33.280, que instituiu o Parque Municipal da Serra da Misericórdia, também conhecido como Parque Municipal Urbano da Serra da Misericórdia ou Parque Ecológico da Vila Kosmos, e estabeleceu seus limites.
Na prática, esse reconhecimento significa que o local deve ser destinado ao lazer, à prática esportiva, à recreação em meio à natureza, à educação ambiental, à valorização das manifestações culturais e tradições locais, e a ações de proteção voltadas às áreas de reflorestamento, à fauna, às nascentes e aos mananciais de água existentes no local.
Entretanto, até onde se sabe, mesmo após o decreto, a serra não vem sendo fiscalizada adequadamente, e seu terreno perde metros a cada ano. Existe um projeto do governo do estado para revitalizar a região e criar um grande parque ecológico com 25,5 mil metros quadrados, mas, infelizmente, isso jamais saiu do papel, tendo sido realizadas apenas obras de contenção de encostas.
Existe uma lei que protege as áreas naturais, com o objetivo de preservar o que resta dos bens naturais. Essa lei é o Decreto nº 19.144, de 16 de novembro de 2000.
Além das pedreiras e dos mananciais de rios — hoje todos desativados —, a serra abriga, ainda existente, o famoso Reservatório da Penha, que abastecia praticamente toda a Zona da Leopoldina e a Ilha do Governador.
No começo das décadas de 1930 e 1940, existiam expedições pela serra, nas quais pessoas faziam trilhas e descobriam suas belezas naturais. Isso só foi possível identificar devido à pesquisa que realizei em jornais antigos, e um desses periódicos traz uma reportagem sobre o assunto (Jornal do Brasil, 30 de janeiro de 1941).
Alguém sabe por que o nome Serra da Misericórdia?
Como a história do Brasil nos mostra, aqui foi uma colônia portuguesa, e sabemos que a monarquia era ligada à religião católica, que teve um papel importante nas primeiras construções do local. O nome Serra da Misericórdia foi dado pela Santa Casa de Misericórdia, pois, no início da exploração das terras da região da Penha, a instituição acabou adquirindo propriedades na área, assim dando nome à serra.
As comunidades cresceram em seu entorno devido à especulação imobiliária, pois, já nas décadas de 1940 e 1950, o Rio de Janeiro havia se tornado uma cidade cara para se morar. Quando uma família de baixa renda não tinha condições de arcar com o aluguel, para onde ia? Para os morros. Foi assim que a Serra da Misericórdia começou a ser ocupada por comunidades.
Prezado Professor
ResponderExcluirAproveitando e divulgando o seu excelente texto lá no meu blog. Meus parabéns pelo trabalho!
Abraços!
Quando puder passa também por lá e visite.
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