sábado, 26 de dezembro de 2020
MÉIER – UM BAIRRO DIFERENCIADO.
O bairro do Méier é um típico bairro da Zona Norte Carioca, lugar bom de viver e considerado um centro comercial devido ao grande número de lojas e movimentação e transações financeiras . Possui um grande hospital e locais de diversão e lazer. Os seus moradores se orgulham de sustentar o nome do bairro, mas poucos conhecem sua história ou suas origens.
O bairro sempre foi conhecido como uma bairro mais “elitizado” , diferentes de muitos da zona suburbana da cidade. Mas os problemas são os mesmos, violência, problema com transportes, saneamento básico e tantos outros que assola parte da cidade.
Moradores ou não, que conhecem o bairro, saberia me dizer o que ficou no passado do bairro que não existe mais? Alguma saudade ou lembrança? Até meus 10 anos, eu frequentava todo domingo a Rua Dias da Cruz, brincava com meus primos e andava de Charrete pelo bairro, isso entre os anos de 1990 e 1995, boa parte de minha infância foi nesse maravilhoso bairro .
“Esse novo texto vou destacar uma grande reportagem do ano de 1952, do periódico “IMPRENSA POPULAR” que destaca o bairro como “ A CAPITAL SUBURBANA” , com seus problemas de cinema, escola , trânsito entre outros .Vamos viajar no Méier de antigamente.
UM POUCO SOBRE O MEYER
Antes de descrever a reportagem, vamos dar uma “pincelada” na história do bairro.
1-Origem do nome do bairro: Homenagem a Augusto Duque Estrada Meyer, que se destacou como acompanhante do Imperador D . Pedro II, recebendo o título de “Camarista”.
2-As terras do atual bairro faziam parte do Engenho Novo dos Jesuítas, que abrigava no início do século XIX, a extensa “Quinta dos Duques”, de José Paulo da Mata e Dulce de Castro Azambuja, avós do camarista.
3-Meyer abriu várias ruas em sua propriedade e homenageou pessoas de sua família, dando os nomes das ruas de seus amados parentes: Carolina Meyer, Frederico Meyer, Joaquim Meyer, entre outros, formando o atual bairro.
4- Os primeiros moradores da região forma escravos fugitivos que formaram o Quilombo na Serra dos Pretos- Forros.
Segundo o livro “Freguesia do Rio Antigo”, a freguesia do Engenho Novo , a qual o bairro pertencia em 1890 possuía 28 mil habitantes aproximadamente, com esmagadora maioria católica e poucos protestantes, positivistas ou “sem culto” . O autor coloca a Estação do Méier é considerada uma das mais importantes dos subúrbios devido a sua renda diária que arrecada.
Os Duque- Estrada Meyer surgiram da união do escrivão da Alfândega e guarda-roupa do Paço, comendador Miguel João Meyer , com Jerônima Duque-Estrada . Tratava-se de um português de origem alemã, homem de boa terra e que provavelmente chegou ao Brasil antes de D. João VI. Miguel Meyer veio a morrer em 1833 ainda com 30 anos. Augusto como Camarista do Paço, e acompanhante do Imperador Pedro II em todos os lugares, já em 1870 aparecia como dono de inúmeras porções de terra de Duque- Estrada que era seu parente. Camarista Meyer não era tão rico como seu pai, tanto é que em ocasião de sua morte, só deixou de herança para os seus um conto e novecentos e pouco mil-réis, três escravos, 4 grande chácaras e alguns outros terrenos .Uma dessas chácaras era a da Venda Velha, que ficava de frente a rua D Pedro II (hoje Arquias Cordeiro).
Como já citado acima, várias ruas forma abertas em seus domínios entre elas:
Rua Maria Paula- Filha
Rua Carolina Meyer -filha
Rua Francisca Meyer-filha - Atua rua Catulo Cearense
Rua Gustavo Meyer- seu filho
Rua Joaquim Meyer- Doutor e seu filho
Rua Frederico Meyer- Doutor e seu filho
Rua Joaquina Meyer- sua filha
Rua Eulina Ribeiro- sua neta
Rua Venâncio Ribeiro- Marido de sua neta Eulina
Rua Adelaide – irmã de Eulina e mulher do desembargador Mascarenhas
Camarista Meyer morreu em 1882 deixando uma grande contribuição para o que viria a ser a cidade do Rio de Janeiro
A REPORTAGEM
O Primeiro grande problema apontado pelo jornal é o problema com o transporte. Apesar de diversas linhas passarem pelo bairro como as linhas 74 e 135 ,33,35 e 95, mas isso parecia que não era o suficiente para suprir as necessidades de quem vivia ali. Enquanto as outras linhas levavam para diversas partes do subúrbio, era muito difícil de ver a linha Meyer x Copacabana, a 133. Com horários irregulares e ônibus em péssimas condições, os moradores reclamavam de mais do serviço, pois essa mesma linha passava pelo centro.
Outra luta era o trem! O jornal descreve como um verdadeiro suplicio Apenas um trem elétrico serve ao local, com horários irregulares, parecia uma lata de sardinha, deveria ser transporte digno do trabalhador . O sofrimento era tanto que os moradores de Nova Iguaçu pegavam o 14 ou o 15, soltava no Engenho de Dentro, tomar um ônibus ou bonde até o Meyer, que era o local de parada do trem para Nova Iguaçu. Os moradores do Meyer reclamavam da super. lotação da estação , fora o quanto era perigoso viajar até a Central do Brasil devido a lotação e o empurra-empurra.
Para uma população de 300.000 mil pessoa ( a reportagem provavelmente incluiu outros bairros formando o “grande Meier”), um cinema maior deveria existir. Na verdade existe 3 pequenos cinemas no bairro, porém são pequenos e desconfortáveis e o bairro merece um local de entretenimento maior e digno com a localidade.
O Bairro era servido por linhas de bondes que passavam pelas ruas Dias da Cruz e Arquias Cordeiro, mas o motivo de reclamação era um abrigo para as pessoas, principalmente estudantes. O jornal apontou que em cada ponto, mas de 20 pessoas em média, ficavam em casa ponto esperando o bonde sem nenhuma proteção contra a chuva ou contra o sol. Como no bairro existiam poucas escolas, os estudantes eram obrigados a se deslocar para outros bairros do subúrbio, e isso também superlotava o transporte.
Entrando no assunto escola, foi constatado que mais de 50 mil crianças moravam no Méier e não estudavam devido a falta de escolas públicas no populoso bairro suburbano. Apesar das escolas particulares estarem em franco crescimento, as mensalidades era abusivas, e os maus-tratos eram motivos de grande reclamação. No Instituto Edson, varias professoras pediram demissão devido a esses problemas. Crianças eram castigadas de forma física, com palmatórias e correias, e pequeninos dormindo em camas sujas e cheias de bactérias.
O Meier não tem viaduto, só era possível passar de um lado para o outro a pé, sendo que para isso o povo enfrentaria enormes escadas. Os carros se quisessem acessar o outro lado deveriam ir até o Engenho Novo ou a Todos os Santos, se tivesse uma pessoa doente para o lado da 24 de maio, era morte certa, pois imagine só , você tendo um infarto e passando muito mal, ir de carro até o Engenho Novo e voltar , isso se tiver sorte e não pegar transito.
Apesar do Méier ser um dos bairros mais progressista do Distrito Federal, o calçamento é um problema crítico da região , são inúmeras ruas que não calçadas ou com vários blocos de pedra mal instalados. O exemplo mais frisante é a 24 de Maio, que é a Avenida Mais importante do Méier que não tem calçamento satisfatório , quedas e acidentes são constantes no local. Outro problema ligado ao tráfego é a falta de sinalização. O cruzamento da 24 de Maio com a Avenida Dias da Cruz precisa de um sinal urgente e é uma antiga reivindicação dos moradores . A falta de fiscalização no local é um verdadeiro atentado a vida, veículos entram na Dias da Cruz em alta velocidade colocando em risco a vida de idosos e estudantes.
sábado, 19 de dezembro de 2020
CINE LUCAS: A POEIRA DO TEMPO LEVA EMBORA A HISTÓRIA DO CINEMA
O que significa esquecimento? Pegando no dicionário a palavra é definida como:
-Substantivo masculino
1. Ato, processo ou efeito de esquecer; olvido.
2. Falta de memória.
O esquecer da nossa história é algo bem presente e podemos dizer que é cultural por parte de nossos governantes e, por que não dizer, do povo? Quantos prédios antigos e históricos, que contam a nossa história estão sendo dizimadas pelo tempo, sendo invadidos e depredados ou se tornando igrejas? Apesar de que sendo Igreja, pelo menos a arquitetura não é muito modificada na boa parte das vezes, mas a história do local é esquecida ou simplesmente abandonada.
O Cine Lucas pode ser considerado um caso de total esquecimento por parte de todos. Hoje ele não passa de um depósito de móveis, todo empoeirado e sujo, mas ali, muitos suburbanos leopoldinenses desfrutaram horas de diversão e emoção com belíssimos filmes. Com o nome de Cinema São Lucas, foi aberto em 12-10-1959 e fechou as portas em 29,06.1980, com 338 lugares.
Em seu início temos logo de cara uma pequena polêmica: Segundo o ótimo livro “Palácios e Poeiras: 100 anos dos cinemas no Rio de Janeiro”, o autor coloca como único dono o Sr Adelson Marge, porém, pesquisando em jornais de época , mas precisamente o periódico “DIARIO CARIOCA” do dia da inauguração , as 20 hrs o cinema abriria com uma festa realizada pelos donos , sr Henrique Ramos de Almeida e Manuel Pimenta Ramos. Possivelmente pouco tempo depois eles devem ter vendido o cinema para o Adelson.
Poucas notícias sem tem sobre o cinema, mas muitas lembranças dos moradores que frequentavam o local. Mas alguns acontecimentos foram marcantes e importantes para a história.
Já em 1960, no local houve um evento para dar posse a comissão que ajudaria a chapa Lott- Jango nas eleições daquele ano. Sabemos que o presidente JK tem uma ligação bem bacana com o bairro de Parada de Lucas, já que anos depois já como presidente da República visitou o parque da revista Manchete, que ficava no local.
Mas nem tudo era festa, em 1964, o cinema sofreria um golpe. Vários cinemas do Rio, inclusive o cine Lucas, levaram uma multa da delegacia Regional da SUNAB, por se negarem a fornecer elementos para orientação daquele órgão fiscalizador, sobre a elaboração dos seus preços. O cinema já nas mãos do Adelson levou uma multa de C$2.700.000.000 Cruzeiros. O local também foi usado como local de comício de seu dono que concorreu a vaga de deputado estadual perdeu a eleição, mas conseguiu a vaga de suplente , mas posteriormente assumiu o cargo no lugar do titular e depois conseguir por voto popular. Inclusive tem alguns periódicos que apontam que o nobre deputado era dono de vários cinemas no subúrbio.
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