quarta-feira, 22 de abril de 2020

Pinheiro – a parte do continente que era uma ilha.
FOTO CEDIDA GENTILMENTE PELO COLABORADOR MARCOS BORGES

Quem anda muito por Bonsucesso, está acostumado a dividir a calçada com ambulantes e as ruas com diversas vans de transporte alternativo, vans essa que nos leva para diversas localidade. Cidade Alta, Bananal e uma em especial nos leva em direção a uma ilha, a Pinheiros. Para quem não sabe, na região da comunidade da Maré tem uma localidade chamada Pinheiros e ali nobres amantes da cidade, era uma ilha, que guardava a história de nossa orla. Vamos conhecer um pouco sobre essa ilha e como ela foi anexada ao continente.





A geografia da cidade do Rio é peculiar. A cidade é espremida entre uma cadeira de montanhas e o mar e nossa gigantesca Baía é lotada de pequenas ilhas que já foram ou são habitadas. È devido a essa geografia que a cidade vive sofrendo com as chuvas de março e as chuvas de verão, acabamos crescendo sem nenhum planejamento e suprimindo e destruindo bacias hidrográficas e mangues, importantes sistemas da natureza. Quem quiser saber um pouco mais sobre o assunto é só acessar: http://educacao.globo.com/artigo/geografia-do-rio-de-janeiro.html







 Ilha faz parte de um conjunto de pequenas ilhas que estão espalhadas pela Baía de Guanabara, ela já foi considerada um paraíso, um lugar de morada e descanso para seus donos. O Primeiro registro achado da ilha foi no jornal “Sete d’ Abril “ do ano de 1839, noticiando o leilão da ilha e fazendo uma descrição minuciosa de como era a ilha naquele ano: “Leilão da Ilha do Pinheiro – Possuí uma casa com oratório, bonito jardim dando vista para o morro do Castelo. Pé de caju, laranja, melão, laranja, cocos, etc... uma pequena fonte de água numa pequena colina e a ilha é cercada por mangue.  Nesse mesmo periódico nos mostra que os franceses tiveram pela ilha entre os anos de 1555 e 1557. 

Como toda a sociedade, os antigos donos da ilha eram donos de escravos, na ponta do Caju foi achado um escravo de nome João, de 70 anos, que fugiu a nado até o local, mas foi rapidamente capturado pelas autoridades e devolvido ao seu dono.

JORNAL SETE D' ABRIL DE 1839



Pelos registros a ilha sempre foi local de moradia, pois sempre aparecia em reportagens nos jornais de época, muitas vezes nas páginas policiais com afogamentos e assassinatos. Mas um dado bem curioso foi constatado. Sabia que a ilha quase teve um matadouro? O tenente Coronel João Frederico Russel propôs a construção do matadouro da cidade na ilha, isso em 1872, mas o projeto não foi para frente.  

E quem diria que o começo do Clube de Regatas Vasco da Gama está também ligado a ilha.  Em 1898, as primeiras canoas usadas pelo clube para os treinos e competições de remo foram construídas na Ilha, devido ao espaço e a ótima madeira fornecida no local. 
 Retornando para as páginas policiais, a ilha sempre apareceu nessa parte do jornal, não era considerado um lugar perigoso, mas os crimes eram constantes como sempre foi na região suburbana. “O Radical” de 1933 mostrou que um homem de 40 anos apareceu esfaqueado no mangue que cercava a ilha, já em 1912, o jornal “O Século” traz uma denúncia grave: O pescador Joviano Pinto levou uns tiros enquanto pescava calmamente na pequena ilha e a investigação estava sobre os cuidados da Polícia da Marinha.
1941 CORREIO DA MANHÃ



È muito difícil descobrir quem foram os donos da ilha nesse longo período de registros históricos, mas um dos donos descobertos era o sr. Eugênio Meyer, que nos anos 20 desejava vender a ilha e se livrar ela. Ao que consta ela foi comprada tempos depois pelo instituto Oswaldo Cruz.

Projetos também rodeiam a história da ilhota. Dois projetos cercaram o imaginário da ilha, projetos esses que tinha como objetivo transformar a ilha num ponto turístico e criar um complexo de ilhas ligadas ao continente. Em 1932, existiu uma ideia de construir pontes de concreto armado ligando as ilhas do Raimundo, Sapucaia e Pinheiro, transformando o local num santuário para a vida, a diversão dos locais e estudos sobre a vida na Baía de Guanabara. Já em 1966, a ideia era incorporar a Ilha ao fundão e a Ilha do Raimundo, criando um grande centro de recreação e estudos e ainda envolvia a criação de duas praias artificiais ao custo de 170 bilhões de Cruzeiros. Nem preciso dizer que os dois projetos não vingaram, ou por falta de verba ou por não interesse público na obra. No projeto original da união das ilhas para formação do fundão, ela estava inclusa no projeto , mas faltou verba para anexa-la , o que deixou a velha ilha de fora do projeto final .

1945 CORREIO DA MANHÃ



Possuidora de vegetação exuberante, foi utilizada no início do século XX como laboratório a céu aberto do Instituto Oswaldo Cruz, como viveiro de primatas. O laboratório foi instalado no local em 1939 e serviu muitos anos para pesquisas para descobrir vacinas e estudos da vida marinha. A raça dos macacos usada para os estudos era os Rhesus e ajudaram muito na criação da vacina antiamarílica. Os pesquisadores começaram a notar que a partir dos anos 50, a vida em volta da ilha foi desaparecendo aos poucos, muitas das reportagens dos anos posteriores mostram a grande invasão do lixo e esgoto jogados sem tratamento na Baía de Guanabara. Era comum os pesquisadores colocar a culpa no canal do Cunha e no Faria Timbó, que segundo eles, eram os poluidores mais próximos da Ilha. Era comum achar animais mortos e lixo caseiro por todos os lados.




1945- SUPLEMENTO A NOITE

Um relato bem interessante é que na região, as águas eram violentas e traiçoeiras, passava pelo local uma corrente marítima que costumava carregar tudo que vinha pela frente. Há registros de naufrágios em frente e na região da ilha e alguns dizem que chegar com qualquer embarcação da região e ao porto de Inhaúma, que ficava de frente a ilha, era um verdadeiro sacrifício e para poucos.
Camarões, nossa Baía era cheia dos mais deliciosos camarões. Uma reportagem do “CORREIO DA MANHÔ DE 1972, registrou a poluição em volta da ilha e como isso afetava a produção de camarões, e segundo a mesma reportagem, a praia de Inhaúma era produtora desses camarões, mas a poluição simplesmente estragou a produção e fez desaparecer aos poucos os animais.


1981- REVISTA MANCHETE




Aterrada na década de 1980 pelo Projeto Rio, do Governo Federal, em função da urbanização do Complexo da Maré, atualmente é um parque ecológico: o Parque Ecológico dos Pinheiros, também denominado como Parque Municipal Ecológico da Maré ou, simplesmente, como "a mata". A construção foi feita através de aterros que anexou a ilha ao continente, criando 35 hectares de terra por cima da região do mangue e da assoreada Baía de Guanabara. Esse grande projeto ainda realizou dragagem do canal do Cunha e obras na saída do Faria Timbó. Ainda foi aterrado um pedaço com o total de 300 hectares que vinha da ponta do Caju até o Pinheiro, no total 334 hectares de terra foram criadas e assim a comunidade da Maré, parte da antiga Praia de Benfica e um pedaço da praia do Caju desapareceu.

Nos anos de 1990, pelo Governo do Estado, um pomar, com dezenas de árvores frutíferas, com fins didáticos (identificação de espécies) e ecológicos. A área ganhou, na ocasião, uma área de lazer com churrasqueira, palhoças e mesas para piquenique

FOTOS PARA CURTIR E ADMIRAR !
ACERVO OSWALDO CRUZ- FOTO DA ILHA ANOS 40
ACERVO OSWALDO CRUZ ANOS 40 - TANQUE DE CRIADOURO DE ANIMAIS MARINHOS



FOTO DA ILHA VISTA DO PORTO DE INHAUMA - 1945

















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