O CEMITÉRIO
DA PENHA - PRECISAMOS DE UM!
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1955- TRIBUNA DE IMPRENSA - FASES DA IGREJA DA PENHA
Quando
pensamos em sua importância, um cemitério nada mais é que a última morada, o
local de descanso eterno de nossos parentes, amigos e conhecidos. Entender o
que foi esse projeto que não deu certo, é necessário transportar nossa mente
para a época que vamos estudar, entender as mazelas e dificuldades de um povo
que vivia no limite, sem transporte, sem infraestrutura, sem saneamento básico e
com poucas opções de diversão
O início do subúrbio é uma história longa que não cabe
colocar aqui no momento, mas efeitos de conhecimento, o novo modelo de cidade
aplicada na cidade, graças as influencias francesas de remodelação do centro
trouxe uma nova perspectiva de cidade, onde os pobres foram tirados do centro e
jogados para a antiga zona rural, lugares sem a estrutura necessária para uma
vida digna. Diferente do modelo americano, que concentrou os trabalhadores nos
centros perto de seus trabalhos, o modelo carioca expandiu a cidade para dose,
vinte, quarenta quilômetros para longe do núcleo financeiro.
Lugares onde apenas o trem era o meio de transporte, houve a
necessidade de criar linhas de bondes para ajudar no transporte, o que ao meu
ver, não ajudou muito pois eles continuavam com superlotação e com histórico
gigantesco de acidente, isso estou contanto com os bairros que possuíam esses
dois meios de transporte, mas e os bairros que nem isso tinham?
O fato é que a população dessas localidades cresceu muito em
pouco tempo. Antes da reformulação da cidade, as freguesias rurais já apresentavam
crescimento assustador imagina o pós Belle époque. Traduzindo em números,
pegando como base a freguesia de Irajá- freguesia suburbana-, percebemos o
crescimento assustador. Em 1890, a população da freguesia era de 13.113
pessoas. A população da freguesia em 1906 era de 27.410 pessoas. Dez anos
depois, em 1920, a população saltou para 99.586, um crescimento de 263%. O que
mexeu também na densidade demográfica da região que em 1910 era de 212 de
habitantes por quilometro quadrado, saltando em 1920 para 770 de habitantes por
quilometro quadrado. ( números tirados
do livro EVOLUÇÃO URBANA DO RIO DE JANEIRO – MAURICIO A. ABREU .)
Precisava mostrar um pouco do subúrbio na época que se
acontece a discussão sobre o cemitério da Penha.
Mas o pedido dos moradores só viria novamente a ser estudado
pelo governo municipal em 1926. Durante o governo do interventor Antonio Prado
Junior(1926-1939), o sr. Arthur Menezes apresentou no Conselho Municipal
algumas indicações de obras e construções em uma delas foi o cemitério com o custo
de 340 conto. E pelo jeito deu certo, pois o jornal O PAIZ divulgou que o
presidente do Conselho autorizou a construção do cemitério e solicitou a
comissão da obra uma intervenção junto a irmandade da Penha, solicitando a
autorização para a construção do cemitério em terrenos pertencentes a mesma. O
decreto autorizando a construção foi o 3.157 de 21 de outubro de 1926. Um
encontro entre representantes do governo municipal e a irmandade selaram o
acordo e a ordem religiosa realizou a doação do terreno para a construção, que
teria 500 metros de comprimento e 10 de largura.
Artigo único: Fica
o prefeito autorizado a criar um cemitério na localidade denominada “Arraial da
Penha” no distrito de Irajá, podendo desse fim entrar em acordo com a irmandade
N. Sr, da Penha...inclusive promover a desapropriação do terreno...abrir
créditos...”
Mas o projeto ao que parece foi arquivado, não se falou mais
nele. Tudo indicava que a população mais uma vez seria esquecida. Mas essa ideia
voltou a ser ventilada alguns anos depois. A população da região já passava das
260 mil pessoas em 1937, e essa necessidade por um local para os mortos começou
a ecoar novamente dentro do governo, então o secretário de saúde da época, o
senhor Irineu Malagueta se reuniu com o Monsenhor da igreja José Maria da Rocha
e colocaram novamente em pauta o plano da construção. O valor da construção
continuava o mesmo e só precisavam a autorização do prefeito para fazer as
obras. Rapidamente, enxergando a necessidade do cemitério, através de um
decreto, o prefeito Henrique Dodsworth ( 1937-1945) autorizou a construção. O
negócio foi fechado em definitivo num almoço nas dependências na igreja para
boa parte dos representantes do governo municipal e amigos do Monsenhor.
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Em uma bela manhã, Henrique e seus conselheiros e fiscais
fizeram uma visita ao terreno doado, ao contrário do noticiado antes, o tamanho
do terreno era de 1.275 metros. Aproveitando a visita, o povo pediu
melhoramento para o Largo da Penha e ruas em volta que a tempos não eram
melhoradas. O interventor prometeu acelerar as coisas para tudo ficar pronto o
mais rápido possível. Logo depois foi apresentada a planta das obras e isso foi
notícias em vários jornais: A Penha ai ter sua morada eterna!
As obras se iniciaram em 1939, o cemitério ficaria ao final
da rua Nossa Senhora da Penha, pegaria uma parte do morro, descendo pela outra
lateral da rua até encostar na avenida Principal. Seria um dos mais belos
cemitérios da cidade. 1700 metros de terreno foram demarcados, um muro foi levantado
de 100 metros de comprimento, um prédio começou a ser levantado, o que seria a
parte administrativa do cemitério até que todos os operários sumiram e a obra
parou. As pessoas passavam atônitas olhando para tudo aquilo parado, as rodas
de fofoca nos domingos de missa eram grandes. Muitos se perguntavam o que aconteceu?
A prefeitura da cidade descobriu que houve um grande desvio
de verbas, dinheiro destinado a obra desapareceu e não tinha como continuar. A
prefeitura não quis liberar mais e pelo jeito não investigou o que houve, então
o sonho de construção da necrópole da Penha caiu no esquecimento. No local,
anos mais tarde, cresceria a comunidade do proletariado, onde o terreno foi
todo loteado e vendido a funcionários públicos e o prédio foi aproveitado e nos dias atuais é
um colégio .
No ano de 1955, o periódico “ A TRIBUNA DE IMPRENSA” , fez
uma grande reportagem mostrando alguns aspectos do que seria o cemitério , o
que a Penha e a irmandade perdeu . No lugar do cemitério, a Penha ganhou uma
favela e a irmandade perdeu seu terreno, ninguém foi preso pelos desvios. A
irmandade perdeu muito de seu terreno, não apenas devido ao cemitério, mas a
irmandade doou as terras para a construção da estrada de ferro, abriu inúmeras ruas
e cedeu outros pedaços para prédios públicos, isso nos dias atuais se ainda
tivesse domínio dessas terras, poderia render uma boa grana a igreja.
Um cemitério na Penha , imagina como seria hein !
Sensacional essa postagem!
ResponderExcluirMeus parabéns!!
Amando saber disso. Muito legal
ExcluirLeio mais uma vez essa bela história!
ResponderExcluirDa aí o nome da Comunidade (Vila Cruzeiro) Vila Proletária da Penha mas Morro do Cruzeiro, homenagem ao Cimiterio que não foi Inaugurado.
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