terça-feira, 28 de julho de 2020

UM CAMPEONATO NO SUBÚRBIO – AS MOTOS RONCAM EM ALTA VELOCIDADE





 

E se eu falasse para meus queridos leitores que as ruas do subúrbio já serviram de pista para uma corrida de moto? O campeonato de Turismo foi realizado em 1919, e ocorreu em algumas regiões da zona norte da cidade. Vamos ver o que e como aconteceu esse fato...

A reportagem será descrita conforme o português da época.

“Realizou-se no dia 30 de Março com um grandioso e inesperado brilhantismo, a disputa do 1   (primeiro) Campeonato de Turismo, organizado pelo Club Motocyclista Nacional, uma das mais importantes sociedades brasileira de motocyclismo.

O enorme êxito, o grande sucesso alcançado com esta última corrida do C.M. foi uma prova incontestável do seu valor, pois é um dos clubs que tem conseguido aqui no Brazil arrancar aplausos dos admiradores do motocyclismo e levar a effeito verdadeiras corridas de motocycletas que despertam o máximo enthusiamos, dando nome aos motocyclistas e motocycletas vencedoras.

No entanto, o tempo parece que temeu semelhante resolução, motivo este por que a manhã do dia da importante prova estava bella e prateada por um sol majestoso, por um sol brasileiro.”




 

Inicialmente o campeonato foi marcado para o dia 23 de março, porém nesse dia, caiu uma chuva torrencial na cidade e impediu que o campeonato prosseguisse. Em reunião com pilotos e diretoria, foi remarcado para o dia 30, pois daria tempo de ficar bom e o chão secar, já que passariam por regiões que se formavam pistas com muitos quilômetros de lama.


O dia chegou , o povo se reunia feliz e em grande aglomeração , várias regiões da cidade festejavam o campeonato, uma corrida que foi amplamente divulgada e que atraiu milhares de curiosos. As 8 e pouco , de um dia ensolarado e lindo  as motos se aliaram em frente a Praia Pequena, foi chamado por ordem os pilotos que participariam da corrida:

1-Delico de Aguiar: Motosacoche

2-Mario Bianchi: Henderson

3-José A. Reis : Henderson

4-José Kistemann- Indian

5-Diogo Santos- Indian

6-Mario Vasconcelos- Indian

7-Jorge Guimarães: Motosacoche

8-Socrates Floriano Peixoto: Motosacoche

9-Melandri Patier: Harley

Os diretores estavam aliando os concorrentes, três campeões das motos concorriam ao troféu – o periódico não descreve quem eram os mesmos- as bancas de apostas apostavam para as motos Henderson pela sua potência e por que eram conhecidas como as melhores motos da época. Alguns apostavam que as motos não aguentariam os terrenos que enfrentariam, já a Indian estaria mais preparada para o tipo de terreno.


Os concorrentes pousam para as fotos e um dos diretores passam as últimas instruções. A revista AUTO-PROPULSÃO colocou a disposição vários fotógrafos para registar esse maravilhoso evento.



De Bonsucesso a Penha, a estrada estava péssima (Rua Uranos), tinha areia, pedra, lama, cascalho, etc, tudo para dificultar a passagem das motos. Os corredores desceram pela Penha, passando por Braz de Pinna- onde as estradas melhoraram bastante- numa disputa emocionantes, todos juntos e ninguém conseguia se desgrudar muito, mas damos destaque Jorge, Delcio e Bianchi que estavam disputando os primeiros lugares. As estradas eram tão ruins que teve relatos de Délcio atolado em um metro de lama.

Depois de Braz de Pina, se encaminharam a Vicente de Carvalho, a estrada de frente a estação do trem estava maravilhosa, ótima para a pratica do esporte e foi ali que a disputa apertou de vez. Em grande velocidade, se dirigiram até o Engenho do Mato. Dali a Pilares eles reduziram a velocidade devido a estrada está em más condições. De Pilares a fazenda Capão do Bispo, as acrobacias rolavam soltas devido as ondulações da Pista. De Del Castilho ao ponto final na Praia Pequena, a estrada permitiu as motos a chegarem a 120 km/h.




Quando os espectadores viram Bianchi chegando e olharam para o relógio, viram que ele completou a primeira volta em 29 minutos, algo inimaginável para todos. Após Bianchi, passou Kistemann e José Reis.

A banca de apostas mudou e Bianchi e Kistemann tomaram a dianteira da possibilidade de levar o caneco. A segunda volta manteve as colocações da primeira volta, sem surpresas. Bianchi e Kistemann dividiam a liderança durante toda a segunda volta e a melhor batalha aconteceu em Vicente de Carvalho.

Mas uma surpresa aconteceu no final: Com o corpo cheio de Lama, moto toda suja e nas últimas e para a surpresa de todos, José Reis em um determinado trecho em Pilares passou os dois e assumiu a liderança, duas voltas, quarenta quilômetros em menos de uma hora e 2 minutos. Logo atrás chegou Bianchi e em terceiro Kistemann.






O povo surpreso e em delírio pega José Reis nos braços e comemora a vitória inesperada.

COLOCAÇÃO FINAL

1-      José Reis : 1 h 2 m.

2-      Bianchi: 1h 2m 9 seg.

3-      Kistemann: 1h 6 min.

4-      Vasconcelos: 1h 10 min.

5-      Floriano : sem tempo marcado

Os outros competidores abandonaram a competição e não registraram tempo.

 

 

 

6 comentários:

  1. Boa noite, Paulo!
    Parabéns pelo trabalho, gostei muito. Convido-lhe para conhecer meu trabalho também e juntarmos forças nos estudos históricos.
    Meu blogue é o Construindo História Hoje.

    Construindohistoriahoje.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  2. No mapa interessantes os nomes antogos de locais: Venda Grande e Praia Pequena.

    ResponderExcluir
  3. Parabéns pela postagem! Muito bom sabermos desse passado de certas áreas da Cidade Maravilhosa que, com o tempo, deixaram de receber a devida atenção do Poder Público

    ResponderExcluir