quinta-feira, 23 de setembro de 2021

 

UM VIADUTO E SUA HISTÓRIA: O MAIOR DA AMÉRICA DO SUL NA CAPITAL SUBURBANA!



 

O governo gosta muito de construir viaduto em anos. O sonho da construção do viaduto durou vinte e oito anos para acontecer. Assim como o Ana Nery, já pesquisado por esse blog, a construção de Madureira levou anos para ser concluído , com episódios de desvio de verba, expulsão de pessoas e comerciantes , desabamento no meio das obras, todos os elementos de uma obra “ com selo Brasil de qualidade”.

A história da construção desse viaduto que liga a grande Irajá a região de Jacarepaguá foi cercada por brigas, oportunidades de votos  e problemas pós construção, porém , sua trajetória como local de cultura e identificação com o bairro transcende gerações de moradores.

A minha primeira lembrança desse viaduto é quando meu pai trabalhava na antiga Telerj, na Barra da Tijuca. Saíamos de Vicente de Carvalho em direção a Cascadura e lá pegávamos o 755 Cascadura X Barra. Ele passava pelo viaduto, caracterizado pelos seus vendedores e pelo trânsito parado!

Nos anos 2000, cheguei a ir algumas vezes ao famoso baile charme do viaduto de Madureira, um verdadeiro patrimônio do bairro e da cidade, que desde 1993, traz alegria , cultura e mostra um pouco da cultura negra-suburbana! Mas a história é muito mais complexa que essa!

A ideia da construção do viaduto nasce em 1948  devido a uma reclamação constante do povo de Madureira. Antes disso, houve a eletrificação da estrada de ferro em 1932, com o número de trens por dia aumentou consideravelmente, o trânsito e a travessia pela cancela que existia ali ficou demorada e perigosa, para acessar a estrada Marechal Rangel – hoje Edgard Romero- era uma verdadeira luta e os acidentes ,constantemente relatados nos jornais de época. Infelizmente as obras iriam se iniciar oito anos depois em 1956, mas trouxe com ela muito problemas e brigas. È importante ressaltar que uma obra se iniciou em 1948, mas ela foi abandonada no mesmo ano , deixando um esqueleto incompleto largado para trás , esse mesmo esqueleto seria reaproveitado para as obras posteriores.

Como descrevi acima, as obras se iniciaram em 1956, porém já em 1954, o material para a construção do viaduto já estava lá pronto para uso e assim surgiu o primeiro problema: o roubo de materiais! Como deixaram boa parte do que seria usado para se iniciar e as obras demoraram a acontecer, uma parte desses objetos foi furtada, o que provocaria o aumento dos custos da obra, orçada em Cr$ 80 milhões de Cruzeiros até o presente momento. Fora esse problema, outro enfrentado foi o sumiço de Cr$ 5 milhões de Cruzeiros que do nada desapareceu dos cofres da obra. Uma investigação foi aberta, mas nada aconteceu.

Outro motivo de atrasos das obras foi a atuação direta do vereador Salomão. Apontado como o principal responsável por ter conseguindo a construção do viaduto, ele é apontado como benfeitor e malfeitor dentro de uma mesma esfera de sociedade. Salomão brigou com toda a câmara dos vereadores, brigou com o prefeito Edgard devido a mudança do traçado , brigou com deputados que pregavam a não construção do viaduto , chegou a organizar protestos com a população para não deixar parar as obras , uma pessoa bem atuante.


Mas Paulo, onde ele foi malfeitor?                                                                                         

Então, no início das obras, perto da onde seria construído o viaduto existia um grande comércio e casas de populares e , segundo reportagens de época, o poder público com presença dele , expulsou todos os moradores da região , sem negociar qualquer tipo de indenização . Outra acusação enfrentado pelo político foi  o desvio de verbas e materiais de construção, beneficiando amigos e familiares, essa denúncia foi feita por diversos jornais, mais acabou caindo no esquecimento completo .



Vinte seis anos depois ( POIS JÁ EM 1928 SE TEVE UMA TENTATIVA DE CONSTRUÇÃO), entre idas e vindas, finalmente o viaduto seria inaugurado no dia 22 de Setembro 1958. Na época foi considerado o maior viaduto da América do Sul feito com concreto , passou por várias administrações de prefeitos como Negrão de Lima e Adolfo de Almeida Aguiar. O viaduto começa na rua Padre Manso , atravessando por um elevado os leitos da Central do Brasil e Linha auxiliar, as ruas Carolina Machado e Carvalho Souza e termina na estrada Marechal Rangel ( atual Edgard Romero) na confluência com a rua Conselheiro Galvão . As obras foram um plano executado pelo Departamento de Estradas e Rodagens da Prefeitura e sua estrutura é formada por:

4 RAMPAS LATERAIS DE 1400 METROS

ÁREA PROJETADA 16.300 METROS QUADRADOS

AREA LIVRE DE 21.OOO METROS QUADRADOS PARA INSTAÇÃO DE PLAYGRAUND E JARDINS

E TEVE UM CUSTO TOTAL  DE cr$ 37.697.240,00, isso sem contar as outras verbas cedidas e desviadas.

Mas como tudo no  Brasil não é 100% confiável, menos de 15 anos de obra finalizada , o local já apresentava ferrugem das estruturas, rachaduras gigantescas nas laterais e vigas e diversos buracos nas calçadas e no asfalto , o que dificultava em muito a passagem .

Ainda em tempo e falando da obra, outro motivo de atraso foi as fortes chuvas que caíram na cidade em 1956.Parte da estrutura de pé desabou , ferindo operários e trazendo atrasos consideráveis para as obras .


O local também foi muito usado pela torcida do Botafogo ( anos 90) para saída de caravanas das torcidas organizadas em direção aos jogos, também já foi usado como local de moradia para diversas pessoas em condição de falta de moradia e também desfile, passarela do samba! Durante alguns carnavais, a Império Serrano desfilou pelo viaduto, mostrando todo sua alegria.

Hoje o viaduto está de pé, mostrando toda sua magnitude, já passou por diversas obras, tem uma estação do BRT, embaixo dele um intenso comércio informal, e o encontro de várias tribos da sociedade, convivendo de forma democrática nesse espaço, esse é o Viaduto Negrão e Lima, esse é o VIADUTO DE MADUREIRA!

 






 

 


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