quarta-feira, 18 de março de 2020

     O       RESERVATÓRIO ESQUECIDO !
Adicionar legenda
Adicionar legenda
Adicionar legenda

 Outro problema apontado na região da Leopoldina e grande Leopoldina é a falta de água. Em algumas regiões, a falta desse elemento essencial é constante. A população reclama que as contas chegam, mas a água não! Acabamos de sofrer com o problema da água suja, podre e sem condições de consumir, mas a ausência de água é registrada desde a época do surgimento do reservatório, mas isso iremos retratar mais para frente.

Será que um reservatório tão perto desses bairros esquecidos pelo poder público resolveria o problema de nossa localidade? Não há uma explicação plausível por parte da Cia. De àguas da cidade para explicar como parte de alguns bairros como Penha e Bráz de Pina falte água nos dias atuais. Mas onde está esse reservatório que nunca vimos Paulo?
FOTO PÁGINA PENHA RJ

Da Avenida Braz de Pina fica impossível ver o velho, porém para ter acesso ao local você deve ter disposição e uma dose de coragem, pois o local é dominado pelo tráfico. A Cedae é responsável pela manutenção e preservação do local, mas pelo que foi constatado, a muito tempo não aparece por lá, já que existe construções dentro do terreno do reservatório e constantemente é notado a presença de meliantes usando drogas no local. Subindo a Rua Lobo JR, acompanhando a calçada do hospital Getúlio Vargas. Seguindo pela rua ao dobrar para a esquerda vemos um muro bem longo prolongando pela rua Afonso Costa, apensar que o endereço dele aparece com rua Flora Lobo 306. O velho reservatório é tão esquecido que no mapa da Google não aparece identificado.

Acredite se quiser, mas o tal reservatório que se encontra em total abandono por parte do poder público e pelo descaso dos “guardiões da história”, ele é um bem tombado, na verdade é um tombamento provisório e bem antigo, é datado de 9/12/1998, o processo é : Processo de Tombamento: E-18/001.542/98, ou seja, desde 1998 , não se há uma posição concreta sobre o bem e como muitos monumentos que contam nossa história, o tempo e o tráfico vai destruindo esse bem maior do subúrbio. O órgão responsável pelo tombamento é o INEPAC – Instituto Estadual do Patrimônio Cultural.

Conjunto significativo de vinte e cinco equipamentos urbanos – caixas-d’água, reservatórios e represas – localizados nos municípios do Rio de Janeiro e Niterói. Este elenco de artefatos não é apenas uma amostra representativa do processo de evolução da captação, tratamento, armazenamento e distribuição de água nos dois municípios. É também um espelho da própria história da metrópole carioca, pois reflete, através da expansão dos sistemas, o processo de ocupação do território e o adensamento das áreas urbanas nos últimos 150 anos. Além disso, esses equipamentos são testemunhos da evolução tecnológica da engenharia nacional, tanto no âmbito das teorias da hidráulica, como do cálculo estrutural e das técnicas construtivas.


2- Contexto e Construção
Antes de falar da construção, preciso situar os leitores sobre as condições que a população local vivia e o porquê da necessidade da construção da grande “Caixa d’água”.

Os bairros em volta da linha de trem da Leopoldina forma surgindo no final do século XIX, início do XX. Claro que a presença de pessoas já era registrada, porém com o advento da república e a reorganização geográfica, foi se estabelecendo localidades onde o povo decidia construir sua vida. Um grande erro, ao meu ver, é ter atribuído o aniversário desses bairros aos surgimentos das estações de trem, que sim, ajudaram a expansão dos mesmos, mas não significa que foi um fator primordial para a chegada da população. Estou indo em contraponto a grandes pesquisadores que relacionam o surgimento dos bairros com a construções de suas estações. Foi um fator marcante, mas não decisivo. Um dos fatores que ao meu ver significou uma maior importância foi o preço e as facilidades das vendas de casas e terrenos, por um custo mais baixo, os antigos moradores foram atraídos pela tranquilidade do lugar e acesso fácil as praias (pouco ainda frequentada), pequenos portos e expansão do comércio, fora a facilidade que se tinha em comer um bom peixe, que era pescado nos rios da região.

Os loteamentos trouxeram pessoas, mas faltou o poder público entrar na “jogada” e ajudar na infraestrutura. As pessoas compravam lotes para construir suas casas ou compravam já feitas, mas o governo municipal no começo, não se preocupou com obras de infraestrutura, esgoto e encanamento de água, salvo algumas localidades onde o poder social da população era maior, lugar esse onde a classe média habitaria.

Usando como base dos estudos os bairros de Cordovil e Braz de Pina, a população dos anos 10 e 20 dessas localidades sofriam de mais com a falta de água, constante eram as reclamações e protestos nas ruas do bairro devido ao descaso. Muitos desses moradores usavam as águas do rio Arapogi e Irajá para tomar banho, beber água, se banhar e lavar suas roupas. 


LARGO DO BICÃO - ANOS 20


Mas uma ação conjunta entre o governo municipal e o Lobo Jr tentaria resolver esse problema. Toda a região do subúrbio carioca era abastecida por bicas públicas, bicas essas que eram responsáveis não apenas para salvar a vida das pessoas, mas para fornecer água para cavalos, meio de transporte muito usado em nossa região. A bica mais famosa ficava no Largo do Bicão e para se chegar nela você poderia ir pelo caminho do Quitungo ou pela estrada da Bica (Atual Braz de Pina).


CORONEL LOBO JR- FOTOS CEDIDAS PELOS FAMILIARES- fotos cedidas pelos familiares e melhorada por Cleydson Garcia

Na região da Penha, morava um homem de influência ímpar dentro do governo municipal, visto para muitos como benfeitor e amigo da comunidade, Lobo Jr sempre olhou para região com um olhar de progresso. Foi graças a ele que a Penha teve luz, asfalto, estação de trem, entre outros benefícios. Percebendo a falta de água, começou a trabalhar para essa realidade mudar. È importante ressaltar que o velho Coronel morava onde hoje está o parque Ary Barroso, local chamado de Chácara das Palmeiras, lugar esse com capela, campo de futebol, lugar para festas e uma grande área para plantio. O terreno onde fica o reservatório da penha foi desmembrado da chácara das Palmeiras no dia 08/08/1911, lembra quando eu disse que Lobo Junior trouxe água para a Penha?  Não foi apenas para Penha, esse reservatório abasteceu Bonsucesso, Ramos, Olaria, Penha, Brás de Pina, Cordovil e Vigário Geral. O reservatório foi inaugurado em 1914 e era considerado um verdadeiro marco da engenharia e uma inovação, pois usou uma técnica nova, o concreto armado, ele era totalmente descoberto, tinha forma tronco-cônica, dividido em dois compartimentos. Ao centro um grande poço cilíndrico com aparelhos de manobra com capacidade de 2.000 metros cúbicos d’água. O reservatório está na serra da misericórdia- hoje morro da caixa d’água- e ocupa uma área de 2.449,30 metros quadrados. Foi desativado no final dos anos 80.




Durante as obras houve um acontecimento, uma explosão vitimou um trabalhador. O senhor José Lourenço Fernandes foi vítima do seu próprio descuido ao manusear uma mina, ela explodiu levando o “infeliz”( termo usado pelo jornal da época) a ficar gravemente ferido e o mesmo foi removido para a Santa Casa, vindo a óbito dias depois.

È importante lembrar que o encanamento era totalmente em ferro e com o longo do tempo foi sendo substituído. A obra em sua totalidade demorou mais de 10 anos para ficar pronto, iniciou-se antes da compra do terreno em 1910 e foi concluída em 1927. A primeira água canalizada para o seu abastecimento foi do morro em Vicente de Carvalho, possivelmente águas da nascente do Irajá. Foram construídos linhas de abastecimento até a velha Praia do Galeão. O reservatório possuía também sistema de captação de água das chuvas. Informações essas tiradas dos “Annais da Câmara dos Deputados”.

Numa pesquisa recente, descobrimos que o reservatório abastecia também uma parte da Tijuca, Rio Cumprido, Andaraí, Santa Alexandria e Vila Isabel. Essa descoberta foi analisada após a leitura de uma reportagem do “Jornal do Commércio” do ano de 1921, onde a reportagem relata um rompimento da encanação devido à grande pressão e o cano que se rompeu foi justamente que fornecia água para essa região. 

3 – Os primeiros anos: problemas sem fins

O que era para ser solução, acabou se tornando um problema. Com a inauguração do reservatório e a captação de algumas nascentes para seu abastecimento, a população esperava que o problema não voltaria a assolar nossa localidade. Como a minha fonte de pesquisa se concentra entre Cordovil e Penha, irei me atentar mais sobre essas localidades, porém há registros dos problemas em toda a extensão da cobertura do reservatório.

Para detalhar o descaso do poder público com Cordovil, quando foi realizado as obras do reservatório e dos encanamentos que levaria água para os bairros, o único que foi negligenciado foi justamente o bairro. O cano que levava água passava perto do povoado e acabava em Vigário Geral. Em Braz de Pina tinha um pequeno ramal para a instalação de uma bica pública já pronta, do lado da antiga estação, que ficava de frente a rua Oricá. E essa reivindicação de colocar o bairro no circuito das águas foi um esforço de Vicente Piragibe, que solicitou essas obras várias vezes no ano de 1915, percebam, o reservatório foi inaugurado em 1914 e simplesmente ignoraram o povoado de Cordovil.
Em 1921, ouve um grande rompimento devido a pressão dentro da encanação, bairros como Penha, Ilha e Tijuca ficaram sem água potável durante um tempo. O poder público tentou agir rapidamente e usou carroças dos bombeiros para levar água para os moradores e interrompeu o abastecimento. Após ter resolvido o problema, o abastecimento no bairro de Cordovil foi fatalmente prejudicado, sendo alvo de muitas reclamações de seus moradores. Desse ano do acidente até 1931, o bairro ficou praticamente seco, a água chegava pouco e quando chegava não era o suficiente para as necessidades. 







Os rios eram bastante usados para o uso pessoal. O problema só foi “parcialmente resolvido “ depois da inauguração de uma Bica Pública em 1931, perto do Porto do Gama, mais precisamente na praça da Estrada do Porto Velho, do lado da Rua Ipameri.

FOTO DA BICA PÚBLICA 1931



Mas pelo que foi constatado não resolveu o problema. No ano de 1935 choveu reclamações dos moradores de Cordovil sobre as dificuldades de obter água, principalmente quem morava do lado contrário da Porto Velho. A petição por uma bica pública cresceu e o problema foi levado ao governo que, a princípio nada fez. 



1935- O POVO RECLAMANDO DA FALTA DE ÁGUA

Outro problema que apareceu no ano de 1928 foi a explosão de pessoas no subúrbio. Já nesse ano, o poder público já tinha percebido que o pequeno reservatório já tinha se tornado obsoleto, não em seu maquinário que ainda era avançado para seu tempo, mas ele já não conseguia suportar abastecer o número de pessoas. Segundo a Revista “Estrada de Ferro”, já morava na região, mais de 100 mil habitantes, e o reservatório não suportava esse número, pois ouve registro de vários rompimentos dos canos devido ao aumento de pressão para que se pudesse capitar mais água, levando ao esgotamento do cano e assim a seu rompimento. Uma grande obra só seria realizada no governo Lacerda, nos meados dos anos 60 e uma grande festa foi armada para a “Reinauguração “ do reservatório.





1963- REVITALIZAÇÃO DO VELHO RESERVATÓRIO FEITA POR CARLOS LACERDA 




4- Considerações finais
Quando o sistema de Guandu foi criado, todos os nossos reservatórios foram sendo desativados aos poucos e toda a água consumida pelos cariocas saem desse sistema. O problema que quando há uma crise hídrica como vimos esse ano com a água poluída ou com os reservatórios abaixo da capacidade, não temos um plano “b”, e se alguns desses reservatórios tivessem em pleno funcionamento, creio que o problema pudesse ver minimizado.







  




BIBLIOGRAFIA

10-    

FOTO DA PÁGINA PENHA RJ

Quando passamos pelo bairro da Penha circular, observamos grandes construções que saltam aos nossos olhos, ou pela sua magnitude ou pelo seu abandono. Hospital Getúlio Vargas, Viaduto João 23 e Parque Ary Barroso, todas essas construções convivem com o abandono do poder público e o descaso da população . Mas entre eles, temos um monumento que poderia contar muito a história do local. Logo acima do velho parque, existe um reservatório que foi responsável pela distribuição de água para vários bairros da região suburbana.

Entre a comunidade da Caixa d’água e o Parque, existe um reservatório desativado nos anos 80 que era responsável pelo abastecimento de água dos bairros de Vigário, Lucas, Cordovil, Brás de Pina, Penha, Ramos, parte da Vila da Penha e Ilha do Governador. Inaugurado graças a uma doação da família Lobo, foi uma solução e uma maldição para os moradores. Vamos conhecer essa relíquia da nossa região.

1-ATUALIDADE




A Penha Circular já apresentou números alarmantes enquanto a segurança pública, apesar de ter apresentado diminuição dos níveis de violência. Em 2011, segundo a revista “Exame”, a Penha circular era o 17 lugar no ranking de bairros mais violentos da cidade. Grande parte disso devemos atribuir ao complexo da Penha, mais precisamente na região dos morros da fé e Caixa D’àgua.




3 comentários: