UM VIADUTO E
SUA HISTÓRIA: O MAIOR DA AMÉRICA DO SUL NA CAPITAL SUBURBANA!
O governo gosta muito de construir viaduto em anos. O sonho
da construção do viaduto durou vinte e oito anos para acontecer. Assim como o
Ana Nery, já pesquisado por esse blog, a construção de Madureira levou anos
para ser concluído , com episódios de desvio de verba, expulsão de pessoas e
comerciantes , desabamento no meio das obras, todos os elementos de uma obra “
com selo Brasil de qualidade”.
A história da construção desse viaduto que liga a grande
Irajá a região de Jacarepaguá foi cercada por brigas, oportunidades de
votos e problemas pós construção, porém
, sua trajetória como local de cultura e identificação com o bairro transcende
gerações de moradores.
A minha primeira lembrança desse viaduto é quando meu pai
trabalhava na antiga Telerj, na Barra da Tijuca. Saíamos de Vicente de Carvalho
em direção a Cascadura e lá pegávamos o 755 Cascadura X Barra. Ele passava pelo
viaduto, caracterizado pelos seus vendedores e pelo trânsito parado!
Nos anos 2000, cheguei a ir algumas vezes ao famoso baile
charme do viaduto de Madureira, um verdadeiro patrimônio do bairro e da cidade,
que desde 1993, traz alegria , cultura e mostra um pouco da cultura negra-suburbana!
Mas a história é muito mais complexa que essa!
A ideia da construção do viaduto nasce em 1948 devido a uma reclamação constante do povo de
Madureira. Antes disso, houve a eletrificação da estrada de ferro em 1932, com
o número de trens por dia aumentou consideravelmente, o trânsito e a travessia
pela cancela que existia ali ficou demorada e perigosa, para acessar a estrada
Marechal Rangel – hoje Edgard Romero- era uma verdadeira luta e os acidentes
,constantemente relatados nos jornais de época. Infelizmente as obras iriam se
iniciar oito anos depois em 1956, mas trouxe com ela muito problemas e brigas. È
importante ressaltar que uma obra se iniciou em 1948, mas ela foi abandonada no
mesmo ano , deixando um esqueleto incompleto largado para trás , esse mesmo
esqueleto seria reaproveitado para as obras posteriores.
Como descrevi acima, as obras se iniciaram em 1956, porém já em 1954, o material para a construção do viaduto já estava lá pronto para uso e assim surgiu o primeiro problema: o roubo de materiais! Como deixaram boa parte do que seria usado para se iniciar e as obras demoraram a acontecer, uma parte desses objetos foi furtada, o que provocaria o aumento dos custos da obra, orçada em Cr$ 80 milhões de Cruzeiros até o presente momento. Fora esse problema, outro enfrentado foi o sumiço de Cr$ 5 milhões de Cruzeiros que do nada desapareceu dos cofres da obra. Uma investigação foi aberta, mas nada aconteceu.
Outro motivo de atrasos das obras foi a atuação direta do
vereador Salomão. Apontado como o principal responsável por ter conseguindo a
construção do viaduto, ele é apontado como benfeitor e malfeitor dentro de uma
mesma esfera de sociedade. Salomão brigou com toda a câmara dos vereadores,
brigou com o prefeito Edgard devido a mudança do traçado , brigou com deputados
que pregavam a não construção do viaduto , chegou a organizar protestos com a
população para não deixar parar as obras , uma pessoa bem atuante.
Mas Paulo, onde ele foi malfeitor?
Então, no início das obras, perto da onde seria construído o
viaduto existia um grande comércio e casas de populares e , segundo reportagens
de época, o poder público com presença dele , expulsou todos os moradores da
região , sem negociar qualquer tipo de indenização . Outra acusação enfrentado
pelo político foi o desvio de verbas e
materiais de construção, beneficiando amigos e familiares, essa denúncia foi
feita por diversos jornais, mais acabou caindo no esquecimento completo .
Vinte seis anos depois ( POIS JÁ EM 1928 SE TEVE UMA
TENTATIVA DE CONSTRUÇÃO), entre idas e vindas, finalmente o viaduto seria
inaugurado no dia 22 de Setembro 1958. Na época foi considerado o maior viaduto
da América do Sul feito com concreto , passou por várias administrações de
prefeitos como Negrão de Lima e Adolfo de Almeida Aguiar. O viaduto começa na
rua Padre Manso , atravessando por um elevado os leitos da Central do Brasil e
Linha auxiliar, as ruas Carolina Machado e Carvalho Souza e termina na estrada
Marechal Rangel ( atual Edgard Romero) na confluência com a rua Conselheiro Galvão
. As obras foram um plano executado pelo Departamento de Estradas e Rodagens da
Prefeitura e sua estrutura é formada por:
4 RAMPAS LATERAIS DE 1400 METROS
ÁREA PROJETADA 16.300 METROS QUADRADOS
AREA LIVRE DE 21.OOO METROS QUADRADOS PARA INSTAÇÃO DE
PLAYGRAUND E JARDINS
E TEVE UM CUSTO TOTAL DE cr$ 37.697.240,00, isso sem contar as
outras verbas cedidas e desviadas.
Mas como tudo no
Brasil não é 100% confiável, menos de 15 anos de obra finalizada , o
local já apresentava ferrugem das estruturas, rachaduras gigantescas nas
laterais e vigas e diversos buracos nas calçadas e no asfalto , o que
dificultava em muito a passagem .
Ainda em tempo e falando da obra, outro motivo de atraso foi
as fortes chuvas que caíram na cidade em 1956.Parte da estrutura de pé desabou
, ferindo operários e trazendo atrasos consideráveis para as obras .
O local também foi muito usado pela torcida do Botafogo (
anos 90) para saída de caravanas das torcidas organizadas em direção aos jogos,
também já foi usado como local de moradia para diversas pessoas em condição de
falta de moradia e também desfile, passarela do samba! Durante alguns
carnavais, a Império Serrano desfilou pelo viaduto, mostrando todo sua alegria.
Hoje o viaduto está de pé, mostrando toda sua magnitude, já
passou por diversas obras, tem uma estação do BRT, embaixo dele um intenso
comércio informal, e o encontro de várias tribos da sociedade, convivendo de
forma democrática nesse espaço, esse é o Viaduto Negrão e Lima, esse é o
VIADUTO DE MADUREIRA!
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